O Police lançou Every breath you take, um de seus maiores hits, em 1983. Na mesma época, um outro trio, do outro lado do Atlântico, se formava. “Lembro que muita gente via a música como uma canção de amor. E, na verdade, ela é sobre obsessão. O que quero dizer com isto é que você pode ter o entendimento que quiser sobre o que está ouvindo”, comenta o baterista João Barone, um dos três vértices d’Os Paralamas do Sucesso.
Trinta e quatro anos depois de sua formação, a banda – Herbert Vianna, guitarra e voz, Bi Ribeiro, baixo, além de Barone – lança Sinais do sim (Mangaba Produções/Universal Music), primeiro álbum de inéditas desde Brasil afora (2009).
O comentário sobre a canção do Police vem por causa da faixa-título, justamente a primeira das 11 canções do trabalho. É uma carta de intenções com letra positiva, de tônica esperançosa. “Mas se já chegamos até aqui/Ver o nascer de um novo/Não parece tão ruim”, dizem os versos escritos por Herbert para Sinais do sim, única das músicas executadas exclusivamente pelos três paralamas.
“É uma letra lírica, que fala de amor. Mas pode trazer um entendimento um pouco mais amplo. Quando o Herbert canta que ‘só se via poeira da dor’ ele está falando tanto de um amor incompreendido quanto do que estamos vendo hoje na sociedade brasileira”, acrescenta Barone. O que o baterista quer dizer com isto é que os Paralamas da atualidade não têm a necessidade de botar o dedo na ferida, coisa que o grupo fez com maestria em canções como Alagados, Selvagem e O calibre.
“A gente já canta essas músicas nos nossos shows, então não vemos necessidade de falar agora sobre política ou contestar a situação atual. Durante a guerra, um soldado fica seis meses em serviço e depois volta para casa. Tem que haver um revezamento, e acho que o rap contestador tem feito isso muito bem.”
Das 11 faixas de Sinais do sim, oito são de autoria dos Paralamas. As letras são todas de Herbert, as músicas são assinadas pelo trio. “Uma coisa que não mudou ao longo destes anos é que sempre estamos ao sabor do que ele tem a dizer. Temos, o Bi e eu, o discurso do Herbert como nosso. O que nós dois viemos tentando fazer desde o acidente dele (em 2001, quando a queda de um ultraleve matou a mulher do cantor e o deixou numa cadeira de rodas) é ver a capacidade dele em transformar a visão que tem do mundo em alguma coisa interessante. Usando uma expressão que o Herbert tem usado muito, este disco mostra o sabor dos ventos. Estamos vendo onde ele vai nos levar.”
A partir da faixa-título, o álbum, produzido por Mário Caldato (que pela primeira vez trabalhou com os Paralamas e arregimentou para as gravações nomes como Pupillo, da Nação Zumbi, e Alexandre Kassin) apresenta uma safra bem diversa de músicas. Das assinadas por eles uma que se destaca é a faixa dois. Com forte acento roqueiro, Itaquaquecetuba nasceu de um jogo de palavras a partir de uma memória de infância de Herbert (a localidade no interior de São Paulo, que ele descobriu quando criança, tinha o maior nome de uma cidade que tinha ouvido falar).
Blow the wind, em inglês, é uma das canções que fazem referência ao vento. No caso, a letra mostra uma tentativa de sair do lugar, “já que se encontra perdido no tempo e no espaço”. A despeito do peso que o cantor expressa nos versos, ele guarda uma mensagem positiva na parte final. Olha a gente aí é uma canção típica dos Paralamas, com ênfase nos metais. A letra traz citações do poema Ó, sino da minha aldeia, de Fernando Pessoa. Já Sempre assim é um reggae lento, com cara de fim de tarde, a despeito de uma letra sobre solidão e sobrevivência.
Chamam a atenção as três canções de terceiros incluídas no repertório. A mais interessante delas é Medo do medo, da rapper portuguesa Capicua. A música foi apresentada à banda por Hermano Vianna, irmão de Herbert. Verborrágica, a música dialoga diretamente com os tempos atuais. “Medo da crise e do crime/Como já vimos num filme/Medo de ti e de mim/Medo dos tempos”, dispara Herbert. Na versão dos Paralamas a música ficou entre o rap e o rock.
