O cantor e compositor Lô Borges teve pouquíssimo tempo para produzir um de seus trabalhos mais emblemáticos, o álbum Lô Borges, conhecido como ‘’disco do tênis’’ por causa da foto de sua capa. O lançamento da Odeon ocorreu em 1972, depois do sucesso do antológico Clube da Esquina. “Foi gravado a toque de caixa. Compunha de manhã, meu irmão (Márcio Borges) fazia as letras à tarde, a gente gravava e fazia os arranjos de noite. Um sufoco’’, recorda Lô.
Quarenta e cinco anos depois, a convite do músico Pablo Castro, o cantor e compositor faz turnê com as canções do antigo álbum e outros destaques de sua carreira. “Estreamos em janeiro, em São Paulo. Em todos os lugares por onde passo, fico impressionado com o carinho do público por essas músicas”, celebra Lô.
Neste sábado (30/9), BH terá outra chance de conferir o show do “disco do tênis”, que já passou pelo Sesc Palladium. Desta vez, Lô vai cantar no Grande Teatro do Palácio das Artes. “Nem sei quando foi a última vez em que me apresentei lá. Esse palco é ícone de BH e de Minas Gerais. Ao longo desses noves meses de turnê, o espetáculo amadureceu”, comenta.
A banda de Lô reúne Pablo Castro (guitarra, violões, piano e voz), Guilherme De Marco (violão, guitarra e vocal), Marcos Danilo (violão, guitarra, percussão e vocal), Alê Fonseca (teclados), Paulim Sartori (baixo, bandolim, percussão e vocal) e D’Artganan Oliveira (bateria, percussão e vocal). “É uma banda jovem e muito talentosa. A maioria dos músicos nem era nascida quando fiz o disco. Mesmo assim, eles conseguem reproduzir cada detalhe das canções”, observa.
A abertura ficará a cargo da banda carioca Dônica, formada pelo vocalista e pianista José Ibarra, pelo baixista Miguel Guimarães, pelo baterista André Almeida e pelos guitarristas Lucas Nunes e Tom Veloso, filho de Caetano Veloso. “Eles abriram o show da gente no Circo Voador, no Rio, que foi antológico e vão repetir a dose aqui em BH. Será bem bacana”, comemora Lô.
FILME
A turnê, que deve prosseguir até meados de 2018, poderá render DVD e filme. Lô Borges conta que a produtora Vânia Catani, mineira de Montes Claros, ficou tão encantada com o que viu no Rio de Janeiro que sugeriu a ele um projeto cinematográfico.
“Ainda não sei se será um longa-metragem ou um documentário. Ela apenas disse que queria fazer o ‘filme do tênis’. Também pretendo registrar os shows em DVD. Nunca imaginei que, depois de tanto tempo, esse tênis percorreria tantos caminhos”, conclui.
O DISCO DO TÊNIS
Com Lô Borges e banda.
Abertura: Dônica.
Sábado (30/9), às 21h.
Grande Teatro do Palácio das Artes
Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro,
(31) 3236-7400.
Plateia 1: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada).
Plateia 2: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia).
Plateia superior: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia).
Informações: (31) 3236-7400.
Os fãs de carteirinha
Guilherme Augusto*
Com seis anos de estrada e um CD na bagagem, o grupo carioca Dônica já realizou feitos próprios daqueles que estão na lida há mais tempo, como se apresentar em grandes festivais e gravar uma canção com Milton Nascimento. A nova tarefa da banda é aquecer os fãs do “disco do tênis” na terra de Lô Borges.
“O próprio Lô nos chamou para abrir no Circo Voador, no Rio. A experiência foi incrível e bacana, o público nos recebeu muito bem”, conta o guitarrista Lucas Nunes. A escolha parece precisa. O som da Dônica faz referência ao Clube da Esquina tanto nos acordes mansos quanto nas letras, com sacadas inteligentes e, por vezes, divertidas, assinadas por Tom Veloso, filho caçula de Caetano.
“Formamos a banda muito pelo nosso gosto musical. Desde sempre, o Clube fez parte dessa nossa ‘criação’, está presente em nossos caminhos melódicos e harmônicos”, comenta o vocalista Zé Ibarra.
Quando o “disco do tênis” foi lançado, em 1972, os integrantes da Dônica não haviam nascido - eles têm de 18 a 20 anos. Para Zé Ibarra, é como se o álbum tivesse sido feito para ser redescoberto. “É como uma dessas coisas que a gente sempre vê, mas não olha com atenção. Depois de um tempo, algo faz com que olhemos com maior cuidado. E pronto: descobrimos uma maravilha que esteve sempre ali. Quando paramos pra ouvir direito, acabamos nos apaixonando”, diz.
No show de hoje, eles terão 45 minutos para apresentar o seu repertório autoral. “Vamos conseguir tocar músicas novas e do primeiro álbum”, explica Lucas Nunes, referindo-se a Continuidade dos parques, lançado em 2015. No palco, o guitarrista se juntará a Zé (teclado e voz), Tom (violão), André Almeida (bateria) e Miguel Guimarães (baixo).
BERÇO
Refutando o berço de ouro que lhes cerca - afinal, a banda conta com o filho de Caetano Veloso e Paula Lavigne -, os “dônicas” são categóricos ao defender sua arte. “Se não tivéssemos trabalhado muito a nossa proposta e investido tempo pensando e aprimorando nosso trabalho, não teríamos chegado a lugar nenhum”, diz Zé Ibarra.
Ainda assim, eles são discretos em meio à efervescente cena autoral brasileira. “Isso tem a ver com nossa natureza ‘bicho do mato’. Somos todos caseiros. Saímos pouco, ficamos muito entre nós, em questão de trabalho, embora não deixemos de ouvir e curtir muito o que vem rolando no Brasil”, comenta.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria