Os anos dourados de Mallu estão em seu quarto disco de estúdio, Vem, a ser lançado nesta sexta-feira, 9. O trabalho reúne 12 canções e marca o fim dos cinco anos de jejum em sua carreira solo. Em Pitanga, seu terceiro disco, Mallu havia flertado com a bossa nova, na faixa Ô Ana. Depois disso, mergulhou no projeto Banda do mar (2014), ao lado do marido, Marcelo Camelo, e do baterista português Fred Ferreira.
Da empreitada nasceu um novo lar e uma integrante para a família. Mallu e Camelo se mudaram para Lisboa e, em 2015, tiveram sua primeira filha, Luisa. Seis meses depois, a pequena ganhou uma música composta pela mãe, Casa pronta, anunciando que um novo disco estava em gestação.
Vem foi criado nessa atmosfera de novidade e mostra que Mallu abandonou o referencial da música americana para se dedicar a uma ode à música brasileira.
O ambiente em que Mallu Magalhães se encontra neste novo disco tem espaço para as questões que transitam pelo mundo – como o amor, as festas ou os lugares por onde passou – emolduradas por ritmos brasileiros – o samba e até mesmo o axé comparecem, além da bossa nova. Na segunda faixa, Culpa do amor, ela arrisca um samba rock com letra sobre a o banal do cotidiano de um casal. A primeira parte do disco se encerra com Casa pronta, que, nessa versão, ganhou novos instrumentos.
O pop rock de Mallu entra na faixa Vai e vem e prova que ela continua uma boa frasista. “A felicidade vem nos microssegundos”, canta. A quinta é a rápida Será que um dia, música que destaca a presença e a influência dos metais na composição do trabalho e soa como uma canção perdida de Los Hermanos, o que se pode atribuir à presença de Camelo e Rodrigo Amarante na produção.
Pelo Telefone retoma as referências brasileiras e se mostra interessante pela ironia das frases, além de justificar a falta de músicas românticas no disco, o que antes parecia indispensável. Mallu não está nos melhores dias para falar de amor, como ela mesma diz. Navegador é uma balada sobre uma relação amorosa complicada, com o atenuante de um ritmo que remete às músicas dos anos 1960.
Guanabara e São Paulo trazem um clima praiano e tranquilo em meio a um instrumental com viradas de tom interessantes. A segunda, inclusive, remete ao axé baiano, ainda que de forma sutil. O grande trunfo do álbum está em Gigi. Nela, Mallu explora sua voz de uma forma inédita, cantando imagens psicodélicas. Na décima primeira faixa, Love you, retoma o início da carreira com uma letra ingênua em inglês para, na última música, Linha verde, aportar na tradicional música lusitana com direito a guitarra portuguesa e ritmo de fado.
Mallu Magalhães cresceu, amadureceu e, aos 24 anos é um dos nomes proeminentes da música popular brasileira. Em seu experimento com a bossa nova, ela decidiu não ser fiel ao gênero e atualizá-lo, criando uma espécie de neo bossa nova, que dialoga tanto com o rock quanto com o pop.
Palatável e simples, Vem é o tipo de disco comercialmente aceitável que vai reiterar o lugar de Mallu Magalhães na música brasileira. Como canta na primeira faixa, ela ainda mantém suas diretrizes – começa o disco no Brasil e termina em Portugal, sem experimentações ousadas. Só resta compreender se esse caso com a música brasileira nasceu da estranheza e do distanciamento ou se é um fruto da saudade.
Vem
>> Artista: Mallu Magalhães
>> Gravadora: Sony Music
>> Preço sugerido: R$ 39,90