Uai Entretenimento

''Preparadinha'': entenda as estratégias de marketing que transformaram Anitta em fenômeno pop

Ex-estagiária da Vale do Rio Doce que sonhava em ser empresária e estourou como funkeira, Anitta se consolida no Brasil e tenta conquistar mercado estrangeiro

Pedro Galvão

- Foto: WikiCommons / Reprodução Sete anos atrás, ela era apenas Larissa de Macedo Machado.

Uma colegial de classe média da Zona Norte do Rio de Janeiro que sonhava em ser empresária e adorava cantar. Do objetivo profissional ela corria atrás sendo estagiária da Vale do Rio Doce, logo após terminar um curso técnico em administração. Já ao hobby que cultivava desde a infância, quando se apresentava junto com o coral da igreja, ela dava vazão no YouTube, publicando alguns de seus números musicais amadores. Um deles chamou a atenção de Renato Azevedo, o DJ Batutinha, mente criativa que impulsionava a batida do funk carioca pelas principais mídias de massa do país, transformando artistas anônimos das periferias em celebridades nacionais com a Furacão 2000. Anitta poderia ser só mais uma nesse roteiro, mas foi além.

No dia 5 de agosto de 2016, aos 23 anos de idade, ela subiu ao palco armado no Maracanã ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil. O mundo inteiro assistia à abertura da Olimpíada. O lugar que poderia pertencer à já consagrada Ivete Sangalo ou, quem sabe, a Maria Gadú, como expoente da nova MPB, era ocupado pela até outrora funkeira, intérprete do “chiclete” Show das poderosas, hit imprescindível nas playlists infanto-juvenis de anos anteriores.
Se o funk era relegado ou marginalizado pela crítica e parte da opinião pública, cabendo a seus artistas apenas as cifras e os 15 minutos de fama, que poderiam durar um verão ou dois, agora ele estava ali, junto com o que há de mais respeitado na música nacional.

Na verdade, para se tornar o nome brasileiro mais ouvido no Spotify atualmente e uma das 15 artistas mais influentes do mundo nas redes sociais, segundo a Billlboard, Anitta passou por uma série de transformações, tanto em seu próprio corpo, quando no estilo musical. Desde que ficou nacionalmente famosa, em 2012, a moça já fez algumas intervenções cirúrgicas para alterar sua aparência, embora não goste de falar sobre o assunto. A lista inclui aumento dos seios, dos lábios, das bochechas, lipoaspiração e plástica no nariz. Modificações que a deixaram num padrão estético muito próximo de algumas das principais divas do pop mundial. No entanto, as semelhanças não são apenas físicas.

Seu mais recente sucesso, a música Paradinha, lançada diretamente no YouTube há algumas semanas, foi gravada em espanhol, no ritmo reggaeton, que há anos vem conquistando a América Latina e até os Estados Unidos com suas baladas dançantes. Em 24 horas, já eram mais de 7 milhões de visualizações no clipe. O que começou como funk já flertou com sertanejo, música romântica e com o hip-hop. Receita parecida com a seguida por Beyoncé, Rihanna, Shakira e outras das cantoras mais conhecidas do planeta.

ESTILO “Ela veio do funk, mas não tem um estilo muito bem definido. Quando ela lançou Bang (2015), no terceiro disco, foi um salto muito grande em relação à qualidade de produção musical. E aí ela começa a lançar os clipes produzidos pelo Giovanni Bianco (ítalo-brasileiro diretor artístico da Vogue italiana, que já trabalhou com Madonna, Ivete Sangalo e Rihanna), com letras simples, muito de cultura pop. Assim ela conversa com criança, com quem gosta de funk, de pop, de design, de moda, porque a estética é autoral. Então ela deixa de pertencer a um estilo só e passa a se massificar”, analisa o publicitário Pedro Sampaio, especialista em marketing, que vem se debruçando sobre as estratégias adotadas na carreira de Anitta.

Para Sampaio, uma soma de fatores construiu o fenômeno Anitta, comparado por ele a uma empresa. “Ela tem uma proposta, valores e objetivos muito claros.
Comecei a olhar para ela como marca quando notei que, por trás dos lançamentos, havia uma estratégia de internacionalização. Vi que nada tinha sido por acaso”, diz, lembrando os recentes sucessos internacionais da cantora: além de Paradinha, os singles Sim ou não, em parceria com o colombiano Maluma, lançado em 2016, e Switch, dueto com a norte-americana Iggy Azalea, apresentado recentemente no Tonight show, de Jimmy Fallon, um dos programas mais populares da TV dos EUA. A presença da brasileira no talk show foi outro marco na música pop nacional conquistado por “Anira”, como foi chamada, em tom de brincadeira, na ocasião.

