Quem tiver a oportunidade de rever a novela Tieta, reprisada atualmente pelo Canal Viva, poderá reparar não só na boa trama de Aguinaldo Silva e no elenco afiadíssimo, como também na trilha sonora. Um dos nomes por trás das canções do folhetim, que estreou em 1989, é o produtor, arranjador e compositor carioca Ary Sperling. Ele assina Imaculada, tema da personagem de Luciana Braga, e Urbana, que embala a história de Arturzinho, papel de Marcos Paulo.
O experiente Sperling fez os arranjos de boa parte das trilhas de Xuxa (entre eles, o do sucesso Lua de cristal), da abertura de Rainha da sucata (1990) – Me chama que eu vou, hit de Sidney Magal – e da abertura de Mico preto (1990), samba cantado por Gilberto Gil, composto exclusivamente para a novela por Moacyr Luz e Aldir Blanc.
Entre tantos trabalhos, a trilha que mais deu orgulho a Ary Sperling foi a da minissérie Riacho Doce. “Fiz todos os arranjos, compus várias músicas e sonorizei os capítulos. Aliás, teve uma cena bem curiosa: o Nô, personagem do Carlos Alberto Riccelli, aparecia com o violão na praia, mas, na verdade, quem tocava era eu (risos). O som vinha do meu instrumento. Aquela trilha foi feita a toque de caixa, pois o tempo era curto. Ela tinha Danilo Caymmi e Milton Guedes, entre outros, e o LP bateu recordes de vendas. Foi um sucesso”, relembra.
Ao lado dos filhos, Ary comanda o Sperling Studio, no Rio de Janeiro, empresa que atua nas áreas de produção de CDs e DVDs, cinema, teatro, publicidade, dublagem e sound design. Um de seus trabalhos mais recentes é Alegria, alegria, sobre a Tropicália, em cartaz atualmente em São Paulo. O produtor e arranjador foi convidado pelo diretor Moacyr Góes para assinar a direção musical do espetáculo, que tem recebido boas críticas.
“Trabalho com a Zélia Duncan (protagonista de Alegria, alegria), que já conheço de longa data e tem ótima percepção teatral, mas essa coisa de musical foi um desafio. A gente escutou a maioria das canções da época, discutiu os conceitos. Mesmo com pouco tempo, conseguimos deixar tudo bem redondo. A minha direção foi no sentido de não perder a alma da música, não inventar moda. A repercussão tem sido bacana”, comenta. Nas sessões desta semana, Laila Garin substitui Zelia Duncan, que voltará ao elenco no fim do mês.
BAGAGEM Ary Sperling, de 60 anos, começou sua carreira no Viva Voz. Entre outros trabalhos, o grupo gravou o tema de abertura da novela Dona Beija, composto por Fernando Brant e Wagner Tiso “Beija-for beija menina/ Quem a fez assim tão divina?”, dizia a canção. Ele tocou durante muito tempo na banda de Tiso, assumindo teclados, violão e programação.
“Aquele início me deu uma bagagem para ser o que sou hoje. A gente fazia de tudo um pouco: tocava, cantava, compunha arranjos e se dedicava à direção musical. Acabei trabalhando ao lado dos maiores artistas do país”, destaca.
Sperling chegou a cursar engenharia, mas se realizou na música. Depois de estudar em Los Angeles (EUA), ele montou um projeto de ponta no fim da década de 1980: a primeira sala de teclados Midi brasileira, que funcionava na Som Livre. “Em vez de gravar para fita, a gente gravava para computador. A grande vantagem é que podíamos editar o material. Era uma novidade, algo surreal. Hoje em dia, as pessoas fazem isso em casa”, explica.
CINEMA Sperling atuou também como arranjador para orquestras, além de compor trilhas sonoras de filmes – entre eles, Fica comigo (1988), de Tisuka Yamasaki, e Lili, a estrela do crime (1989), de Lui Farias. Ele acaba de adquirir um microfone 3D, com o qual planeja produzir audiopeças em parceria com Moacyr Góes.
“A nossa ideia é reunir o elenco de alguns espetáculos de Shakespeare, Ibsen e Nelson Rodrigues e colocar o microfone tridimensional no palco para gravar. O ouvinte terá a sensação de estar dentro da cena. É bem interessante”, revela, entusiasmado.