Com quase 60 anos de estrada, Renato & seus Blue Caps tocam em BH

Único remanescente da formação original, Renato Barros conta que segredo da longevidade é respeito ao público e paixão pelo trabalho

Ana Clara Brant 19/04/2017 08:58

Renato & seus Blue Caps/Divulgação
(foto: Renato & seus Blue Caps/Divulgação )
O músico Renato Barros não se esquece da primeira apresentação, no programa Hoje é dia de rock, da Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Tinha uns 16 anos e era fã da atração, que reunia jovens na porta da emissora. Foi surpreendido por Jair de Taumaturgo, diretor do programa, que o convidou a se apresentar no rádio. “Ele acabou nos inscrevendo. Eu nem esperava. Quando ele me perguntou como se chamava o meu conjunto, fiquei sem saber o que respondia. Lembrei-me de um bloco de carnaval lá no bairro onde a gente morava, Piedade, no subúrbio carioca, que se chamava Bacaninha da Piedade. Aí, eu só acrescentei o rock”, conta o artista, que completa 74 anos em setembro.

A apresentação do grupo Bacaninhas do Rock da Piedade, ao vivo, na Mayrink Veiga, foi um fracasso.  A banda foi vaiada. “Fiquei traumatizado. Minha mãe fez as nossas roupas e tudo. Depois daquilo, falei que nunca mais ia levar uma vaia na vida. Foi a primeira e a última vez”, relata. A péssima experiência inicial serviu de estímulo para que Renato e seus companheiros – incluindo os irmãos Paulo César e Edson Barros (mais tarde Ed Wilson) – não desistissem.

 

Jair, também integrante da banda, sugeriu mudar o nome. “Ele falou que Bacaninhas do Rock da Piedade era muito ridículo e nós concordamos”, lembra Renato. “Ele começou a desfilar um monte de sugestões: Renato e seus Cometas, Renato e não sei mais o quê. E aí veio Renato & seus Blue Caps (chapéus azuis), inspirado no conjunto norte-americano Gene Vincent and his Blue Caps, de quem a gente era fã”, revela.

Desde então, o grupo não parou mais e mantém a atividade há quase seis décadas, um dos mais longevos do mundo. Nesta quinta (20), Renato (vocais e guitarra) – único integrante da formação original –, ao lado de Cid Chaves (saxofone e vocal), Darci Velasco (teclado), Amadeu Signorelli (baixo) e Gelsinho Moraes (bateria), se apresenta no Cine Theatro Brasil Vallourec. “BH sempre foi uma das praças que nos receberam muito bem. Tem um tempinho que não vamos aí, vai ser ótimo para matar a saudade”, avisa.

O artista carioca cita algumas das razões de a banda estar na estrada há tanto tempo e ainda manter um séquito de fãs. Em primeiro lugar, a dedicação e a paixão pelo trabalho. “A gente tem que amar muito e respeitar o que faz, porque desta forma a gente também respeita e ama o público, que é o grande responsável por tudo isso. Outra coisa é não parar no tempo e estar sempre nos reciclando, descobrindo coisas novas. E, neste novo show, as pessoas vão perceber isso”, adianta.

Além dos sucessos que marcaram a trajetória de Renato & seus Blue Caps – Menina linda, Feche os olhos, Playboy e Ana –, Renato vai mostrar seu trabalho autoral, trazendo clássicos como Devolva-me. “A gente pegou as músicas mais emblemáticas, mas tivemos que deixar muita coisa de fora. Vamos ter algumas surpresas. A ideia é homenagear figuras que foram importantes para a gente e que me estimularam a compor. Só adianto que serão dois artistas brasileiros e um americano”, diz.

JOVEM GUARDA
Renato acredita que a arte está no sangue. A mãe foi cantora na Rádio Nacional e abandonou a profissão para se casar. O pai chegou a fazer pontas em filmes da Atlântida. Mesmo não seguindo a carreira musical, a mãe fez questão de transmitir aos três filhos tudo o que sabia. “Ela nos ensinou a cantar, tocar violão, tanto que nós três viramos músicos. Infelizmente, o Ed Wilson (cantor e compositor) faleceu, mas eu e o Paulo César ainda estamos aí”, frisa.

Apesar de marcados como representante da Jovem Guarda, Renato Barros faz questão de ressaltar que o grupo surgiu bem antes do movimento musical e foram parar na “turma do iê-iê-iê” por acaso. Morando no Rio, eles não tinham conhecimento sobre o que acontecia no resto do país.

 

“Um dia, o Marcos Lázaro, empresário e homem que criou toda essa história, nos convidou para participar de um programa chamado Jovem Guarda, exibido na TV Record. A gente nem tinha ideia do que era e, quando ele contou que nossa música Menina linda estava nas paradas de sucesso, nem acreditamos. Assinamos contrato, nos apresentamos durante algum tempo e foi um estouro. A Jovem Guarda foi algo muito forte mesmo, bem popular. A Bossa Nova, que é maravilhosa, não teve o mesmo reconhecimento no Brasil, infelizmente”, analisa.

Antenado com as novidades e com algumas ressalvas, o artista exalta a importância da nossa diversidade musical. “É complicado julgar o atual momento da música brasileira. Acompanho muita coisa no YouTube e sempre tem coisas novas e boas surgindo”, afirma, mencionando que passou a admirar Anitta. “Na MPB, a gente tem muita coisa de qualidade. Pena que o mercado está inflacionado e não consegue responder a tanta demanda. Mas o bacana é que tem muio jovem tocando, cantando e se dedicando cada vez mais à música. Isso já é positivo”, destaca.

RENATO E SEUS BLUE CAPS

Quinta (20), às 20h30, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro, (31) 3201-5211). Ingressos: Plateia 1: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); Plateia 2: R$ 100 (inteira) e R$50 (meia).

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