A pausa na carreira parece ter deixado Milton bem mais leve. Não que ele não fosse, mas dar uma parada é sempre positivo para poder voltar com todo o gás. Contando casos, brincando com a banda e até fazendo piadas, o cantor levou ao Grande Teatro do Palácio das Artes temas que sempre fizeram parte de sua trajetória: a luta dos negros, temas políticos e sociais e a questão indígena. “Queria dedicar esse show aos meus novos amigos, os índios da nação guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul (MS) que me batizaram. Após a cerimônia, um dos líderes me disse: ‘Agora você se chama Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi, que na nossa língua quer dizer A semente ancestral que germina na terra, ou simplesmente, Semente da terra’”, contou.
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Acompanhado por músicos de primeira – Wilson Lopes (direção musical e cordas), Beto Lopes (violões), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (baixo) e Widor Santiago (sopros) –, Bituca contou com a participação especial da jovem cantora mineira Bárbara Barcellos, que conquistou a plateia com sua bela voz e carisma. Um dos pontos altos da apresentação foi sua interpretação de Sentinela (parceria com Brant)
Complicado Em um determinado momento da apresentação – que teve todos os ingressos vendidos há mais de um mês –, Bituca saiu de cena com o restante dos músicos e avisou: “Agora é com os irmãos Lopes”. “Só o Bituca mesmo para dar esse espaço pra gente”, celebrou Wilson, que ainda deu um recado citando uma letra de Fernando Brant, Saídas e bandeiras: “”O que vocês diriam dessa coisa que não dá mais pé?/O que vocês fariam pra sair dessa maré?’. Está complicado, não é gente?”. Nesse momento, ecoaram vários gritos de “fora, Temer” pelo Palácio das Artes.
Com a banda completa de volta, Milton Nascimento leu em espanhol uma citação do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht antes de interpretar Sueño com serpientes, do cubano Sylvio Rodríguez: “Hay hombres que luchan un día y son buenos. Hay otros que luchan un año y son mejores
Ao longo do espetáculo, outros sucessos da trajetória de mais de meio século do artista foram lembradas: Clube da esquina 2 (em parceria com Lô e Márcio Borges), O cio da terra (com Chico Buarque) e Nada será como antes (com Ronaldo Bastos). “Todo dia me perguntam: ‘Milton, como vai ser a comemoração dos 50 anos de Travessia? E os 45 anos do Clube da Esquina? E sei lá quantos anos disso e daquilo?’. A resposta é simples. Está tudo aqui nesse show. Isso representa Três Pontas, BH, Rio, Bahia, o Sul, Sudeste, Norte, Nordeste, Centro-Oeste e porque não dizer o mundo todo. Nesse show estão nossos discos, nossas lutas e nossos sonhos. Viva a nação guarani kaiowá e viva as minorias do Brasil”, bradou Bituca, que voltou na noite de ontem ao Palácio das Artes, mas, desta vez, na plateia para conferir o show da amiga, a cantora portuguesa Carminho.
No fim, ele convocou ao palco toda a equipe de produção e de bastidores de Semente da terra e foi ovacionado. Mesmo há apenas um ano longe dos holofotes, pelo visto, os fãs estavam com saudades.
• SET LIST DO SHOW
» 1. TRAVESSIA (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 2 A TERCEIRA MARGEM DO RIO (Milton Nascimento e Caetano Veloso)
» 3. CREDO (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 4. IDOLATRADA (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 5. ME DEIXA EM PAZ (Monsueto e Aírton Amorim)
» 6. O CIO DA TERRA (Milton Nascimento e Chico Buarque)
» 7. SAN VICENTE (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 8. MILAGRE DOS PEIXES (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 9. CAÇADOR DE MIM (Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá)
» 10. SUEÑO COM SERPIENTES (Sylvio Rodrigues)
» 11. CORAÇÃO CIVIL (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 12. CLUBE DA ESQUINA 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges)
» 13. LÁGRIMA DO SUL (Marco Antonio Guimarães e Milton Nascimento)
» 14. CANÇÃO DO SAL (Milton Nascimento)
» 15. MARIA MARIA (Milton Nascimento e Fernando Brant
» 16. CAXANGÁ (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 17. SENTINELA (Milton Nascimento e Fernando Brant)
» 18. NADA SERÁ COMO ANTES (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)