A trajetória do saxofonista e compositor americano Wayne Shorter é das mais sólidas da história do jazz. Nos anos 1950, fez parte dos Jazz Messengers, do baterista Art Blakey. Em 1964, substituiu nada mais nada menos que John Coltrane no célebre quinteto de Miles Davis. Em 1970, deixou o grupo do trompetista para formar o Weather Report, muito provavelmente o mais original combo do jazz contemporâneo. E foi fundamental para consolidar a carreira de Milton Nascimento no mercado internacional com o belo álbum Native dancer, de 1974.
EDUCAÇÃO Antonio Adolfo, fã do americano desde que começou a carreira profissional, foi destaque na era dos festivais com composições como Sá Marina, Teletema e Juliana. Acompanhou Leny Andrade no Beco das Garrafas, fundou grupos importantes como o Trio 3-D e A Brazuca e, em 1977, gravou e lançou um marco da música independente, o LP Feito em casa, que produziu, gravou e até fez a capa, além de vender de loja em loja pelo país. Na década de 1980, fundou uma escola de música e, desde então, vive entre Brasil e Estados Unidos, ensinando e tocando música. Nos últimos 10 anos, vem gravando com frequência e recebendo elogios e homenagens pelos trabalhos, como indicações ao Grammy Latino e dois troféus do Brazilian Internacional Press Award, que premia discos de brasileiros lançados nos Estados Unidos.
A influência mútua de Shorter sobre os músicos brasileiros e os ecos de outras culturas, incluindo a nossa, na sua trajetória são um ponto nevrálgico do projeto. Os arranjos e o piano de Antonio Adolfo lançam luzes delicadas sobre clássicos como Speak no evil, E.S.P., Footprints, Beauty and the beast, Prince of darkness e Ana Maria, que dialoga com os temas de Milton em Native dancer. E o Afosamba funciona como uma tese de mestrado sobre os diálogos interculturais.
O grupo reunido pelo pianista tem, claro, destaque para o sax de Marcelo Martins, que faz o “papel” de Wayne Shorter com desenvoltura e dialoga com os sopros de Jessé Sadoc (trompete) e Serginho Trombone, a percussão de Rafael Barata e André Siqueira, o baixo de Jorge Helder, a guitarra de Lula Galvão e o violão de Claudio Spiewak. O cantor e compositor Zé Renato, que construiu parcerias com os guitarristas Pat Metheny e Al Di Meola, reafirma sua porção jazzística numa participação mais do especial nos vocais de Footprints.
Gravado no Rio, em dezembro do ano passado, o CD foi recebido por muitos especialistas como o melhor trabalho de Antonio Adolfo. No ano em que se celebram as quatro décadas do álbum Viralata, é, sem dúvida, uma demonstração de maturidade artística e de consagração de um estilo tão brasileiro quanto universal.
HYBRIDO – FROM RIO TO WAYNE SHORTER
De Antonio Adolfo
AAM Music
Nove faixas
www.antonioadolfomusic.com.