Outro diálogo com outras praias é o registro de Cuando pase el temblor, do argentino Gustavo Cerati (1959-2014). A regravação da canção do Soda Stereo marca o reencontro dos Paralamas com seu passado noventista, da época em que o grupo brasileiro virou um gigante no mercado latino. E ainda há uma inédita de Nando Reis, Não posso mais, presente que ele mandou para a banda. É um pop rock simpático, de percussão marcada, suave malemolência e sotaque romântico.
Os shows da nova turnê terão início em outubro. Barone acredita que até o fim do ano a turnê chegará a Belo Horizonte. Única das bandas do primeiro escalão do Rock 80 a continuar atuante (e relevante) por tantos anos com a mesma formação, os Paralamas, na última década, lançaram dois CD/DVDs ao vivo. De acordo com o baterista, a agenda continua ótima. “E se dependesse do Herbert, a gente tocaria todo dia.”
Como ele vê a banda nos dias de hoje? “Vivemos uma situação digna de estudo. Ao mesmo tempo que você vê como o consumo da música se fragmentou, temos expressões musicais muito populares, opressivas. Tem hora que só toca sertanejo, ou só pagode, ou só funk. Ver um clipe do Anitta com 17 milhões de visualizações? Isto é um fenômeno irrefreável e não diz respeito só à massa brasileira, pois também acontece em outros países.”
Para ele, num momento singular como o atual, resta a uma banda com tantos anos de estrada “saber onde se colocar”. “O rock brasileiro está muito bem, só que está diluído no processo midiático. Você vê os ingressos para o Rock in Rio esgotando em um dia, o The Who vindo fazer turnê no Brasil... Existe uma demanda considerável.”
E no caso d’Os Paralamas, de acordo como ele, não há do que reclamar. “Fazemos shows pra caramba e temos 34 anos de estrada. Seja lá qual for a explicação para isto, acho que há o amor pelo que fazemos e o respeito do público. Não acho que fã se guarda no armário. Hoje vemos o nosso público se renovar, gente que não tinha nascido quando a gente começou ouve os Paralamas. Vamos ao Spotify e vemos que Aonde quer que eu vá, nossa música mais popular, foi ouvida milhões de vezes. Isto é um sintoma de que a gente está vivo e em sintonia com o público de hoje”, conclui.
Trinta e quatro anos depois de sua formação, a banda – Herbert Vianna, guitarra e voz, Bi Ribeiro, baixo, além de Barone – lança Sinais do sim (Mangaba Produções/Universal Music), primeiro álbum de inéditas desde Brasil afora (2009).
O comentário sobre a canção do Police vem por causa da faixa-título, justamente a primeira das 11 canções do trabalho. É uma carta de intenções com letra positiva, de tônica esperançosa. “Mas se já chegamos até aqui/Ver o nascer de um novo/Não parece tão ruim”, dizem os versos escritos por Herbert para Sinais do sim, única das músicas executadas exclusivamente pelos três paralamas.
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“É uma letra lírica, que fala de amor. Mas pode trazer um entendimento um pouco mais amplo. Quando o Herbert canta que ‘só se via poeira da dor’ ele está falando tanto de um amor incompreendido quanto do que estamos vendo hoje na sociedade brasileira”, acrescenta Barone. O que o baterista quer dizer com isto é que os Paralamas da atualidade não têm a necessidade de botar o dedo na ferida, coisa que o grupo fez com maestria em canções como Alagados, Selvagem e O calibre.
“A gente já canta essas músicas nos nossos shows, então não vemos necessidade de falar agora sobre política ou contestar a situação atual. Durante a guerra, um soldado fica seis meses em serviço e depois volta para casa. Tem que haver um revezamento, e acho que o rap contestador tem feito isso muito bem.”
RAP PORTUGUÊS
Das 11 faixas de Sinais do sim, oito são de autoria dos Paralamas. As letras são todas de Herbert, as músicas são assinadas pelo trio. “Uma coisa que não mudou ao longo destes anos é que sempre estamos ao sabor do que ele tem a dizer. Temos, o Bi e eu, o discurso do Herbert como nosso. O que nós dois viemos tentando fazer desde o acidente dele (em 2001, quando a queda de um ultraleve matou a mulher do cantor e o deixou numa cadeira de rodas) é ver a capacidade dele em transformar a visão que tem do mundo em alguma coisa interessante. Usando uma expressão que o Herbert tem usado muito, este disco mostra o sabor dos ventos. Estamos vendo onde ele vai nos levar.”
