A imagem na capa de Estratosférica ao vivo é simbólica. O fotógrafo Marcos Hermes flagra Gal Costa no palco, com a mão ao alto exibindo o chifrinho de heavy metal, e, no mesmo momento, alguém da plateia ‘responde’ no mesmo gesto. Nesse projeto, Gal está essencialmente rock. E que poderosa roqueira.
Estratosférica ao vivo foi lançado em DVD e CD, mas, sem desmerecer o formato álbum, esse projeto é para ser visto e ouvido. Gal fala da foto, feita na introdução de um de seus sucessos, Cabelo. “Essa música, eu gravei no Plural (disco de 1990), mas o arranjo dela é bem heavy metal”, diz Gal, à reportagem.
O projeto foi gravado na Casa Natura Musical, em São Paulo, com direção-geral de Marcus Preto e produção musical de Pupillo, do Nação Zumbi, diante de uma plateia lotada e generosa. Afinal, quem foi à apresentação sabia que se tratava da gravação de um DVD e, portanto, repetições de músicas eram necessárias. Por causa das regravações, o show foi se estendendo e o público, ficando.
O roteiro do show tem como base, claro, o ótimo disco Estratosférica (2015), mas agrada em cheio com o acolhimento de canções como Cartão postal, de Rita Lee e Paulo Coelho, de 1975, e Os alquimistas estão chegando, de Jorge Ben Jor, ambas até então inéditas na voz de Gal.
Já Jorge Ben Jor está presente na obra de Gal desde o primeiro disco solo dela, de 1969, com a música Deus é o amor, quando ele ainda era Jorge Ben – e como Gal ainda chama o amigo. “Amo ele como compositor, como pessoa, gravei muitas músicas dele e Alquimistas é uma música bem a minha cara, parece muito com as coisas que penso.”
Camelo Apesar de boa parte do repertório e dos arranjos exaltarem a Gal rock’n’roll, há lugar para a bossa no show – e no coração dessa baiana apaixonada pela obra do cantor João Gilberto.
Há um momento especial na apresentação, quando ficam no palco apenas Gal, um banquinho e um violão. Ali, ela lembra de quando conheceu Caetano Veloso, cantou para ele Vagamente, e se conectaram de imediato pela admiração em comum por João Gilberto. Ele, então, decidiu ensiná-la uma música dele, Sim foi você. É a música que ela canta e toca no seu violão. É uma forma de homenagear Caetano.
Conversou com Caetano depois que o amigo sofreu ataques de conservadores, que o acusaram de pedófilo? “Não falei, não, mas acho muito bem que eles (Caetano e a mulher, Paula Lavigne) processem, porque não se pode falar das pessoas com essa falta de respeito e essa falta de responsabilidade. As pessoas têm que ser responsáveis e respeitar um ao outro, não se pode destilar veneno assim”, responde ela. “É um momento muito estranho este que estamos vivendo, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Há uma tendência muito ruim da parte das pessoas de intolerância, que chega à censura. A censura não vem só de cima, vem também das pessoas.”
Atualmente, Gal está em turnê como o show Trinca de ases, ao lado de Gilberto Gil e Nando Reis. Acabou de voltar de Portugal, onde fez shows. Por ora, Gal está trabalhando no repertório do novo disco de inéditas, que começa a ser gravado no final do ano. “Está bem no comecinho, temos poucas canções, já pedi canções a muita gente.” Algum compositor da nova geração que está no seu radar? “Sim, quero fazer um lance no estilo que essa pessoa compõe, mas não vou dizer, não... (risos). Senão, vai perder a graça.” (Estadão Conteúdo)
ESTRATOSFÉRICA AO VIVO
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. Biscoito Fino
. R$ 56,90 (DVD) e R$ 54,90 (CD duplo).