Ennio Morricone, um dos compositores mais famosos e amados da história do cinema, mantém a criatividade e a lucidez. Aos 88 anos, ele deseja surpreender o público em sua nova turnê europeia. Nos próximos meses, o “Maestro”, como é chamado na Itália, tem várias apresentações programadas para comemorar as seis décadas de carreira.
“Pediram que regesse minha música. Mas não sou um verdadeiro maestro de orquestra, não dirijo a música de outros compositores. A verdade é que gosto de ouvir minha música e ver a reação do público”, explica. “No cinema, não é possível ouvir música com atenção. Diálogos, ruídos, efeitos especiais, tudo isso distrai as pessoas. Os concertos permitem ao público escutar minha música, apenas minha música”, afirma.
O italiano Morricone compôs mais de 500 trilhas sonoras. É reconhecido por melodias emblemáticas, como o assobio de Três homens em conflito (1966) ou o magnífico solo de oboé de A missão (1986). Em 2016, ganhou o Oscar por Os oito odiados, filme dirigido pelo americano Quentin Tarantino. Em 2007, havia levado a estatueta pelo conjunto da obra.
Esse senhor simpático conta piadas e segredos com o mesmo ritmo de suas composições. “A música de A missão nasceu de uma obrigação. Tinha que escrever um solo de oboé, o filme se passava na América do Sul no século 16 e eu deveria respeitar o tipo de música daquele período. Ao mesmo tempo, tinha que escrever uma música que também representasse os índios da região”, relembra.
MOZART Depois de musicar filmes de diversos gêneros – de romances a westerns –, Morricone sorri quando é comparado a Rossini e Mozart, também autores prolíficos. “O fato de ser capaz de compor com total liberdade foi possível não apenas porque tinha a técnica, mas porque era necessário que mudasse o meu estilo. O filme exigia. A cada vez ficava diferente”, explica.
Morricone diz que criar trilhas para cinema foi mais fácil do que compor as 100 peças de câmara e contemporâneas que escreveu. Entre seus autores preferidos cita Stockhausen, Boulez, Luigi Nonno, Aldo Clementi e Petrassi (“meu mestre”), assim como Stravinsky e Bach. “Sinto que esqueço alguns nomes, mas eles, conscientemente ou não, deixaram sua marca em mim”.
O compositor, que trabalhou com grandes cineastas e produtores de Hollywood – John Huston, Don Siegel, Roman Polanski e Samuel Fuller –, além dos conterrâneos Sergio Leone, Pier Paolo Pasolini, Bernardo Bertolucci e Gillo Pontecorvo, é um artista emblemático do século 20, que deve seu sucesso à sábia combinação de imagem com melodia.
Qual é o segredo? “Não há receita para nada”, responde Morricone. “Tentei muitas receitas. Tentei inventar uma maneira de escrever música melódica repleta de pausas. Quase monossílabos ou três sílabas juntas e depois uma pausa, como um pensamento que vai e volta, que se repete de forma diferente. Sempre quis mudar, mas no final sempre pareço comigo mesmo”, garante. (Kelly Velasquez/AFP)
•TRILHAS
. 1900
Direção: Bernardo Bertolucci
. A missão
Direção: Roland Joffé
. As mil e uma noites
Direção: Pier Paolo Pasolini
. Cinema Paradiso
Direção: Giuseppe Tornatore
. Os intocáveis (foto)
Direção: Brian de Palma
. Os oito odiados (foto)
Direção: Quentin Tarantino
. Era uma vez na América
Direção: Sergio Leone
. Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita
Direção: Elio Petri
. Malena
Direção: Giuseppe Tornatore
. Sacco e Vanzetti
Direção: Giuliano Montaldo
. Por um punhado de dólares (foto)
Direção: Sergio Leone