“A ideia inicial era registrar esse encontro, mas o feed back foi tão bom que a gente decidiu colocar na estrada, mesmo que em uma turnê pequena”, conta Silva. A capital mineira recebe a oitava apresentação do giro, que já passou por São Paulo, Espírito Santo, Campinas e Santo André. A última vez que esteve na cidade, o músico se apresentou n’Autêntica, com o show do disco Júpiter (2015). Agora, mais maduro, ele retorna em palco maior e com o público acomodado em cadeiras. “No teatro, as pessoas sentam, ouvem, cantam e principalmente assistem.
No repertório, uma série de canções que fizeram parte da carreira de Marisa Monte, contando com as 12 que compõem o disco. Ao todo, Silva canta 22. “Várias dessas músicas eu reinterpretei para o disco, mas acabaram não entrando para o corte final. Como ela tem uma carreira longa, apesar de ser uma artista nova, a gente decidiu buscar coisas lá de trás, que ela fez e não foram registradas”, conta. Entre elas, a única autoral do disco, Noturna (Nada de novo na noite), composta em parceria com Marisa, e que, no disco, é cantada predominantemente por ela.
Para as apresentações ao vivo, Silva precisou abaixar o tom para que pudesse cantar sozinho o que foi gravado em dueto. “É uma música ‘nível Marisa’. No disco, eu tentei gravar com ela do jeito que o Arnaldo faz, usando a voz mais grave e a dela sobressaindo”, comenta, observando que todos esses processos que envolveram o disco foram muito enriquecedores para ele como cantor.
ÍNTIMO
E Silva garante que já está íntimo das canções. “Tive a sorte de ter um tempo de conhecer as músicas, porque esse projeto foi ganhando corpo aos poucos. Foi um disco feito sem pressa, no qual tive tempo de escolher as músicas e interpretá-las da forma que eu achava interessante”, diz. Aprovados por Marisa, os sons sintetizados, que são a marca do cantor, dão forma e atualizam as músicas, que, ao fim e ao cabo, se tornaram uma homenagem para a artista brasileira.
“É interessante homenagear alguém que ainda está aí, na ativa. Normalmente, as homenagens são para os que já morreram. Por que não homenagear alguém que ainda está aí, viva, trabalhando?’’, questiona.
É isso que sustenta a ausência das músicas autorais do cantor nessas apresentações, o que pode decepcionar o público desavisado. “É o momento de dar férias para o meu repertório. Fiz um show em Campinas e, no meio da apresentação, alguém gritou, ‘Toca Sufoco!’. Brincando, eu disse que a pessoa estava no show errado’’, diverte-se, mas adianta que, para que ninguém saia das apresentações insatisfeito, costuma cantar pelo menos uma de suas canções autorais no final do show.
A atitude, no entanto, também é ‘ nível Marisa’. “No final dos shows, ela canta Bem que se quis a capella, com o público, como uma forma de selar aquele momento. Então, decidi fazer o mesmo, só que com uma das minhas.” A música em questão é Feliz e ponto que, segundo Silva, descreve perfeitamente seu estado de espírito ao ver o que esse projeto se tornou.
NOVOS ARES
Ao contrário da calmaria de sua agenda de shows, a vida de Silva anda agitada. Capixaba, ele sempre viveu em Vitória, a capital do Espírito Santo, mas, agora, aos 28 anos, decidiu alçar voo e se mudar para São Paulo. “Estou nesse processo chatérrimo de achar apartamento”, conta, bem-humorado. Ele revela que, desde 2012, vem sendo pressionado por sua gravadora para sair de sua terra natal.
“Vitória está fora do eixo, mas eu nunca pensei que precisava estar em São Paulo ou no Rio fisicamente para trabalhar. Eu sou da geração da internet, sempre fiz tudo por lá”, justifica.
A mudança, no entanto, não significa que um novo disco autoral é iminente. Desde seu primeiro EP, 2012 (2012), Silva não parou de trabalhar e lançou três discos – Claridão (2012), Vista pro mar (2014) e Júpiter (2015). Silva canta Marisa lhe deu o aval, e ele foi convidado por Lulu Santos para produzir um disco em homenagem a Rita Lee. “Eu me encontrei com ele em Miami e ele disse que estava adorando o meu trabalho, então me convidou para produzir o próximo disco dele”, conta, empolgado. “Já trabalhei com o Lulu antes, mas dessa vez é diferente. Não quero que o disco dele soe Silva, mas, ao mesmo tempo, pretendo achar algo da minha identidade musical que encaixe perfeitamente com a dele”, afirma.
Esses desdobramentos da carreira do capixaba não são aleatórios. Silva tem uma longa história com a música. Ele conta que sua família materna preza muito pelo conhecimento e, desde pequeno, teve contato com música clássica. “Quando eu tinha um ano e meio, minha mãe precisava trabalhar e não tinha com quem me deixar, então eu ia junto com ela e participava de aulas de musicalização”, diz. Seu bacharelado foi em violino e, durante 12 anos, estudou piano clássico. “Sempre fui bombardeado pela música e tinha vontade de virar concertista”, revela.
No entanto, tudo mudou quando ele estudou a música barroca e teve contato com as biografias de figuras como Bach e Vivaldi. “Eu via tudo aquilo que eles fizeram e sempre fui muito questionador. Esses compositores foram contemporâneos em seu tempo. Então, comecei a pensar: por que a gente tem que ser tão retrô sempre? Depois disso, decidi abraçar os instrumentos modernos e criar uma estética que fosse vista como atual. No final, isso virou uma característica minha”, diz ele, que está lado a lado com a era digital, tanto em sua sonoridade, quanto na rapidez de seu trabalho. Silva é um artista do agora.
SILVA CANTA MARISA EM BH
Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Sexta-feira (7/4), às 21h. Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia).