Gabriel Guedes, de 39 anos, filho de Beto Guedes, sempre teve o disco solo de Lô como um de seus preferidos. “O fato de conviver com o pessoal do Clube da Esquina e de gostar da boa música acabou me fazendo descobrir essa preciosidade. Esse LP sempre esteve lá em casa. Adoro, ficava intrigado com aquela imagem do tênis sujo na capa. Outro dia, o Lô comentou comigo que, quando gravou esse trabalho, ele estava meio disperso, solto, era muito jovem e com a gravadora em cima.
Para Gabriel, é impressionante a solidez que Lô exibia já no início da carreira. As canções Fio da navalha (Lô Borges) e O caçador (parceria com Márcio Borges) são obras-primas, diz. “As melodias são bem construídas, as letras. É um disco maduro, mesmo para quem tinha pouca idade. Por isso ele se tornou clássico”, afirma o músico, que se mudou há três meses para Trancoso, na Bahia.
Da mesma geração de Gabriel, o cantor e compositor Rodrigo Borges, de 41, sobrinho de Lô, observa que o álbum, com a capa icônica, traz o DNA de sua família e o ambiente da casa dos avós, Maricota e Salomão. “Tem a cara de Santa Tereza, cheiro de asfalto, está impregnado de esquinas e histórias. É uma criação totalmente original”, pontua.
Rodrigo sempre cantou músicas do LP em seus shows. “É um marco não só na carreira do Lô, mas da música mineira e brasileira. Ele tem um frescor, traz a mistura de elementos, uma sonoridade meio crua. Sem contar que reuniu um time de primeira. Aquela geração estava começando, mas mostrou a que veio. O ‘Disco do Tênis’ experimenta várias coisas e acabei incorporando isso à minha essência de compositor”, revela.
PSICODELIA Quando o primeiro disco solo de Lô Borges chegou ao mercado, Samuel Rosa tinha apenas 6 anos. Só o descobriu quase adulto.
Samuel considera o álbum essencial em sua própria formação artística. Chegou a cantar uma das faixas, Você fica melhor assim (Lô Borges /Tavinho Moura), no início da carreira. “Curiosamente, anos depois, o Skank a gravou com o Lô em uma coletânea da Sony. A métrica do Lô é muito correta, ele criou melodias lindas, muitas vezes até antes de as letras ficarem prontas. É um disco maravilhoso, muito autêntico, representa tudo o que Lô Borges vivia naquela época e o consolidou como um dos grandes expoentes da composição no país”, declara.
A cantora Marina Machado, que nasceu no ano de lançamento do disco, escutou música mineira desde criança.
TSUNAMI O álbum é significativo também para músicos mais jovens, como o baixista e compositor Frederico Heliodoro, de 29, e a poeta, compositora e produtora cultural Brisa Marques, de 31. Para Fred, o “Disco do Tênis” é uma das colunas que sustentam o que ficou conhecido como movimento Clube da Esquina.
“Essa estética mineira veio como um tsunami na música brasileira da época, injetando mais elementos ainda na MPB e criando uma identidade para a música de Minas, reconhecida em todo o mundo. Inevitavelmente, morando em Belo Horizonte desde os 5 anos, sempre tive contato com artistas daqui. Essa proximidade me influenciou como baixista e compositor”, acredita o baixista.
Brisa Marques destaca os artistas talentosos que tocaram no disco – Beto Guedes, Toninho Horta, Flavio Venturini e Vermelho, entre outros. Diz que a vitalidade dessa turma e de Lô está nítida nas faixas. Para ela, o LP dialogava de forma eficaz com o que ocorria em Minas e no Brasil naquela época.
“Foi um projeto surpreendente, que conquista fãs até hoje. A impressão que tenho é de que não foi muito bem planejado, mas feito muito mais no sentimento, no fluxo da emoção. Talvez isso explique o resultado tão extraordinário. Quero muito ir ao show. Acredito que essa oportunidade única será um momento mágico”, conclui.
TURNÊ turnê de Lô Borges estreou em janeiro, em São Paulo, com duas sessões e ingressos esgotados, e passou por Juiz de Fora. Além das 15 faixas do “Disco do Tênis”, a apresentação de hoje traz algumas canções do disco Clube da Esquina. No palco, Lô estará acompanhado de Pablo Castro (guitarra, violões, piano e voz), Guilherme De Marco (violão, guitarra e vocal), Dan Oliveira (violão, guitarra, percussão e vocal), Alê Fonseca (teclados), Paulim Sartori (baixo, bandolim, percussão e vocal) e D’Artganan Oliveira (bateria, percussão e vocal)..