No fim da década de 1990, o baterista Charles Gavin já era um rato de gravadora. O CD era ainda a mídia dominante no meio musical. Cabia a ele ir aos arquivos das gravadoras e recuperar verdadeiras joias da música brasileira que não haviam sido editadas no formato.
Em 1999, veio a público o CD duplo do Secos & Molhados da série Dois momentos. Para o lançamento, Gavin remixou as gravações das fitas originais – os LPs originais eram de 1973 e 1974.
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Com um sucesso fulminante e uma carreira que efetivamente não durou mais do que um par de anos (tempo que a formação clássica existiu), o Secos & Molhados pode ser visto como o primeiro supergrupo da música brasileira. E cujo repertório volta agora com uma nova interpretação, sob a batuta do próprio Gavin.
Leva o nome de Primavera nos Dentes a banda-projeto que reúne Gavin, Paulo Rafael (guitarra), Pedro Coelho (baixo), Felipe Ventura (violino e guitarra) e Duda Brack nos vocais. O disco homônimo, recém-lançado no formato digital pela Deck, reúne 11 canções escolhidas do repertório das 26 dos discos de 1973 e 1974.
Sem tocar desde que deixou os Titãs em 2010, Gavin, há dois, resolveu criar uma banda para se dedicar ao repertório do Secos & Molhados. “Quando ele me ligou para convidar para cantar na banda, fiquei muito lisonjeada, mas em pânico ao mesmo tempo”, comenta Duda a respeito de um repertório que tem como intérprete Ney Matogrosso.
DISCO E TURNÊ
Mas ela foi em frente. A banda começou a se reunir para tocar sem maiores compromissos. O produtor Rafael Ramos, da Deck, ficou sabendo da história. Fã do Secos & Molhados (há 15 anos ele produziu um álbum-tributo com o repertório do disco de estreia do grupo), resolveu inverter a história. A banda deveria gravar um disco. Depois sairia em turnê.
Primavera nos Dentes, como banda, permanece inédita. A estreia será no próximo domingo, em Fortaleza. No Rio, onde os músicos vivem, o show de lançamento será somente no fim de outubro.
Para o repertório, o grupo escolheu hits – O vira, O patrão nosso de cada dia, Rosa de Hiroshima, Fala, Sangue latino – e alguns lados B – Doce e o amargo e Angústia entre eles. “De cara, percebemos que não poderíamos reproduzir o que eles fizeram. Queríamos fazer uma coisa mais contemporânea. E eu, como intérprete, tinha que imprimir minha visão de mundo ao repertório”, afirma Duda.
O patrão nosso... ganhou uma interpretação mais psicodélica, enquanto Rosa de Hiroshima uma ambientação eletrônica. Fala chama a atenção pela interpretação forte de Duda; Sangue latino, pelos arranjos de cordas.
Cantora gaúcha radicada no Rio, Duda tem 23 anos e apenas um álbum, É (2015). Admite ter tido “faniquitos de insegurança” durante a gravação. Mas se tranquilizou com o resultado pronto, principalmente depois de ouvir elogios do próprio Ney. “Encontrei com ele outro dia e me disse que havia ficado instigado pelo projeto, por a gente ter encontrado um lugar mais rock and roll para as músicas. Disse ainda que eu estava cantando muito. Fiquei para morrer”, conta a cantora.
Primavera nos dentes
. Artista: Primavera nos Dentes
. Gravadora: Deck
. Disponível nas plataformas digitais