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Letícia Sabatella traz sua Caravana tontería a BH

Artista mineira conta em entrevista como o espetáculo em que interpreta composições próprias e alheias nasceu da vontade de se 'reinventar e encontrar uma forma de transcender'

Pedro Galvão
- Foto: Erika Neves/Divulgação

Presença de destaque na TV, nos palcos e por onde passa, tanto pelo talento artístico quanto pela postura incisiva sobre questões políticas e sociais, a belo-horizontina Letícia Sabatella é acostumada a transitar entre diferentes linguagens e cenários. Mas dessa vez é a música que dá o ritmo. Neste fim de semana, ela traz à sua terra natal o espetáculo Caravana tontería, com duas apresentações no Teatro Sesiminas.

“É uma mistura, mas é mais cantora. Tem a compositora, a cantora e a atriz, mas é um show”, assim a multiartista define sua performance, feita em parceria com os músicos Paulo Braga, Zéli Silva e Fernando Alves Pinto, seu marido. Todos sob a direção de Arrigo Barnabé. Única mulher no grupo, Letícia afirma: “Eu me sinto uma privilegiada de estar com tantos homens a meu favor. A gente passa por tanta coisa no país, é muito legal ter um grupo de homens bacanas do seu lado te dando apoio, te dando voz, não competindo ou querendo te anular, é lindo”, descreve.

A voz da estrela principal é acompanhada pelo piano de Paulo, o contrabaixo de Zéli e pelo trompete, serrote, voz e violão do multi-instrumentista Fernando. O repertório apresentado por eles inclui oito composições dela e outras sete de outros artistas. As versões englobam Geni e o zepelim, de Chico Buarque, Arrumação, de Elomar, e Nana’s lied, de Kurt Weill e Bertolt Brecht.

Acostumada a cantar desde que iniciou sua carreira artística, ainda criança, ela encontrou na música um novo norte em sua carreira. “Eu vinha de uma sequência de muitas gravações, muito trabalho, uma delas, especificamente, Caminho das Índias (2009), foi muito estressante. Então comecei a gravar melodias que me vinham à cabeça, ia solfejando e gravando, era um escapismo, uma forma de transcender, sentia uma necessidade muito grande de me reinventar, de abrir outro canal”, afirma a atriz, que coleciona mais de 30 trabalhos na televisão e outros 18 no cinema.

A vontade de se expressar pela música levou a mineira para Buenos Aires, onde faria aulas de tango
. Inspirada por um artista de rua local, ela retornou ao Brasil e compôs Tontería, que acabou fazendo parte da etapa brasileira do Campeonato Mundial de Tango, em 2010. Era o primeiro passo para a formação da Caravana, que surgiu após alguns encontros musicais com Paulo Braga. A parceria rendeu algumas gravações, que logo foram parar no YouTube, e surgiu o convite para a Virada Cultural de São Paulo em 2014.

TURNÊ

Foi o ponto de partida da turnê que já passou por diversas cidades brasileiras, entre capitais e interior, além de Nova York, nos EUA. “A gente se valeu desse formato de cabaré, de caravana, da teatralidade, a gente se imagina um grupo de pessoas itinerantes que vai viajando por vários lugares e recebendo influências, do jazz ao samba. Em um primeiro momento, pensei num show que fosse popular para a Virada Cultural. As minhas músicas são meio jazz, poderiam ficar herméticas, mas a gente experimentou isso em praça pública no interior, diante pessoas de várias idades, e na Zona Sul carioca, e a gente viu que é uma comunicação imediata com o público”, explica Letícia, satisfeita com o resultado do projeto.

Sem medo de se mostrar politizada e engajada pelas causas humanitárias, ela já foi vítima do clima de ódio e intolerância consequentes da polaridade de ideais que tomou o país recentemente. Contrária ao impeachment, no ano passado ela chegou a ser alvo de insultos e agressões quando passava por uma praça de Curitiba onde ocorria uma manifestação contra o governo de Dilma Rousseff e o PT. No entanto, com sua Caravana na estrada, ela garante que está recebendo outro tipo de reação das pessoas.

“A recepção tem sido muito amorosa. A gente tem conseguido lotar os teatros com pessoas adeptas de combater a intolerância, que compactuam com essa proteção a valores essenciais e humanos. Eu me sinto honrada, porque vejo uma plateia cada vez mais amorosa, lúcida e consciente em torno de mim
. Tudo que as pessoas que xingam desejam é que você não tenha público, como se a maioria estivesse nessa mesma onda de odiar, massacrar, de humilhar, mas tenho percebido é que as salas têm enchido de pessoas que querem combater esse autoritarismo que se impõe febrilmente no nosso país”, garante Letícia.

De volta à terra natal, Letícia aguarda pelo mesmo afeto por parte do público. “Já estou recebendo mensagens lindas, acho que vai ser um show muito comovente, é uma cidade especial para mim. Eu nasci em BH, minha filha nasceu em BH, tenho amigos e irmãos em BH. Estar aí sempre é um encontro de velhos amigos, mesmo com os novos amigos. Sempre que vou me sinto em casa, é como ter uma família. Não é demagogia, é verdade, é o sotaque, o jeito de falar, o jeito de ser”, garante a belo-horizontina, de 46 anos, que se mudou para Curitiba ainda na infância, antes de retornar à capital mineira na vida adulta.

Caravana tontería

Com Letícia Sabatella, Paulo Braga, Zéli Silva e Fernando Alves Pinto. Hoje, às 20h, e amanhã, às 18h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos: R$ 50  e R$ 25 (meia). Classificação: livre.


PREPARE-SE PARA OUVIR

Confira o repertório do show

» 1- Parapoupi (Letícia Sabatella)
» 2- Cabia-me (Letícia Sabatella)
» 3- Jazzini3 (Letícia Sabatella)
» 4- Tontería (Letícia Sabatella)
» 5- What a wonderful world (George David Weissi e Bob Thielle)
» 6- You’be so nice to come home to (Cole Porter)
» 7- Eu sei que sou teu mal (Letícia Sabatella)
» 8- Silent kindness (Letícia Sabatella)
» 9- Os olhos da mariposa (Letícia Sabatella)
» 10- Geni e o zepelim (Chico Buarque)
» 11- Nana’s lied (Kurt Weill e Bertolt Brecht)
» 12- Arrumação (Elomar)
» 13- Alma ausente (García Lorca)
» 14- Duermete, niño (De Falla)
» 15- Partidas (Letícia Sabatella)