O músico Renato Barros não se esquece da primeira apresentação, no programa Hoje é dia de rock, da Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Tinha uns 16 anos e era fã da atração, que reunia jovens na porta da emissora. Foi surpreendido por Jair de Taumaturgo, diretor do programa, que o convidou a se apresentar no rádio. “Ele acabou nos inscrevendo. Eu nem esperava. Quando ele me perguntou como se chamava o meu conjunto, fiquei sem saber o que respondia. Lembrei-me de um bloco de carnaval lá no bairro onde a gente morava, Piedade, no subúrbio carioca, que se chamava Bacaninha da Piedade. Aí, eu só acrescentei o rock”, conta o artista, que completa 74 anos em setembro.
A apresentação do grupo Bacaninhas do Rock da Piedade, ao vivo, na Mayrink Veiga, foi um fracasso. A banda foi vaiada. “Fiquei traumatizado. Minha mãe fez as nossas roupas e tudo. Depois daquilo, falei que nunca mais ia levar uma vaia na vida. Foi a primeira e a última vez”, relata. A péssima experiência inicial serviu de estímulo para que Renato e seus companheiros – incluindo os irmãos Paulo César e Edson Barros (mais tarde Ed Wilson) – não desistissem.
Jair, também integrante da banda, sugeriu mudar o nome. “Ele falou que Bacaninhas do Rock da Piedade era muito ridículo e nós concordamos”, lembra Renato. “Ele começou a desfilar um monte de sugestões: Renato e seus Cometas, Renato e não sei mais o quê. E aí veio Renato & seus Blue Caps (chapéus azuis), inspirado no conjunto norte-americano Gene Vincent and his Blue Caps, de quem a gente era fã”, revela.
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O artista carioca cita algumas das razões de a banda estar na estrada há tanto tempo e ainda manter um séquito de fãs. Em primeiro lugar, a dedicação e a paixão pelo trabalho. “A gente tem que amar muito e respeitar o que faz, porque desta forma a gente também respeita e ama o público, que é o grande responsável por tudo isso. Outra coisa é não parar no tempo e estar sempre nos reciclando, descobrindo coisas novas. E, neste novo show, as pessoas vão perceber isso”, adianta.
Além dos sucessos que marcaram a trajetória de Renato & seus Blue Caps – Menina linda, Feche os olhos, Playboy e Ana –, Renato vai mostrar seu trabalho autoral, trazendo clássicos como Devolva-me. “A gente pegou as músicas mais emblemáticas, mas tivemos que deixar muita coisa de fora. Vamos ter algumas surpresas. A ideia é homenagear figuras que foram importantes para a gente e que me estimularam a compor. Só adianto que serão dois artistas brasileiros e um americano”, diz.
JOVEM GUARDA Renato acredita que a arte está no sangue. A mãe foi cantora na Rádio Nacional e abandonou a profissão para se casar. O pai chegou a fazer pontas em filmes da Atlântida. Mesmo não seguindo a carreira musical, a mãe fez questão de transmitir aos três filhos tudo o que sabia. “Ela nos ensinou a cantar, tocar violão, tanto que nós três viramos músicos. Infelizmente, o Ed Wilson (cantor e compositor) faleceu, mas eu e o Paulo César ainda estamos aí”, frisa.
Apesar de marcados como representante da Jovem Guarda, Renato Barros faz questão de ressaltar que o grupo surgiu bem antes do movimento musical e foram parar na “turma do iê-iê-iê” por acaso. Morando no Rio, eles não tinham conhecimento sobre o que acontecia no resto do país.
“Um dia, o Marcos Lázaro, empresário e homem que criou toda essa história, nos convidou para participar de um programa chamado Jovem Guarda, exibido na TV Record. A gente nem tinha ideia do que era e, quando ele contou que nossa música Menina linda estava nas paradas de sucesso, nem acreditamos. Assinamos contrato, nos apresentamos durante algum tempo e foi um estouro. A Jovem Guarda foi algo muito forte mesmo, bem popular. A Bossa Nova, que é maravilhosa, não teve o mesmo reconhecimento no Brasil, infelizmente”, analisa.
Antenado com as novidades e com algumas ressalvas, o artista exalta a importância da nossa diversidade musical. “É complicado julgar o atual momento da música brasileira. Acompanho muita coisa no YouTube e sempre tem coisas novas e boas surgindo”, afirma, mencionando que passou a admirar Anitta. “Na MPB, a gente tem muita coisa de qualidade. Pena que o mercado está inflacionado e não consegue responder a tanta demanda. Mas o bacana é que tem muio jovem tocando, cantando e se dedicando cada vez mais à música. Isso já é positivo”, destaca.
RENATO E SEUS BLUE CAPS
Quinta (20), às 20h30, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro, (31) 3201-5211). Ingressos: Plateia 1: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); Plateia 2: R$ 100 (inteira) e R$50 (meia).