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Odair foi um dos artistas mais perseguidos nos anos 1970, por conta da Lei da Censura na ditadura. A extensiva atenção que os censores dedicavam às letras dele foi analisada pelo pesquisador Ivan Lima, na dissertação de mestrado em história “Ame, assuma e consuma: Canções, censura e crônicas sociais no Brasil de Odair José (1972-1979)”. “O que me chamou a atenção foi o número de reincidências. Ele foi muito censurado”.
Estima-se que pelo menos 40 letras foram vetadas em sua versão original. Na maioria dos casos, a participação de advogados das gravadoras e modificações nas canções garantiam liberação posterior. Mas algumas sanções foram mais severas, explica Lima. “Vou tirar você desse lugar (1972), por exemplo, saiu apenas em compacto”, diz o historiador, explicando que, embora tenha passado despercebida pelos censores inicialmente, a música acabou não entrando no disco seguinte do autor, como seria o esperado, já que a faixa foi grande sucesso na época. Algo parecido ocorreu com O filho de José e Maria, que acabou sendo recolhido pela gravadora e levando o músico a ser demitido.
“Através das letras desse artista, estabelecemos uma análise do país em um momento de repressão moral e política e de radicalização também no meio artístico”, analisa Lima na dissertação. “Aspectos do cotidiano popular, das relações amorosas, polêmicas sociais, transgressões morais e censura foram características essenciais dessa obra”, aponta.
HISTÓRIAS DE PROIBIÇÃO
Algumas das canções
» A primeira noite
A perseguição levou o músico a objetar várias das proibições impostas, ao ponto do músico procurar,
em 1974, o general Golbery Couto e Silva, chefe de gabinete civil de Geisel, para discutir sobre a situação. Sem sucesso nas negociações, Odair José mudou a letra de A primeira noite, vetada também por ser considerada de moral duvidosa para os jovens. A faixa acabou sendo modificada, inclusive
no título, que virou Noite de desejo.
» Amantes
Outro caso foi a música Amantes, que teve o veto justificado no documento por conta da “Ligação Amorosa Irregular e comentários pouco convenientes”. Para Lima, “essas argumentações evidenciam a censura ao que fosse moralmente condenável. O casamento como instituição é atribuído como algo que não podia ser arranhado”. O pesquisador lembra também que o divórcio ainda não era legalmente instituído em 1974.
» Em qualquer lugar
Nem sempre as mudanças no conteúdo ou negociações com o DCDP garantiam aprovação de letras inicialmente vetadas. Em qualquer lugar é um dos exemplos: a letra foi analisada por 12 diferentes censores em quatro processos distintos e, em 15 de junho de 1973, o parecer definitivo do órgão proibiu a gravação.
O problema alegado era conteúdo, considerado imoral, sugerindo a prática sexual em qualquer ambiente.