SUELEN CALONGA/DIVULGAÇÃO - Foto: SUELEN CALONGA/DIVULGAÇÃO

Existem várias maneiras de superar traumas pessoais. A encontrada pelo músico mineiro Siso é compor e cantar. O resultado está em seu disco de estreia, Saturno casa 4, lançado neste mês nas plataformas digitais, no qual ele exorciza ‘demônios’ da infância com bom humor. “Esse disco é bastante pessoal. Traz questões mal resolvidas da minha infância, além de falar de uma busca que está traduzida no próprio nome”, explica o artista de 29 anos, que atualmente mora em São Paulo.

Saturno casa 4 é um conceito da astrologia associado à rigidez e às origens. “Este é o planeta da sabedoria e a 4ª casa é a família, as cobranças e os questionamentos”, explica. “Tudo isso eu abordo de uma maneira com a qual qualquer um pode se identificar”, diz.

Embora esse seja seu disco de estreia, o mineiro tem uma história com a música que vem de muito antes. Ele conta que subiu ao palco pela primeira vez aos 10 anos. “Foi no Teatro Francisco Nunes, para se ter uma noção da responsabilidade. Depois disso, formei várias bandas, toquei n’A Obra, no Matriz, lancei alguns trabalhos que até ganharam uma certa projeção local”, afirma, ao relembrar a época de adolescência. “Em 2014, tive a oportunidade de morar por um tempo na França e, lá, mudei a abordagem do meu trabalho e acabei escolhendo esse nome”.

MATURIDADE
David Dines, que agora usa o nome artístico de Siso, explica a escolha: “Veio do próprio dente mesmo e está relacionado a uma maturidade meio questionável. O siso é um dente vestigial, perdeu sua função, é passageiro em nossas vidas. Então, decidi colocar isso em relação à própria ideia de música pop, que as pessoas presumem ser descartável”. O EP de estreia de Siso se chama Terceiro molar (2016).

Apesar de terem para seu autor a carga emocional e conceitual que ele cita, as músicas presentes em Saturno casa 4 tendem mais para melodias dançantes e misturas de estilos como charm e funk melody do que para a melancolia. Na faixa de abertura, Tentação, por exemplo, Siso mistura noções religiosas com memórias do tempo de estudante. “A escola pode ter alguma coisa de prisão, algo de jaula/ E a cada aula, se paga a redenção”, canta ele, logo antes do refrão, que adquire a forma de uma oração em si (Vigiai meus tropeços e/ Não deixeis cair em tentação/ O sucesso e o fracasso/ Grande parte é só percepção/ Livrai-nos de todomal e/ Não deixeis cair em tentação).

Ele aborda com ironia dificuldades financeiras na faixa Poucos reais, cujo instrumental relembra a música brega. Em 198 centímetros – sua versão para 185 centímetros, de Letícia Novaes – brinca com sua própria altura. “Conheci essa música em 2015 e, quando a ouvi, pensei que precisava gravar, porque ela brinca com as agruras que as pessoas altas passam. E um drama meio na ‘zoeira’.”

Também ao lado de Letícia, que no palco assume o nome Letrux, Siso divide a música O amor é 1 arma de destruição em massa. “Logo que compus essa música, pensei em uma parceria. E o meu trabalho dialoga muito com o dela, tem essa coisa de rir do trágico”, comenta ele sobre a parceira, que ainda traz trechos de poemas da autora francesa Anaïs Nin (1903-1977).

Nesse primeiro trabalho, Siso mostra que soube resgatar as memórias do passado e colocá-las em uma linguagem contemporânea. Seu som mostra um parentesco com o de artistas como Jaloo e Banda Uó. Longe de casa há três anos, ele deve retornar a BH para o show de lançamento do disco, no início de 2018.


SATURNO CASA 4
Artista: Siso
Gravadora: Independente
Disponível nas plataformas digitais

 

*Estagiário sob supervisão de Silvana Arantes

.