A partir da faixa-título, o álbum, produzido por Mário Caldato (que pela primeira vez trabalhou com os Paralamas e arregimentou para as gravações nomes como Pupillo, da Nação Zumbi, e Alexandre Kassin) apresenta uma safra bem diversa de músicas. Das assinadas por eles uma que se destaca é a faixa dois. Com forte acento roqueiro, Itaquaquecetuba nasceu de um jogo de palavras a partir de uma memória de infância de Herbert (a localidade no interior de São Paulo, que ele descobriu quando criança, tinha o maior nome de uma cidade que tinha ouvido falar).
Blow the wind, em inglês, é uma das canções que fazem referência ao vento. No caso, a letra mostra uma tentativa de sair do lugar, “já que se encontra perdido no tempo e no espaço”. A despeito do peso que o cantor expressa nos versos, ele guarda uma mensagem positiva na parte final. Olha a gente aí é uma canção típica dos Paralamas, com ênfase nos metais. A letra traz citações do poema Ó, sino da minha aldeia, de Fernando Pessoa. Já Sempre assim é um reggae lento, com cara de fim de tarde, a despeito de uma letra sobre solidão e sobrevivência.
Chamam a atenção as três canções de terceiros incluídas no repertório. A mais interessante delas é Medo do medo, da rapper portuguesa Capicua. A música foi apresentada à banda por Hermano Vianna, irmão de Herbert. Verborrágica, a música dialoga diretamente com os tempos atuais. “Medo da crise e do crime/Como já vimos num filme/Medo de ti e de mim/Medo dos tempos”, dispara Herbert. Na versão dos Paralamas a música ficou entre o rap e o rock.
Outro diálogo com outras praias é o registro de Cuando pase el temblor, do argentino Gustavo Cerati (1959-2014). A regravação da canção do Soda Stereo marca o reencontro dos Paralamas com seu passado noventista, da época em que o grupo brasileiro virou um gigante no mercado latino. E ainda há uma inédita de Nando Reis, Não posso mais, presente que ele mandou para a banda. É um pop rock simpático, de percussão marcada, suave malemolência e sotaque romântico.
FENÔMENOS IRREFREÁVEIS
Os shows da nova turnê terão início em outubro. Barone acredita que até o fim do ano a turnê chegará a Belo Horizonte. Única das bandas do primeiro escalão do Rock 80 a continuar atuante (e relevante) por tantos anos com a mesma formação, os Paralamas, na última década, lançaram dois CD/DVDs ao vivo. De acordo com o baterista, a agenda continua ótima. “E se dependesse do Herbert, a gente tocaria todo dia.”
Como ele vê a banda nos dias de hoje? “Vivemos uma situação digna de estudo. Ao mesmo tempo que você vê como o consumo da música se fragmentou, temos expressões musicais muito populares, opressivas. Tem hora que só toca sertanejo, ou só pagode, ou só funk. Ver um clipe do Anitta com 17 milhões de visualizações? Isto é um fenômeno irrefreável e não diz respeito só à massa brasileira, pois também acontece em outros países.”
Para ele, num momento singular como o atual, resta a uma banda com tantos anos de estrada “saber onde se colocar”. “O rock brasileiro está muito bem, só que está diluído no processo midiático. Você vê os ingressos para o Rock in Rio esgotando em um dia, o The Who vindo fazer turnê no Brasil... Existe uma demanda considerável.”
E no caso d’Os Paralamas, de acordo como ele, não há do que reclamar. “Fazemos shows pra caramba e temos 34 anos de estrada. Seja lá qual for a explicação para isto, acho que há o amor pelo que fazemos e o respeito do público. Não acho que fã se guarda no armário. Hoje vemos o nosso público se renovar, gente que não tinha nascido quando a gente começou ouve os Paralamas. Vamos ao Spotify e vemos que Aonde quer que eu vá, nossa música mais popular, foi ouvida milhões de vezes. Isto é um sintoma de que a gente está vivo e em sintonia com o público de hoje”, conclui.