Em Cântico brasileiro nº 3, a cantora e compositora Maria Rita Stumpf anuncia a luta dos camaiurás pelo direito à terra e à voz. O canto em defesa da etnia indígena que habita parte do Xingu, no Mato Grosso, foi gravado no estúdio Bemol, em 1987, no LP Brasileira, com a participação do Uakti. A música foi reconhecida na época, mas, depois de lançar esse e mais um disco (Mapa das nuvens), entre 1980 e 1990, Maria Rita deixou os palcos. Agora ela está de volta, depois de a canção em homenagem aos camaiurás ser resgatada por DJs europeus que colecionam vinis raros.
Foi sem o conhecimento de Maria Rita que a canção entrou para o set não apenas de DJs europeus, mas ganhou pistas também na África e na Ásia. Produzido há 30 anos, o trabalho renasceu e agora será relançado pelo selo Selva Discos. Belo Horizonte foi a cidade escolhida pela cantora para o show de relançamento do vinil Brasileira. A única apresentação será nesta quarta-feira, 1º de novembro, às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec.
“Primeiro, foi um estranhamento saber que meu LP era encontrado até no Japão. É muito louco, mas resolvi aceitar”, diz Maria Rita. Embora o LP tenha sido gravado no estúdio Bemol, que fica na capital mineira, é a primeira vez que ela se apresenta na cidade.
A notícia de que a canção era sucesso em festas em todo o mundo foi trazida a Maria Rita pelo DJ hispano-inglês John Gómez. Colecionador de vinis raros, ele foi um dos que garimparam e deram visibilidade a Brasileira. “Ele me contou que o LP chegou a ser vendido por 2 mil euros. Como ficou fissurado no LP, na época, comprou nove e presenteou os amigos”, conta Maria Rita. O interesse era tanto que John Gómez produziu a coletânea Mucic from memory, com composições brasileiras dos anos 1980 e 1990, que não tiveram o sucesso devido na época.
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BUSCA O selo Selva Discos, responsável pelo relançamento do vinil de Maria Rita, pertence aos DJs brasileiros Millos Kaiser e Augusto Tepanado. “São muito conhecidos na Europa e tocavam a minha música, mas não conseguiam me achar. Como no LP não tem meu sobrenome, quando faziam a busca sempre chegavam à Maria Rita filha de Elis e César Camargo Mariano”, conta. O encontro com Millos se deu de maneira inesperada, quando o DJ descobriu que seu pai trabalhou com Maria Rita Stumpf no período em que ela manteve a Antares Produções. “O pai dele foi diretor técnico de espetáculos de dança que trouxe para o Brasil, e só depois de muito tempo ele se deu conta disso.”
Brasileira contém 12 músicas originais e mais duas que Maria Rita compôs a partir de poemas de Mario Quintana: Canção de garoa e Canção de barco e de olvido. Maria Rita tem parceria com o Uakti (Cântico brasileiro nº 3) e com o maestro Luiz Eça (1936-1992) em Cântico Brasileiro nº 6. Também gravou com o multi-instrumentista Ricardo Bordini. “Defino minha música como primitivo sinfônico, com muita percussão, mas com um olhar orquestral”, diz. Nascida em Jaquirana, no Rio Grande do Sul, Maria Rita avalia que tem pouca influência da música dos Pampas. A curiosidade musical conectou-a com a música de Bali, na Indonésia, e da África.
Brasileira
Show de relançamento do LP de Maria Rita Stumpf. Amanhã (1º de novembro), às 20h, no Tetro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec (Avenida Amazonas, 315, Centro). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Mais informações: (31) 3201-5211.