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Olívia e Francis Hime homenageiam Vinicius de Moraes em novo disco

Sem mais adeus celebra o amor e a amizade e turnê deve chegar a Belo Horizonte no primeiro semestre, depois de rodar o mundo

Ana Clara Brant

Juntos há 53 anos, Olívia e Francis Heime começaram a namorar graças à uma forcinha de Vinicius - Foto: Joaquim Nabuco/Divulgação

Um disco, claro, tem a música como matéria-prima. Mas há aqueles que vêm recheados de muitas histórias. É o caso de Sem mais adeus – Uma homenagem a Vinicius (Biscoito Fino), projeto do casal Olivia e Francis Hime.

A faixa-título começa com o relato do compositor e pianista carioca sobre como se deu o processo de criação da canção. Em 1962, numa tarde em Ipanema, Vinicius de Moraes chegou a um bar e deixou um guardanapo de papel na frente de Francis. Era a primeira parceria dos dois.

O Poetinha sempre esteve presente na vida de Francis Hime. Em certa ocasião, sua mãe, a pintora Dalia Antonina, reuniu amigos. Um deles era justamente o cantor, compositor e diplomata. “Tinha 15 anos e havia um piano de cauda lá em casa. Já estudava o instrumento desde os 6, acabei tocando para o Vinicius uma de suas criações, Valsa de Eurídice. Toquei cheio de energia, foi uma emoção. Ele comentou com minha mãe: ‘Não deixa esse menino ser engenheiro, porque o negócio dele é a música’”, relata Francis.

Realmente, não teve jeito
. Apesar de ter concluído o curso de engenharia, a paixão pela arte falou mais alto. No dia de sua formatura, com cerimônia em pleno Maracanãzinho, Francis estava em São Paulo inaugurando uma TV. “Não dá pra ser contra o que a gente é”, resume.

CUPIDO Vinicius foi uma espécie de cupido do jovem compositor e Olivia Hime. Em 1964, o poeta rascunhou a letra de Saudade de amar num papel para os dois cantarem. “Vinicius rabiscava, mostrava pra mim e eu tocava. Depois mostrava pra Olivia e ela cantava. Ficou nesse vaivém até que começamos a namorar”, lembra.
Já são 53 anos de união, que renderam ao casal três filhas e quatro netas, além de vários projetos pessoais e profissionais. “Sempre trabalhamos juntos na coxia da nossa casa. Em 2011, percebemos que nunca tínhamos feito um disco juntos. Foi assim que surgiu o álbum Alma música
. Agora a gente decidiu repetir a parceria e homenagear uma figura importantíssima não só pra gente como para o Brasil”, diz Olivia.

A ideia surgiu em 2013, ano do centenário de nascimento de Vinicius de Moraes. Os dois perceberam que nenhuma das homenagens programadas passava pelo Itamaraty, apesar de o Poetinha ter sido diplomata. Surgiu o show, com o apoio de algumas embaixadas. “Rodamos vários países, entre eles Finlândia, Noruega, China e Alemanha. É impressionante como o público estrangeiro entende e gosta de música brasileira. A MPB é muito respeitada fora do Brasil”, observa Olivia Hime.

Neste domingo, ela e o marido vão se apresentar no Kuweit, no Oriente Médio. “Fomos convidados por nossa embaixada para mostrar a música brasileira àquele país. Além de Vinicius, vamos tocar Tom Jobim, Ary Barroso e Luiz Gonzaga. Como somos apenas eu e Francis no formato voz e piano, facilita viajar”, comenta a cantora.
O repertório do show, que acaba de virar disco, traz pérolas como as duas canções que marcaram a trajetória dos Hime (Valsa de Eurídice e Saudade de amar), assim como A felicidade, Chega de saudade, Canto de Ossanha, Samba da bênção, Coisa mais linda, Berimbau e Água de beber.

MOVIMENTO Diretora artística da gravadora Biscoito Fino, Olivia Hime não faz parte do grupo que critica o cenário contemporâneo da MPB. Para ela, a música está em constante movimento. “Não sou da turma dos pessimistas. A gente tem que deixar o rio fluir. Não dá para segurar a força das águas, que já nos trouxeram Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e Noel Rosa, desembocando em Francis Hime, Chico Buarque, Toninho Horta, Milton Nascimento, Gilberto Gil e por aí vai”, frisa.

Olívia reforça a tese de que nem tudo o que é novidade é ruim. Mesmo que não conheça ou não goste de determinado gênero ou estética musical, considera presunçosos os prejulgamentos. “Meus filhos me mostram muitas coisas que estão surgindo, porque a gente tem que ao menos conhecer. Não podemos ficar na ideia fixa de que tudo o que é bom acabou, e não vai surgir mais nada. O Brasil é um país jovem, imenso e com muita riqueza neste mundo de criatividade, beleza e loucura”, defende.

JOVENS Francis Hime acredita na criatividade do brasileiro e na força da MPB. “É uma fonte inesgotável de diversidade. Se o Vinicius estivesse por aqui, teria uma visão mais positiva e esperançosa das coisas. Como sempre incentivou muito os jovens, ele se encantaria com a juventude que está aí frequentando a Lapa, sobretudo a garotada do choro”, diz, referindo-se ao point da cultura – e do samba – carioca. “O Poetinha se engajaria ao lado das pessoas que tentam dar força e ânimo à música brasileira”, aposta.

Este mês, a turnê de Sem mais adeus chega ao Rio de Janeiro. O casal Hime planeja fazer shows em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo neste primeiro semestre.

 

Com Adriana 

Um sequestrador, a última faixa do disco Sem mais adeus, seria, inicialmente, parceria de Vinicius de Moraes e Francis Hime. Mas a canção acabou ganhando letra de Adriana Calcanhotto (foto). “Um tempo depois da morte do Vinicius, Francis conheceu a Adriana e tiveram uma ótima empatia. Então, ele a convidou para botar a letra naquela música, que tinha quase 50 anos. Ela sofreu, disse que não teria coragem, mas o resultado ficou ótimo”, conta Olivia Hime. Adriana participa de duas faixas do novo álbum do casal: Um sequestrador e Samba de Maria.
SEM MAIS ADEUS

Uma homenagem a Vinicius
. De Olivia e Francis Hime
. Biscoito Fino, 27 faixas
. R$ 29,90

 

Ouça: