Sétimo trabalho do cantor e compositor baiano Lucas Santtana, Modo avião (Natura Musical) vai muito além do disco. O autor chama o projeto de audiofilme, pois ele resultou um híbrido de música, literatura, cinema e arte dramática.
“Faço música desde os 12 anos (ele tem 46) e estava sentindo falta de que a música me levasse a outros lugares”, comenta. O conceito nasceu a partir de um voo São Paulo/Paris. Sem ter o que fazer e entrando em “modo avião”, Lucas começou a pensar em como as pessoas hoje em dia se relacionam com as máquinas (no caso, os smartphones) para “tapar um buraco existencial”.
“Também estava lendo o livro 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono, do ensaísta americano Jonathan Crary, que mostra como a vida não para e fala da quantidade de estabelecimentos que ficam abertos 24 horas, sete dias por semana. O último refúgio do capitalismo é, então, o sono”, diz Santtana.
A partir dessas ideias, ele chamou outros realizadores que atuam em mais de um segmento nas artes. O escritor João Paulo Cuenca, que fez uma imersão como diretor e ator no docudrama A morte de J.P. Cuenca, e o desenhista Rafael Coutinho, que criou um livro que mistura quadrinhos, pintura e desenho.
“Uma coisa ia alimentando a outra, mas, durante o processo, entendi que, como o disco seria o suporte físico, era importante que cada cena (da narrativa) representasse uma faixa dele.”
Modo avião, a história, é ambientada num voo internacional. Um homem (Santtana) conhece mulheres e, com elas, vai tendo conversas sobre relacionamentos e a falta de sentido dos tempos atuais.
O CD tem 17 faixas, pois reúne música e narrativa. Nas plataformas digitais pode-se encontrar as músicas e, em separado, todo o disco (música e história, em pouco mais de 40 minutos). Para as cenas da narrativa foram convidadas as atrizes Patrícia Pillar, Mariana Lima e Maria Manoella.
Mesmo dialogando com o pano de fundo, as músicas funcionam separadamente. São canções quase meditativas, mais líricas e sem batidas. Das oito, duas já tinham sido registradas anteriormente: Streets bloom (gravada por Céu) e Árvore axé (Jussara Silveira).
A trilha que virou CD
Serra dos Órgãos, segundo álbum de Domenico Lancellotti, não nasceu como disco. Em 2012, ele foi convidado para desenvolver um projeto durante os Jogos Olímpicos de Londres. Trabalharia ao lado do multi-instrumentista britânico Sean O’Hagan (da banda High Llamas e assíduo colaborador do Stereolab) na criação de uma trilha sonora para o filme de arte Soundistante. Saiu do Brasil já com algumas músicas bem adiantadas.
“A proposta do filme era um exercício, pois criei músicas para um filme que ainda não tinha imagem”, conta o integrante do grupo %2b2 (com Moreno Veloso e Alexandre Kassin). De volta ao Brasil, ele percebeu que algumas das composições tinham vida, independentemente do projeto londrino. Pediu a parceiros para criar letras para alguns temas. Moreno escreveu Tudo ao redor, O’Hagan compôs a letra de Logo, e Kassin colaborou com a música Insatiable.
A Serra dos Órgãos que dá título ao disco veio ainda mais tarde, quando Domenico alugou uma casa na região de Petrópolis e Teresópolis, em meio à mata atlântica. Foi ali que surgiram temas que completaram as 14 faixas do disco, como A alma do vento e Dama da noite.
Os temas instrumentais são bastante imagéticos.
Domenico demorou a lançar o disco porque a costura das músicas foi feita aos poucos. “Não gosto do formato de single, gosto de pensar em disco. Quando vi, achei que muitas das músicas tinham uma relação entre si. Venho de um trabalho que dá um tratamento mais experimental à canção, não é convencional”, afirma.
Modo avião
Autores: Lucas Santanna, Rafael Coutinho e J. P. Cuenca
Editora: LOTE 42 (88 páginas)
Preço sugerido: R$ 42,90
Modo avião
Artista: Lucas Santanna
Gravadora: Natura Musical
Disponível em plataformas digitais
Serra dos órgãos
Artista: Domenico Lancellotti
Gravadora: Lab344
Preço sugerido: R$ 29,90
HARPA NO SAMBA
Domenico Lancellotti é o produtor de Serpente, quarto álbum de Aline Calixto. O disco foge dos trabalhos anteriores da cantora.