BaianaSystem aposta na experimentação e na mistura de ritmos

Shows que têm empolgado o país evitam roteiro fechado, reforçando a interação com o público e a improvisação

Adriana Izel
Criada em Salvador, a banda BaianaSystem chamou a atenção com o disco Duas cidades - Foto: Jair Magri/divulgação

Desde o ano passado, com o lançamento do álbum Duas cidades, a banda BaianaSystem ganhou destaque no mundo da música. Com 12 faixas, o disco chamou a atenção para o grupo formado por Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass.

A dificuldade em definir o estilo da banda é um dos principais atrativos do coletivo. O grupo bebe de diversas fontes: a cultura da Bahia, com a presença da guitarra baiana, a África, por meio da percussão, e a Jamaica, com os sistemas sound system. O discurso politizado é outro ponto de destaque.
'O discurso político nos influencia como artistas, no que fazemos e em como circulamos' - Foto: Roberto Barreto/Facebook
Este ano, a banda brilhou. As performances do BaianaSystem nos festivais Lollapalooza e Rock in Rio foram consideradas as melhores dos dois eventos. Em BH, não foi diferente no Giro Brasil e Música para Durar. No Porão do Rock, em Brasília, o coletivo pôs todo mundo para dançar, mesmo sob forte chuva. Nesta entrevista, o guitarrista Roberto Barreto explica a forma de trabalho da banda foi criada há oito anos, em Salvador.

O que vocês pensaram ao criar o conceito BaianaSystem?
BaianaSystem surge com a ideia de trazer um ambiente e um trabalho com a guitarra baiana.
Por isso o nome, que vem da guitarra baiana com o system. É a cultura de fazer na rua, de ter bases produzidas e músicas sendo tocadas em cima daquilo. Então, dentro dessa cultura de sound system, começamos usando a guitarra baiana, que deu origem aos trios elétricos aqui na Bahia. Também tem toda uma coisa visual já embutida. A ideia inicial já veio muito agregada a imagens e a ilustrações. A partir disso, fomos para a experimentação.

Há dificuldade de definir o estilo da banda. Como você o definiria?
Não tem como. Não definimos. E nem tem porque definir. Você, ao se definir, fica limitado, acaba criando amarras. Nos últimos anos, temos mais elementos de rock. A formatação mudou um pouco. A guitarra entrou com a guitarra baiana e isso deu outro peso.
A própria postura e a forma do show transitam muito como um show de rock. Em alguns momentos, a coisa do reggae fica mais clara, em outros a música mais afro-percussiva e baiana fica mais forte.

Os shows do BaianaSystem têm sido considerados os melhores do Brasil. Como vocês recebem os elogios?
Para quem está no meio do processo, fica meio difícil identificar isso. Muitas vezes, temos um lado de dualidade. Ficamos felizes em receber esse feedback. Ao mesmo tempo, nos dá uma responsabilidade muito grande no sentido de fazer com que aquilo fique melhor, que não fique parado. Deve haver uma mobilidade para que o nosso show possa evoluir. Talvez o que temos de mais forte seja a interação. O nosso show muda muito de acordo com o público, com o lugar em que estamos tocando, com a resposta. Isso é muito verdadeiro e muito claro pra quem está lá.
Não teria como funcionar se tivéssemos roteiro fechado. Temos um desenho e algo pré-definido, mas muda muito. É muito vivo e experimental. Acho que isso traz uma verdade, além de ser um show muito dançante. Tudo isso traz realidade para as pessoas.

As músicas de vocês têm um discurso politizado. Qual é a importância de tocar em temas importantes para o país?
Eu não diria que (isso ocorre) sempre. Fazemos músicas que abordam outros elementos. O Russo, que escreve as letras, tem essa coisa de observar o cotidiano e fazer meio que crônicas do que ele está vivendo. Mas, neste momento que estamos vivendo, é inevitável tocar nesses assuntos. Hoje, o que perpassa todo o discurso da sociedade é justamente um posicionamento político e social, o que acaba influenciando. Não são coisas dissociadas. O discurso político nos influencia como artistas, no que fazemos e em como circulamos. Esse assunto é o grande tema hoje – de todos. Não tem como você não falar nisso. Mas fazemos sem que seja uma bandeira ou compromisso, fazemos simplesmente para as pessoas pensarem. Essa tem sido a tônica nos nossos dias, o que acaba se refletindo na nossa música.

Compara-se o BaianaSystem com a pernambucana Nação Zumbi, pioneira do manguebeat. Como você vê essa comparação?
Eu não usaria a palavra comparação. Acho que é mais ter uma relação com o que a Nação simboliza e representa para a cultura pernambucana. Os símbolos que eles usam e a forma como juntam elementos tradicionais com o pop, o rock e o hip-hop. A relação e o olhar deles para dentro e a força para a cultura natural. De certa forma, é isso que o Baiana vem fazendo. A relação com o carnaval, com a percussão afrobaiana, com a guitarra baiana e com os elementos de rua da Bahia dialogando. Nesse sentido, vemos uma ligação e ficamos honrados de as pessoas enxergarem isso. Temos uma relação próxima com eles, fizemos shows e algumas coisas juntos. É uma honra e uma responsabilidade sermos comparados com a Nação Zumbi.

Em 2016, vocês lançaram o elogiado disco Duas cidades. A banda já está trabalhando em algum novo projeto?
Sempre estamos gravando coisas e produzindo. Faz parte da nossa forma de trabalhar. Mas vamos deixar as coisas amadurecerem por elas mesmas. Provavelmente, em 2018 devemos lançar um disco, porque estamos com bastante material. Mas seguimos fazendo os shows do Duas cidades, no meio disso tem o carnaval e as colaborações com outros artistas. Estamos da mesma forma que começamos: trabalhando, produzindo e pensando as coisas, juntos e separados.
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