Se hoje, Travessia goza de tal unanimidade, por muito pouco a composição não ficou de fora do festival. Milton não era afeito ao clima de competição dos festivais, tanto que coube a Agostinho dos Santos inscrevê-la junto com outras duas: Maria, minha fé, interpretada pelo próprio Agostinho, e Morro Velho, defendida por Milton, que havia escrito a música na mesma tarde que compôs a melodia de Travessia – a música era para se chamar Vendedor de Sonhos, mas depois de ganhar letra de Brant, foi eternizada com a última palavra do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
“O Bituca sempre fez questão de agradecer ao meu avô por tudo, por tê-lo inscrito no Festival sem o conhecimento dele”, lembra o músico Tiago dos Santos, neto de Agostinho (1932-1973).
MOMENTO POLÍTICO
O Brasil estava em ebulição naquele outubro de 1967, um ano antes do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), que ficaria marcado pela perseguição a artistas. No mesmo fim de semana, o III Festival de Música Brasileira, promovido pela TV Record, em São Paulo, era marcado por polêmicas e músicas de protesto contra o regime. Edu Lobo venceu com Ponteio.
Único a classificar três músicas entre as 20 finalistas, Milton defendeu Travessia com maestria.