Embora já ocupasse as frequências dos rádios e palcos desde o ano anterior, quando Elis Regina gravou pela primeira vez Canção do Sal, foi há 50 anos que a música mineira entrou definitivamente no mapa da Música Popular Brasileira. Entre 19 e 22 de outubro de 1967, Travessia, primeira parceria entre Milton Nascimento e o compositor Fernando Brant, ficava em segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, no Rio, atrás de Margarida, de Guarabyra, e à frente de compositores já consagrados como Chico Buarque e Vinícius de Moraes.
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“O Bituca sempre fez questão de agradecer ao meu avô por tudo, por tê-lo inscrito no Festival sem o conhecimento dele”, lembra o músico Tiago dos Santos, neto de Agostinho (1932-1973).
MOMENTO POLÍTICO
O Brasil estava em ebulição naquele outubro de 1967, um ano antes do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), que ficaria marcado pela perseguição a artistas. No mesmo fim de semana, o III Festival de Música Brasileira, promovido pela TV Record, em São Paulo, era marcado por polêmicas e músicas de protesto contra o regime. Edu Lobo venceu com Ponteio. No Rio, o II FIC, promovido pela TV Globo, recebia músicos estrangeiros e atraia estrelas internacionais, como a atriz Kim Novak.
Único a classificar três músicas entre as 20 finalistas, Milton defendeu Travessia com maestria. A apresentação, com Milton engomado em terno alugado, ao lado de Fernando, com o blazer emprestado por Toninho Horta, foi um divisor de águas para os mineiros, abrindo as portas para a geração do Clube da Esquina ao passo que o mundo era apresentado à voz sublime de Bituca.