Fernando Brant, amigos e familiares ignoravam que Travessia estava inscrita no 2º Festival Internacional da Canção (FIC), realizado em 1967. Quando os Brant souberam da novidade, não titubearam. "Aqui em casa, todo mundo sempre foi muito unido. A gente tinha que dar um jeito de participar daquilo. Decidimos ir para o Rio de Janeiro", recorda Lucy Brant, uma das quatro irmãs do letrista.
Ela, o irmão Ronaldo e amigos, como o jornalista Paulo Vilara, colunista do Estado de Minas, viajaram de trem para o Rio com o propósito de acompanhar a fase classificatória do FIC. "Sem parentes lá, descobrimos que uma vizinha tinha apartamento em Copacabana. Alugamos. Quando chegamos ao Maracanãzinho, ficamos assustados ao ver aquela multidão de jovens.
No domingo, 22 de outubro, dia da finalíssima, a turma estava tomando café, quando de repente ouviu-se uma buzina diante do prédio em Copacabana. Era o restante dos Brant chegando de BH. "Tirando os irmãos mais novos, muito pequenos, todo mundo veio, incluindo meus pais. Quando souberam que Travessia estava na final, não resistiram. Deram um jeito de participar daquele momento", conta Lucy.
"Eles foram para um canto escondido lá de casa.
"A emoção foi enorme, inesquecível. Todo mundo cantando, comemorando como se fosse o primeiro lugar. Já tem 50 anos, mas aquele dia ficou na memória como se fosse hoje. A alegria dos dois, a repercussão, a guinada na vida deles... Fomos a um bar em Copacabana, que, por coincidência, chamava-se Mineirão para comemorar. E ali estava cheio de artistas que a gente admirava, uma festa", conta a irmã de Fernando Brant.
TIMIDEZ
Fernando sempre foi muito organizado. Guardou boa parte de suas letras em arquivos. "Ele escrevia no papel e depois datilografava. Tenho várias agendas que ele usava como rascunho. Foi assim com Travessia também. Fernando escreveu a letra em um papel durante os intervalos do trabalho como escriturário no Juizado de Menores. Depois, passou para a máquina de escrever. Como era a sua primeira música, estava super envergonhado, não queria mostrar pra ninguém. Nem avisou que estava fazendo uma canção. Por isso, nem sabemos onde está a letra original", diz Leise Brant, viúva do compositor.
Na casa do casal, no Bairro Cachoeirinha, em BH, Leise guarda uma relíquia: o certificado da conquista. O diploma traz o símbolo do FIC, um galo, e as seguintes palavras: "Fernando Rocha Brant participou do II Festival Internacional da Canção Popular do Rio de Janeiro, tendo contribuído para o alto mérito da música de sua pátria. Outubro de 1967"."O diploma está bem desbotado, já tem 50 anos. Porém, meu sogro colocou no quadro para preservá-lo, porque é um documento histórico", afirma Leise Brant.
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