“Quem perguntou por mim/Quem falou e chorou?/Quem me telefonou/Seus dramas contou/Pois se sentia sozinho/É meu amigo/É isso que eu tenho no mundo, em qualquer lugar.” Os versos da canção Quem perguntou por mim, parceria de Fernando Brant e Milton Nascimento, são uma homenagem a um amigo de Brant que vivia na França e um dia desabafou com o poeta e compositor mineiro sobre as tristezas de uma separação.
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Foi em 2014 que o projeto começou a tomar corpo. Durante a cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) a Milton Nascimento, em agosto, Paulo Rogério se sentou ao lado de Fernando Brant e Tavinho Moura. “Durantes os discursos, alguns trechos de letras eram citados, como ‘amigo é coisa pra se guardar’, ‘a hora do encontro é também despedida’. E, como doutores não cantam, mas falam, eram os poemas de Brant que se ouviam sem parar. Perguntei, brincando, ao Fernando se a homenagem era ao Milton ou a ele. Foi então que pensei nessa ideia de fazer algo sobre ele com a Orquestra Ouro Preto”, recorda Paulo Rogério Lage, que assina a direção de cena.
Quando o produtor falou sobre o assunto com Rodrigo Toffolo, o regente não titubeou. “É como se eu tivesse ganhado na loteria. Depois de Valencianas, com Alceu Valença, do projeto dos Beatles e Edu Lobo, a gente queria algo que falasse de Minas Gerais, que captasse o sentimento de mineiridade na figura de um grande artista. Brant é o amálgama que liga tudo que Minas representa. Não poderia ser outro homenageado”, avalia o maestro.
Durante o processo de criação, Toffolo mergulhou de cabeça no universo do compositor. Leu seus livros de crônicas e outros textos escritos por e sobre ele. “Era necessária essa imersão para ajudar no trabalho. Toda a pesquisa me fez ter um outro olhar sobre Brant”, diz. Escolher o repertório foi uma das tarefas mais complicadas. O maestro conta que optou por canções que se tornaram clássicos, como Travessia, Maria, Maria e Canção da América, mas também escolheu algumas menos populares, como Fruta boa e Canções e momentos. “São obras musicalmente difíceis, mas de uma beleza única.
Em cena, serão 28 músicos com instrumentos de cordas e uma banda. É uma responsabilidade grande levar isso para o palco, ainda mais em um projeto que o próprio Fernando Brant começou a tocar em vida. Ele concebeu isso conosco. Não é simplesmente uma homenagem, só porque ele se foi”, salienta.
PALAVRA O foco da produção é a palavra e, sobretudo, a poesia de Fernando Brant. Por isso, a ideia foi encontrar alguém que pudesse cantar como se sua voz fosse mais um instrumento no palco. “Quando trabalhei no disco e show Amigo (1995) com o Milton, a gente tinha uma orquestra. Mas a voz do Bituca é tão potente que ofusca a sonoridade. Agora, a gente queria uma pessoa que respeitasse, no bom sentido, essa coisa do som, da harmonia, como se fosse uma coisa só. A palavra é que é a força desse espetáculo”, diz Lage.
A escolhida para os vocais foi Leopoldina, de 39 anos, que soma 15 de estrada. A cantora é de Campos Gerais, no Sul de Minas, coincidentemente a mesma região onde fica a cidade natal de Fernando Brant, Caldas. “E a minha cidade é vizinha de Três Pontas, terra do Milton Nascimento. Eu era bem menina e já cantava Maria Maria, Ponta de areia e frequentava os shows dele. São músicas que sempre fizeram parte da minha vida; é minha cama musical. O que estou vivendo é um sonho. Quando fui convidada, fiquei emocionada. Fernando Brant é o poeta de Minas Gerais. Apesar de ele não estar mais aqui fisicamente, estará de outra maneira. Podem se preparar que virá muita emoção”, afirma ela.
Responsável pelos arranjos, o violinista Mateus Freire conta que foi um desafio criar algo novo, ainda mais para músicas tão conhecidas. No entanto, acredita que o resultado ficou à altura do homenageado. “Já fizeram quase tudo em cima de Nos bailes da vida, Travessia, então não foi fácil. Mas é uma característica da própria Orquestra Ouro Preto ter essa coisa da criatividade. A gente inova, mas sem perder a originalidade, a essência”, analisa.
Paraibano, Mateus diz que sua família sempre foi muito musical e se lembra com carinho da mãe cantando Maria, Maria. “Sou fã do pessoal do Clube da Esquina, do próprio Fernando, do Milton e dessa parceria que criou obras-primas da nossa música. Nunca imaginei que um dia fosse trabalhar e escrever em cima dessas composições que marcaram a minha vida e a de tanta gente. Com esse material nas mãos, a expectativa é a melhor possível. É como ocorreu com o projeto dos Beatles. Não tem como não dar certo, porque é Beatles. Agora é a mesma coisa. É música do Fernando Brant. Não tem erro. Todo mundo gosta, se identifica.”
A estreia de Quem perguntou por mim vai representar uma dupla celebração – vai festejar, além da obra de Brant, a recuperação dos equipamentos de gravação e instrumentos musicais da Orquestra Ouro Preto, que foram furtados em março. “Recuperamos tudo. O momento é de comemorar. A ideia é que esse trabalho se transforme em um DVD, como ocorreu com o Valencianas e que circule em turnê pelo país”, diz Rodrigo Toffolo.
Quem perguntou por mim Orquestra Ouro Preto e Fernando Brant
Dias 16 e 17, às 21h, e dia 18, às 19h30, no Palácio das artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. ( 31) 3236-7400. Ingressos: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia). Vendas: bilheteria do Palácio das Artes ou pelo site www.ingressorapido.com.br
Repertório
1 – Sentinela
2 – Quem perguntou
por mim
3 – Saudades dos aviões da Panair (Conversando no Bar)
4 – Ponta de areia
5 – Canção da América
6 – Milagre dos peixes
7 – Maria Maria
8 – Nos bailes da vida
9 – Canções e momentos
10 – Travessia
11 – Encontros e despedidas
12 – San Vicente
13 – Fruta boa