“Não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Dentro da música, aprendi a fazer de tudo um pouco. Não só tocar e criar arranjos, mas captar projetos e gerir negócios, pois a gente tem que tomar posse dessas coisas. Sou um empresário da música”, assegura o artista, irmão do músico Chico Adnet (pai de Marcelo) e das cantoras Maucha e Muiza Adnet.
Premiado por seu trabalho como arranjador nos projetos Jobim jazz, Jobim sinfônico, Ouro negro, dedicado à obra do maestro e compositor Moacir Santos, e Um olhar sobre Villa-Lobos, Mario decidiu se voltar para si mesmo. Agora, lança o disco autoral Saudade maravilhosa (Selo Sesc), que traz 10 faixas – oito compostas por ele. Seis são inéditas.
“Quis fazer um trabalho para mostrar a música em si, nem tanto o arranjo, apesar de a gente sempre apresentar o acabamento final. Não conto com muita gente, o que é mais complicado, pois tive de sintetizar em poucos instrumentos. Mesmo assim, o resultado ficou do jeito que eu queria. É uma grande alegria e satisfação”, celebra o compositor
Entre os instrumentistas convidados do álbum estão os respeitados Jorge Helder (contrabaixo), Marcos Nimrichter (piano), Rafael Barata (bateria), Armando Marçal (percussão), Eduardo Neves (sax-tenor e flauta), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone), Cristiano Alves (clarinete), Ricardo Silveira (guitarra) e Leonardo Amuedo (guitarra).
No show, Mario, que toca violão, vai contar com a participação mais especial da filha, a violonista, cantora e compositora Antonia Adnet, e do contrabaixista Jefferson Lescowitch no lugar de Jorge Helder. Aliás, não foi só Antonia quem mergulhou de cabeça na empreitada, pois também produziu Saudade maravilhosa. A irmã, Joana, foi assistente de direção, enquanto a mãe, Mariza, ficou responsável pela coordenação geral.
“Todo mundo trabalha junto, já é por osmose. Como a gente está em casa mesmo, quando surge algum problema, fala tudo um pro outro, não tem papas na língua. Pra te falar a verdade, adoro trabalhar com elas. Lá em casa é só mulher. E ainda tenho uma netinha, a Cecília, de 3 anos e cinco meses”, ressalta.
MULHERES A presença feminina na vida de Mario Adnet inspirou uma das faixas do disco, Flor do dia. “Dedico-a à minha família de mulheres, é uma maravilha estar cercado por elas. Mulher, realmente, é um ser superior”, diz. A canção foi criada ao longo dos anos
“Ocorreu o mesmo com outras músicas. Fiz há uns 20, 30 anos, e, um tempo depois, acrescentei um pedaço, tirei outro. A gente vai enfeitando ao longo do tempo. É igual a pintar um quadro: pinta um pedaço, dá uma pausa e depois retoma. É como se fizéssemos a mesma música a vida inteira”, explica.
A netinha ganhou um tema só para ela: o delicado choro Cecilia no parquinho. Ali, Mario tentou traduzir a alegria de ver a pequena descobrindo as coisas. “Ela adora música. Fica brincando, imaginando fazer uma letra para essa melodia. É muito engraçado”, relata o orgulhoso avô.
A faixa Saudade maravilhosa começou a ser criada em maio do ano passado. A sugestão do nome veio do músico Bernardo Vilhena, parceiro e amigo. “Ele sentiu que ela descreve um Rio que, por enquanto, só existe na saudade mesmo. Talvez o Rio de Janeiro tenha sido realmente uma cidade maravilhosa em algum momento. Aliás, o disco transita por várias saudades”, resume Adnet.
CLUBE DA ESQUINA Um dos destaques do álbum é a regravação de Viver de amor, de Ronaldo Bastos e Toninho Horta. Admirador do mineiro desde a adolescência, Adnet faz bela homenagem ao ídolo. Foi Toninho quem escreveu o texto de apresentação de seu primeiro disco, com Alberto Rosenblit, em 1980. “Em 1976, corri para comprar o Geraes, o novo disco do Milton, porque já sabia: assim como aconteceu com o Minas (1975), o LP teria música do Toninho. E ela era Viver de amor. Passei a ouvir tudo o que ele produzia. Toninho ainda não ouviu a minha gravação, mas já o convidei para ir a meu show em BH”, revela.
A única faixa do disco com letra é Valsa do baque virado, composta com João Cavalcanti, filho de Lenine, que Mario Adnet conheceu ainda garotinho. Agora, os dois retomam a parceria iniciada em 2010. “A letra dele fechou com chave de ouro. Essa música foi gravada também no CD de 50 anos do MPB-4”, acrescenta. Ouça:
Saudade maravilhosa traz um arranjo brasileiríssimo para o clássico do jazz Caravan (Juan Tizol e Duke Ellington), faixa dedicada ao mestre Moacir Santos (1926-2006), maestro, compositor e instrumentista pernambucano que fez carreira nos EUA. “O CD será lançado nos Estados Unidos no formato digital. Em 2018, temos show marcado em Nova York e talvez em Boston. Ele conseguiu trazer toda a riqueza musical que eu queria. Isso me deixa bastante orgulhoso e feliz”, conclui.
FAIXAS
>> ANCESTRAL (Mario Adnet)
>> CECILIA NO PARQUE (Mario Adnet)
>> SAUDADE MARAVILHOSA (Mario Adnet)
>> FLOR DO DIA (Mario Adnet)
>> AZUL DA TARDE (Mario Adnet)
>> VALSA DO BAQUE VIRADO (Mario Adnet e João Cavalcanti)
>> VIVER DE AMOR (Ronaldo Bastos e Toninho Horta)
>> CHOROJAZZ (Mario Adnet)
>> SAMBAQUI (Mario Adnet)
>> CARAVAN (Juan Tizol e Duke Ellington)
MARIO ADNET
Lançamento do disco Saudade maravilhosa. Amanhã, às 20h. Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 2626-1015. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).