O Rock in Rio cresceu com a nova Cidade do Rock e voltou a enfrentar seu maior inimigo. O público estimado diariamente em 100 mil pessoas, segundo a organização, testou e reprovou a estrutura em alguns quesitos importantes. Apesar da qualidade da produção na entrega de áreas novas, como banheiros, espaços de alimentação e de jogos, o fluxo em momento de pico causou sofrimento.
Vários fãs relataram problemas com a saída, tanto na direção do transporte coletivo BRT quanto no acesso para pedestres à Avenida Embaixador Abelardo Bueno, em frente ao Parque Olímpico. Uma grade verde impede a circulação direto para a rua (que, na madrugada, está bloqueada para tráfego, mas os táxis e veículos cadastrados já causam um engarrafamento).
Quem usa a saída principal precisa andar 500 metros para acessar o único portão que dá acesso à calçada, que, estreito, não dá vazão para a quantidade de pessoas. Um problema parecido é enfrentado pelos usuários do BRT, que também relataram, na página oficial do Rock in Rio, no Facebook, furtos e arrastões.
A engenheira Kissila Caeres elogiou a organização, mas destacou a saída como ponto negativo. "Único destaque negativo, mas extremamente preocupante, é a saída. Absurdo total o afunilamento em um portão minúsculo para milhares de pessoas que geralmente saem ao término do show principal", avaliou nas redes sociais.
Espaços novos e festejados, o Gourmet e o complexo de games Gamezone parecem ter atraído uma massa acima de suas capacidades de trabalho. As filas enormes para jogar e se alimentar se tornaram a regra nas tardes de sábado e domingo.
NOS PALCOS Frejat, que estreou seu novo show, Tudo se Transforma, teve uma apresentação recheada do bom e velho rock and roll. "Agora vou tocar uma parceria minha com o Cazuza. Nunca toquei essa canção antes. Quero a ajuda de vocês. Ela está cada vez mais verdadeira", disse antes de fazer uma versão mais truculenta de Ideologia.
Ao som dos gritos ensurdecedores de "Fora, Temer", o público mal teve tempo para ouvir a bela homenagem a Luiz Melodia, com Negro Gato. O show ainda teve seus momentos menos densos. Ao violão, Frejat fez duas versões bem delicadas de O Poeta Está Vivo e Por Você.
Comparado a outros dias, principalmente à apresentação do Maroon 5, o som de Frejat estava bem mais alto e audível. Com isso, a performance do ex-Barão Vermelho ganhou força e agradou ao público.
O show de Johnny Hooker com os convidados Liniker e Almério se tornou o mais político do festival. Na atitude dos três no palco, na mensagem, na postura. Como já fizeram artistas no passado, quando o posicionamento político estava explícito e implícito nas suas canções, os três expressam o que sentem e pensam. Escancaram a insatisfação, como quando Liniker cantou um "Fora, Temer" em meio aos versos desesperadamente românticos da música Zero.
O público respondeu com gritos de aprovação, com o coro da mesma frase, entre uma canção e outra. Quando o telão ao fundo do palco exibiu a frase "Amar Sem Temer", cuja interpretação é livre àquele que a lê, mais palmas de aprovação. A comunicação entre artistas e público estava em sintonia ali.
Era um show de Hooker com convidados, então o artista do Recife brilhou, todo coberto de lantejoulas douradas, prontas para refletir o sol do fim de tarde de domingo, 17. Alma Sebosa, cantada no início da performance, é um amor raivoso, daqueles que quer se arrancar do peito à força.
É daí que vem a arte de Hooker, da intensidade que se ama. Para o bem ou para o mal, ama-se como se fosse o último romance, a ponto de colocar fim na existência. Impiedoso, esse amor machuca e sangra, tal qual mostrado em Amor Marginal, outra cantada a pleno pulmões, no palco e no lado de cá, do público.
Juntos, os três executaram Não Recomendado, canção de Caio Prado, uma pedrada das mais políticas. Ao final, os três cantores exibiram uma bandeira com a frase: "Acreditamos em um mundo melhor #amazonialivre". E assim, no tom politizado, chegou ao fim um show sobre o amor.
Afinal, o amor também é político. Em tempos de ódio, o amor é remédio. É a solução.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
.