De uns anos para cá, o sobrenome Adnet passou a ser associado ao humor inteligente e de qualidade. Porém, bem antes de o comediante Marcelo Adnet nascer, sua família já se destacava na música. Um dos integrantes mais atuantes e respeitados do clã é o tio dele, o compositor, arranjador e instrumentista Mario Adnet, de 59 anos, que está no ramo desde que se entende por gente, mas só se profissionalizou em 1980.
“Não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Dentro da música, aprendi a fazer de tudo um pouco. Não só tocar e criar arranjos, mas captar projetos e gerir negócios, pois a gente tem que tomar posse dessas coisas. Sou um empresário da música”, assegura o artista, irmão do músico Chico Adnet (pai de Marcelo) e das cantoras Maucha e Muiza Adnet.
Premiado por seu trabalho como arranjador nos projetos Jobim jazz, Jobim sinfônico, Ouro negro, dedicado à obra do maestro e compositor Moacir Santos, e Um olhar sobre Villa-Lobos, Mario decidiu se voltar para si mesmo. Agora, lança o disco autoral Saudade maravilhosa (Selo Sesc), que traz 10 faixas – oito compostas por ele. Seis são inéditas.
“Quis fazer um trabalho para mostrar a música em si, nem tanto o arranjo, apesar de a gente sempre apresentar o acabamento final. Não conto com muita gente, o que é mais complicado, pois tive de sintetizar em poucos instrumentos. Mesmo assim, o resultado ficou do jeito que eu queria. É uma grande alegria e satisfação”, celebra o compositor. Amanhã, ele faz show no Teatro Bradesco, em BH, para apresentar o novo CD.
Entre os instrumentistas convidados do álbum estão os respeitados Jorge Helder (contrabaixo), Marcos Nimrichter (piano), Rafael Barata (bateria), Armando Marçal (percussão), Eduardo Neves (sax-tenor e flauta), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone), Cristiano Alves (clarinete), Ricardo Silveira (guitarra) e Leonardo Amuedo (guitarra).
No show, Mario, que toca violão, vai contar com a participação mais especial da filha, a violonista, cantora e compositora Antonia Adnet, e do contrabaixista Jefferson Lescowitch no lugar de Jorge Helder. Aliás, não foi só Antonia quem mergulhou de cabeça na empreitada, pois também produziu Saudade maravilhosa. A irmã, Joana, foi assistente de direção, enquanto a mãe, Mariza, ficou responsável pela coordenação geral.
“Todo mundo trabalha junto, já é por osmose. Como a gente está em casa mesmo, quando surge algum problema, fala tudo um pro outro, não tem papas na língua. Pra te falar a verdade, adoro trabalhar com elas. Lá em casa é só mulher. E ainda tenho uma netinha, a Cecília, de 3 anos e cinco meses”, ressalta.
saiba mais
“Ocorreu o mesmo com outras músicas. Fiz há uns 20, 30 anos, e, um tempo depois, acrescentei um pedaço, tirei outro. A gente vai enfeitando ao longo do tempo. É igual a pintar um quadro: pinta um pedaço, dá uma pausa e depois retoma. É como se fizéssemos a mesma música a vida inteira”, explica.
A netinha ganhou um tema só para ela: o delicado choro Cecilia no parquinho. Ali, Mario tentou traduzir a alegria de ver a pequena descobrindo as coisas. “Ela adora música. Fica brincando, imaginando fazer uma letra para essa melodia. É muito engraçado”, relata o orgulhoso avô.
A faixa Saudade maravilhosa começou a ser criada em maio do ano passado. A sugestão do nome veio do músico Bernardo Vilhena, parceiro e amigo. “Ele sentiu que ela descreve um Rio que, por enquanto, só existe na saudade mesmo. Talvez o Rio de Janeiro tenha sido realmente uma cidade maravilhosa em algum momento. Aliás, o disco transita por várias saudades”, resume Adnet.
CLUBE DA ESQUINA Um dos destaques do álbum é a regravação de Viver de amor, de Ronaldo Bastos e Toninho Horta. Admirador do mineiro desde a adolescência, Adnet faz bela homenagem ao ídolo. Foi Toninho quem escreveu o texto de apresentação de seu primeiro disco, com Alberto Rosenblit, em 1980. “Em 1976, corri para comprar o Geraes, o novo disco do Milton, porque já sabia: assim como aconteceu com o Minas (1975), o LP teria música do Toninho. E ela era Viver de amor. Passei a ouvir tudo o que ele produzia. Toninho ainda não ouviu a minha gravação, mas já o convidei para ir a meu show em BH”, revela.
A única faixa do disco com letra é Valsa do baque virado, composta com João Cavalcanti, filho de Lenine, que Mario Adnet conheceu ainda garotinho. Agora, os dois retomam a parceria iniciada em 2010. “A letra dele fechou com chave de ouro. Essa música foi gravada também no CD de 50 anos do MPB-4”, acrescenta. Ouça:
Saudade maravilhosa traz um arranjo brasileiríssimo para o clássico do jazz Caravan (Juan Tizol e Duke Ellington), faixa dedicada ao mestre Moacir Santos (1926-2006), maestro, compositor e instrumentista pernambucano que fez carreira nos EUA. “O CD será lançado nos Estados Unidos no formato digital. Em 2018, temos show marcado em Nova York e talvez em Boston. Ele conseguiu trazer toda a riqueza musical que eu queria. Isso me deixa bastante orgulhoso e feliz”, conclui.
AMIGO DE FÉ A capa de Saudade maravilhosa (foto) homenageia um grande amigo de Mario Adnet, o artista plástico Guilherme Secchin, que morreu no ano passado. Ela estampa o quadro que o pintor deu ao músico na década de 1980, quando ele lançou seu primeiro disco. “Na época, comentei que pretendia tirar várias fotos da Pedra Bonita, aqui no Rio, para ilustrar o álbum. Aí o Guilherme acabou fazendo essa obra de arte para mim. Decidi homenageá-lo, pois o nome do projeto remete à nossa cidade”, explica. Lançamento do Selo Sesc, o CD custa R$ 20. Clique aqui para mais informações.
FAIXAS
>> ANCESTRAL (Mario Adnet)
>> CECILIA NO PARQUE (Mario Adnet)
>> SAUDADE MARAVILHOSA (Mario Adnet)
>> FLOR DO DIA (Mario Adnet)
>> AZUL DA TARDE (Mario Adnet)
>> VALSA DO BAQUE VIRADO (Mario Adnet e João Cavalcanti)
>> VIVER DE AMOR (Ronaldo Bastos e Toninho Horta)
>> CHOROJAZZ (Mario Adnet)
>> SAMBAQUI (Mario Adnet)
>> CARAVAN (Juan Tizol e Duke Ellington)
MARIO ADNET
Lançamento do disco Saudade maravilhosa. Amanhã, às 20h. Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 2626-1015. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).