Show histórico com pioneiras do pop mineiro pode voltar a ocorrer em 2018

Apresentação reuniu Skank, Pato Fu, Tianastácia e Jota Quest no palácio das artes para mutirão afetivo

Mariana Peixoto

Rogério Flausino, Fernanda Takai, Podé Nastácia e Samuel Rosa celebraram a música e a amizade, no Palácio das Artes. - Foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS

Em 1990, quando a banda Pouso Alto acabou, Samuel Rosa e Henrique Portugal buscavam integrantes para um novo grupo. Os dois colegas na agora ex-banda seguiram outros rumos. O baterista Dinho Mourão viajou para a Inglaterra e seu irmão, o baixista Alexandre Mourão, foi estudar veterinária em Alfenas. Chegando lá, conheceu os irmãos Rogério Flausino e Wilson Sideral, que procuravam um novo baixista para seu próprio grupo, o Contato Imediato. Numa das vindas a BH para shows do Contato Imediato, Alexandre disse aos irmãos de Alfenas que eles deveriam ver a banda de um amigo.


“Foi numa festa em que Samuel e banda estavam abrindo para um cara chamado Bauxita. Quando vi os shows, falei: ‘Sideral, olha esses caras. A gente tem que dar um jeito de mudar pra cá.’ Ainda tinha que terminar a faculdade de computação. Assim que acabei, arrumei um estágio e vim.

Já na primeira semana em BH, vi no jornal que o Skank tinha assinado com a Sony Music”. É dessa maneira que Flausino se lembra daqueles tempos, quando, aos 18 anos (Sideral não tinha mais que 15), ouviu o futuro Skank pela primeira vez.

 

 

Histórias como essa vieram à tona na noite de segunda-feira, 06, quando o Palácio das Artes lotado assistiu a um encontro raro. Pela primeira vez, as principais bandas de BH da geração 1990 – Skank, Jota Quest, Pato Fu e Tianastácia – se apresentaram juntas.

A canção O sol (Antônio Júlio Nastácia), que encerrou a noite, levou os quatro grupos para o palco numa espécie de “We are the world mineira”. A reunião teve motivo nobre: arrecadar fundos para a Associação Querubins, entidade sem fins lucrativos que oferece oficinas de arte e educação para crianças e jovens da Vila Acaba Mundo, no Sion. A entidade foi criada há 23 anos por Magda Coutinho, mãe de Podé, vocalista do Tianastácia.

CORRENTE A noite cheia de afetos, “uma grande corrente do bem”, como definiu Magda, antecipou as comemorações dos 120 anos de Belo Horizonte. “É a geração das bandas que fizeram a opção de não deixar BH. Isso foi importante tanto para a formação de outros grupos quanto para a própria arte”, comentou Fernanda Takai, que, a exemplo de Flausino, não nasceu na cidade – é de Serra do Navio, no Amapá.

Montar a árvore genealógica do período é algo complicado, pois há muitas interseções no caminho. Skank é a mais velha, com 26 anos; Tianastácia, a caçula, tem 21. O registro embrionário dessa geração está na coletânea Rock forte, lançada em 1987 pelo selo Plug. Participaram do LP cinco grupos, entre eles o Pouso Alto (criado na década de 1980 como The Waffers) e o Sexo Explícito, que tinha John Ulhoa, do Pato Fu, como um dos integrantes.

Enquanto o Pouso Alto fazia shows na noite de BH, Haroldo Ferretti, futuro baterista do Skank, tocava com Márcio Buzelin e Marco Túlio, respectivamente, tecladista e guitarrista do Jota. O baixista Beto Nastácia, que formou o Tianastácia com o irmão, Antônio Júlio, lembra-se de que os dois também tocavam, “meio de brincadeira”, com Marco Túlio e Buzelin.


À exceção do Tia, que só mantém os dois irmãos da formação original, as outras bandas continuam como foram criadas (o Pato Fu já trocou de baterista e tecladista, mas nasceu como um trio – Fernanda, John e o baixista Ricardo Koctus, juntos até hoje). Ainda que haja pequenas trocas de integrantes, pelo menos um passou por duas bandas: Glauco Mendes. Atualmente no Pato Fu, ele já foi um “Nastácia”.

O Skank é, desde 1993, contratado da Sony Music.

E foi o empresário da banda, Fernando Furtado, quem levou o Jota para a mesma gravadora, três anos mais tarde. O Skank também ajudou o Pato Fu a assinar com uma gravadora, a extinta BMG. Pato Fu e Tianastácia são, há muitos anos, bandas independentes, mas continuam mantendo laços com os outros grupos. As carreiras de Pato Fu e Jota Quest são administradas pelo mesmo escritório, a Malab Produções.

Um dos maiores sucessos do Jota, O sol (também gravado por Milton Nascimento), foi descoberto quando Tianastácia fez o registro original da canção, em 2003. Flausino se lembra da banda gravando a faixa no estúdio Minério de Ferro (do Jota) – naquele momento, o grupo teve a ideia de gravá-la.

NOVO SHOW Depois da experiência desta semana, as bandas já falam na reedição do encontro em 2018, também em caráter beneficente. Poderia ser um show maior, com a participação de outros grupos, de outras gerações.

“Em outros lugares (como o Recife dos anos 1990, com o mangue beat), houve um movimento. Mas aqui, não. Estamos todos aqui até hoje porque a gente gosta de música, gosta do que faz. O público de Minas também nos ajudou muito. Somos da geração oriunda de uma época em que a indústria fonográfica ajudava muito”, analisa Henrique Portugal.
Mesmo sem movimento formal, essa geração mineira abriu caminho para o mercado de produção “de roadies, técnicos de som e profissionais ligados à arte”, conclui o tecladista do Skank.

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