Letrux celebra a fossa amorosa e a sexualidade feminina em seu disco de estreia

Letícia Novaes, nome por trás do projeto, chega a BH neste sábado (25) para duas apresentações - uma delas tem ingressos esgotados

por Guilherme Augusto* 24/11/2017 09:03

Ana Alexandrino/Divulgação
'Acho estranho pessoas que são só engraçadas ou só 'profundonas'. Gosto de transitar por esses dois lados', diz a cantora Letícia Novaes, que assumiu o nome Letrux em seu primeiro álbum solo. (foto: Ana Alexandrino/Divulgação)

“A gente só nasceu porque duas pessoas fizeram sexo”, diz, com naturalidade e indignação, Letícia Novaes, nome por trás do projeto musical Letrux. Para ela, essa condição do ser humano é banal e não deveria ser tratada como tabu, o que está bastante claro nas músicas do recém-lançado disco Letrux em noite de climão, cujas 11 faixas tratam da sexualidade feminina de forma abrangente e sem pudores, além de expurgar os enganos da vida amorosa. Neste sábado (25), ela chega a BH para lançar o trabalho em duas apresentações n’A Autêntica – uma delas tem os ingressos esgotados.

“Abordar a sexualidade nem foi uma coisa proposital, provocativa. É algo natural e faz bem às pessoas”, diz ela, que se revolta com as polêmicas envolvendo obras de arte com representações sexuais, como a que levou à suspensão da mostra Queermuseu – Cartografias da diferença na arte brasileira, em Porto Alegre. “Tenho até vergonha de pensar nessas coisas que aconteceram”, diz.

 

 

Apesar de estar inserido em outro contexto, o álbum dialoga diretamente com essas questões e não se limita quanto a quem as músicas são endereçadas. O eu lírico fala tanto para homens quanto para mulheres. “Sendo mulher, não tenho como não abordar a feminilidade. E sou feminista. Nesse disco, não me baixou nenhuma música de protesto, mas, sendo o que sou, não tem como ser diferente. Meu trabalho fala por si.”

Embora Letrux em noite de climão seja seu primeiro álbum solo, não é a primeira incursão da cantora no meio musical. Letícia Novaes fez parte do indefinível duo Letuce, ao lado de Lucas Vasconcellos. “Desde 2015, que foi quando a gente se separou, tive muita vontade de fazer outros projetos. Só que, para mim, nunca fez sentido lançar um trabalho solo assim, logo de cara. Eu precisava de uma pausa para especular”, conta. “Quando surgiu o primeiro lampejo, me veio a ideia de criar uma personagem. Estava muito excitada em mergulhar num universo completamente diferente, mais soturno. Então me veio esse ‘climão’, que é a névoa em que a gente enxerga tudo, mas não vê nada”, completa.

PERSONA Letrux, logo, é uma persona, conforme define Letícia. “Ela pensa, sofre, sente, mas ela segue. Principalmente, ela vive uma fossa gozosa”, descreve. A cantora diz ter uma forte atração pelo tragicômico, o que aparece em letras debochadas e até mesmo em seu jeito teatral de cantar. “Acho estranho pessoas que são só engraçadas ou só ‘profundonas’. Gosto de transitar por esses dois lados.”

Como boa personagem, Letrux reúne outros arquétipos que representam os parceiros de Letícia Novaes, Arthur Braganti e Natália Carrera, responsáveis pela produção do disco. “Todo o processo foi uma grande aula de escuta e tolerância. Nós três somos muito diferentes, então acho que isso deu um toque a mais para o disco”, explica. Marina Lima, convidada ilustre, canta com a artista na faixa Puro disfarce.

Letrux em noite de climão incorpora referências diversas, que vão desde a música eletrônica dos anos 1980 ao funk melody atual. É pop e, ao mesmo tempo, experimental, pautado na imprevisibilidade, quando Letícia associa instrumentais sofisticados e modernos com letras trash de quem não tem vergonha de se expor. A fórmula deu certo e o retorno veio em forma de shows esgotados e um prêmio inesperado. Em outubro, o trabalho foi eleito o melhor disco do ano pelo júri especializado do Prêmio Multishow, desbancando Chico Buarque e o rapper revelação Rincon Sapiência.

Ao comentar a vitória, Letícia não esconde sua veia cômica. “Eu não esperava. Jamais ganhei alguma coisa na vida, só um prêmio num curso de espanhol”, diz, aos risos, para logo se lembrar do significado dessa conquista: “É muito importante que uma mulher vença a categoria de melhor disco”. Do alto de seu 1,85m e com disposição para performar suas músicas autorais com direito a danças e figurino imponente, Letrux diz a que veio e promete não “passar batida na festinha”, como ela mesma canta.

*Estagiário sob supervisão de Silvana Arantes


Abaixo, confira o single Que estrago: 

 

 


Letrux em noite de climão
•  Artista: Letrux
•  Gravadora: Tratore
•  Preço sugerido: R$ 29,90

 



LETRUX
Pocket show e meet & greet no sábado (25), às 16h, n’A Autêntica (Rua Alagoas, 1.172, Savassi,  (31) 3654-9251). Ingressos: R$ 40, à venda no site www.sympla.com.br. O show das 22h, com participação de Luiza Brina, Julia Branco e DJ Peixota, tem ingressos esgotados.

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