Há 10 anos, o Radiohead lançava In rainbows, álbum que se tornou um dos grandes clássicos dos anos 2000 e inspirou uma geração de jovens. O disco saiu de maneira independente e podia ser baixado pela internet pelo preço que os interessados desejavam pagar. Era 10 de outubro de 2007, a banda de Thom Yorke estava sem contrato com gravadora após o fim da parceria com a EMI em Hail to the thief, e desafiava a indústria fonográfica, que definhava. Disseram: “Ninguém vai comprar o álbum físico”. E erraram. In rainbows, quando chegou nas prateleiras, em 1º de janeiro de 2008, foi para o topo das paradas norte-americanas. Somente Kid A, o sucessor de OK computer, obteve o mesmo êxito.
Agora, 10 bandas indies brasileiras prestam homenagem ao álbum, cada uma gravando uma faixa ao seu estilo, mas dialogando com o original. Br rainbows é uma proposta de releitura para celebrar a década do disco que mudou o jogo em diferentes frentes. A proposta é do músico e produtor Kelton, que reuniu os artistas para recriarem, em um ambiente livre, cada uma das faixas quentes do Radiohead.
Ele convocou um time de impacto do indie nacional para o duro trabalho de reconfigurar o Radiohead: Bratislava (ficou com a música 15 step), Peartree (com Bodysnatchers), Tuyo (com Nude), Aloizio e a Rede (com Weird fishes/Arpeggi), Supercolisor (com All I need), Amnesiac Kid (com Faust arp), Zéfiro (com Reckoner), ele, Kelton (com House of cards), Guaiamum (com Jigsaw falling into place) e Diego Marx (com Videotape).
Br rainbows é uma viagem afetiva. Victor Meira, da Bratislava, por exemplo, “entrou no Radiohead” por esse álbum. É do grupo a abertura do álbum, com a única, corajosa e viciante versão para 15 step em português. “Parece que todas as minhas lembranças dessa época têm o In rainbows como trilha sonora”, conta.
“Não é surpresa dizer que Radiohead estimula o apetite, a gana de ter banda, de ser banda para quem ‘adolesceu’ em algum momento dos anos 2000?”, diz Lio Soares, da Tuyo, que reconfigurou as sensações de Nude a partir da estética própria deles. “A relação com essas canções é primordial para Br Rainbows. Weird fishes é a minha música preferida da vida e com uma das frases que sempre quis tatuar: ‘I hit the bottom and escape’”, diz Aloizio, de Aloizio e a Rede.
A liberdade para brincar com as canções do Radiohead criou momentos memoráveis justamente por isso. Os ingleses formam uma banda que se desconstrói e se desconfigura a cada álbum, favorecendo essa inventividade, afinal. A Peartree, por sua vez, optou por seguir um caminho mais fabril. Sua versão de Bodysnatchers brinca com o industrial ao diminuir as BPMs da canção e engrandecer as pontes que levam para o refrão que nunca vem.
Kelton fez de House of cards um quase country saboroso, enquanto Guaiamum optou por trazer climas sombrios e amenos para Jigsaw falling into place.
Ouvir Br Rainbows é como assistir a crianças brincarem em um parque de diversões. Ou melhor: como ver adultos crescidos liberados para brincar como quiserem no parque de diversões que frequentaram tantas vezes na infância. Portanto, vamos deixá-los brincar.