Em 2016, Anitta assinou com a agência WME, de William Morris, que assessora a carreira de superestrelas da música e do cinema, como Ben Affleck, Rihanna e o grupo Maroon5, por exemplo. O publicitário mineiro considera isso um passo determinante para a carreira internacional pretendida pela carioca. “Provavelmente, a parceria com a Iggy (Azalea) foi um direcionamento que deram, mas, para mim, o grande lance é ela ter percebido que entrar pela latinidade seria mais fácil. Primeiro, porque nossos vizinhos são mais abertos e a comunidade latina nos EUA é muito grande. Pelas beiradas latinas foi mais fácil do que ir de cara no mercado norte-americano, que é mais fechado e patriota”, avalia, observando que a faixa cantada com Maluma precedeu uma pareceria do colombiano com sua compatriota Shakira, Chantage, que viria a estourar semanas depois.

MARKETING Co-branding e cross media. Na visão do especialista, os dois conceitos do marketing estão claramente presentes na trajetória da estrela. O primeiro, basicamente, significa “parceria” entre duas marcas. O segundo é a utilização de várias mídias diferentes para atingir um público-alvo.
Anitta decolou com os singles lançados ao lado de uma extensa lista de artistas que inclui ainda Simone & Simaria, Wesley Safadão, Jota Quest e MC Guimê, quase sempre no YouTube, seguido do Spotify e outros serviços de streaming, para em pouco tempo estourar nas TVs e rádios. O próximo passo será Sua cara, música gravada ao lado do cantor e drag Pabllo Vittar, cujo clipe terá o deserto do Saara, no Marrocos, como cenário.

Embora abrangente, o processo deixa de lado os CDs. Mesmo com três álbuns já lançados, o último deles em 2015, ela assume que não pretende investir no formato. “Eu não amo fazer álbuns, gosto mais de singles e clipes. Lá fora, a galera ainda tem costume de ouvir um álbum inteiro. Aqui, não. O povo ouve o que é trabalhado na rádio. Quando você lança um álbum, você perde as outras músicas”, disse Anitta em entrevista recente à revista Contigo!.

Fruto e ícone de uma geração que não cresceu ouvindo ou colecionando discos, ela carrega outros traços comuns à faixa etária que também explicam seu sucesso, na opinião de Pedro Souza. “Ela está entre a geração Z e Y e tem muitas coisas nela que se explicam por isso, como a preocupação com o empoderamento feminino, dos LGBTs e toda essa hiperconexão e mudança constante de aparência e de estilos. Tudo isso é típico de uma geração que hoje dorme de um jeito e acorda de outro”, afirma o publicitário.

Assídua com seu Show das poderosinhas em Belo Horizonte, Anitta anunciou nesta semana que retorna à capital mineira em 3 de setembro. A apresentação será no Km de Vantagens Hall BH (ex-BH Hall), com ingressos entre R$ 45 (meia; arquibancada) e R$ 480 (mesa, setor 1).


- Foto: Fernando Tomaz / DivulgaçãoRETOQUE

Confira procedimentos que mudaram a aparência de Anitta

» Nariz – Aos 18 anos, afinou as narinas. Aos 21, corrigiu desvio de septo, provocado por erro na primeira cirurgia

» Seios – Aos 18 anos, implantou prótese de silicone. Aos 21, diminuiu o tamanho

» Barriga e cintura – Aos 20, fez lipoaspiração.

» Bochechas – Deixou-as mais volumosas em 2016

» Lábios
– Em 2016, fez preenchimento labial

 



Xôtifalá - Amo a diva!

 

Por Luiz Othávio Gimenez, do vlog Xôtifalá do Portal Uai

 

Anitta é chamada de diva desde 2013, quando estourou no Brasil inteiro ao som de Show das poderosas. “Para o baile pra me ver dançando”, ela cantava se aliando a passos de dança à la Beyoncé. O baile parou, ela rebolou e ficamos ba-ban-do. O público se rendeu a ela numa espécie de amor à primeira vista. Há tempos os fãs brasileiros de música pop estavam sedentos por uma diva para chamar de nossa. 

E Anitta trouxe um combo completo: canta, interpreta, bate cabelo e dança... funk! A mistura do que é mais comercial na indústria pop internacional com o funk deu tão certo que várias outras cantoras vieram depois dela, fazendo mais ou menos a mesma coisa, como Ludmilla, Lexa e até a Valeska Popozuda versão clean. Então, as baladas pop, principalmente as voltadas ao público LGBT, abriram espaço para o batidão chiclete tupiniquim. E a noite deixou se der comandada pelas cantoras internacionais e passou a ser dominada pelas musas do Brasil, com a coroa de rainha para Anitta, que é facilmente chamada de rainha do pop brasileiro. 

Agora, cada vez mais longe do pop-funk de Ludmilla e Lexa, Anitta importa para o Brasil um novo som: o reggaeton. Com Paradinha, ela deixa as aspirantes para trás e alça novos voos no mercado, sonhando em exportar o “quadradinho” para o mundo. 

Anitta não é um fenômeno porque ela é “a melhor do seu ramo no Brasil”. Ela é um fenômeno porque, além de seguir tendências mundiais, ela consegue gerar burburinho em tudo que envolve seu nome – atualmente, ela causa tanto engajamento em redes sociais como Britney Spears, Rihanna e Shakira. Prova disso é seu nome figurar há meses na parada “Social 50” da Billboard, em que a revista americana mede a atuação dos artistas na web pelo mundo. Finalmente temos uma diva para chamar de nossa!

 

.