Arthur Nogueira traz seu 'zeitgeist' a BH e apresenta o disco 'Rei ninguém'

Obra do cantor paraense é marcada pela união entre música e literatura, além de acumular parcerias com Gal Costa, Antonio Cícero e Fafá de Belém

por Guilherme Augusto* 20/10/2017 09:02

Ana Alexandrino/divulgação
Cantor se apresenta nesta sexta, 20, n'A Autêntica. (foto: Ana Alexandrino/divulgação)

Nascido em Belém do Pará e radicado em São Paulo, Arthur Nogueira funciona como uma espécie de zeitgeist quando está compondo. “Gosto das possibilidades que a tecnologia oferece à produção musical”, explica. No entanto, em seu recém-lançado disco Rei ninguém, ele decidiu abandonar o que havia feito em trabalhos anteriores e se aproximar de algo mais “orgânico” e “natural”. “Entendi que era o momento de percorrer novos caminhos, ainda que ligados à minha história e ao começo da minha relação com música”, explica.

Durante a produção, ele se reaproximou da música brasileira e de memórias da infância, o que se deu pela proximidade com os compositores Zé Manoel e Filipe Massumi. “Veio a vontade de montar banda e gravar ao vivo. O disco foi produzido assim, durante imersão de cerca de uma semana. É engraçado, porque esse processo é radicalmente diferente de como fiz meus dois últimos trabalhos”, conta Arthur.

Sem medo nem esperança (2015) e Presente (2016) são marcados por sons sintéticos e pela voz expressiva do cantor. O primeiro teve a faixa título regravada no álbum Estratosférica (2015), de ninguém menos que Gal Costa. O segundo, com uma série de releituras de Antonio Cicero, rendeu a Nogueira a chance de trabalhar com o poeta em duas canções inéditas. No caso de Rei ninguém, a coleção de parcerias memoráveis ganhou mais um nome: a conterrânea Fafá de Belém, na faixa Consegui.

“No Brasil, muitos poetas também escrevem letras de música. A dissolução das fronteiras entre essas duas artes me encantou e motivou, durante a adolescência, a compor e cantar”, conta Arthur Nogueira, ao comentar sua proximidade com a literatura – tanto em seu grupo de amigos quanto em relação às letras de canções. Apesar disso, o paraense não se considera poeta: “Não escrevo poemas, escrevo letras de música. Na verdade, música é quase um pretexto para estar mais próximo dos poetas e para ser um pouco poeta.”

DYLAN Entre os destaques do novo disco está Vou ficar tão só se você se for, versão de You gonna make me lonesome when you go, lançada em 1975 por Bob Dylan. Há também Moonlight, escrita depois de uma sessão do longa de Barry Jenkins, vencedor do Oscar de melhor filme, gravada com Zé Manoel.

Nesta sexta-feira, 20,, Arthur promete tocar as 10 faixas de Rei ninguém. “Também vou mostrar canções de meus outros trabalhos, como Onda (parceria com Antonio Cicero), e a releitura da versão de Augusto de Campos para Sophisticated lady, do Duke Ellington”, adianta.

Em meio a tanta calmaria, tal como em sua música, ele guarda opiniões fortes. Ao comentar a polêmica envolvendo censura a obras de arte, Arthur é categórico: “Isso é resultado do conservadorismo que assola o Brasil e faz com que determinados políticos possam ter espantosa estimativa de votos para as eleições de 2018”. E vai além: “Não apoio nenhum tipo de censura. Considero a arte fundamental para a existência humana. Como dizia Nietzsche, ela é a complementação e o perfeito remate da existência que seduz a continuar vivendo.”

 

Abaixo, confira a faixa Consegui, gravada com Fafá de Belém: 

 

ARTHUR NOGUEIRA
Sexta-feira (20), às 22h. Com Luiz Gabriel Lopes, Zé Manoel e Dolores 602. A Autêntica, Rua Alagoas, 1.172, Savassi, (31) 3654-9251. Ingressos: R$ 15 (antecipado) e R$ 20 (na porta). Vendas on-line no site Sympla.

* Estagiário sob supervisão da editora assistente Ângela Faria

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