Ao longo de sua trajetória musical, a banda Radiohead sempre procurou caminhos alternativos para a sua sonoridade. No entanto, tudo isso começou quando Thom Yorke, Jonny Greenwood, Ed O'Brien, Colin Greenwood e Phil Selway entraram em estúdio para gravar seu terceiro disco, Ok Computer, que completa 20 anos nesta terça-feira, 21.
À época, a banda vinha de dois álbuns, Pablo honey e The bends, que seguiam as notas 'sujas' do grunge norte-americano e eram assombrados por seu maior hit, Creep, que alcançou o estigma de clássico instantâneo em 1993. Quatro anos depois, no dia 21 de março de 1997, a banda lançou o que seria sua obra prima, aproximando-se do experimentalismo eletrônico e se afastando ainda mais do conterrâneo britpop.
O próprio, título, Ok Computer, representa uma resposta à sociedade pós-moderna. Trata-se de uma referência à importância que a tecnologia estava atingindo - tema ainda mais relevante nos dias atuais. O disco é permeado por temas como consumismo, alienação social, isolamento e divergências políticas.
Deixando suas antigas referências de lado, a banda decidiu contratar um novo produtor, Nigel Godrich, para trabalhar no disco. Ele, por sua vez, é visto como o sexto membro do grupo, sendo que sete dos nove álbuns da banda têm a assinatura da sua produção.
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Encabeçados por Thom Yorke, o quinteto se deslocou para uma mansão rural entre Julho de 1996 e março de 1997 para gravarem o disco. Todos esse processo foi uma tentativa de se afastarem da sonoridade dos discos anteriores e criarem uma nova proposta. É aí que entram os elementos eletrônicos, pianos, teclados e sintetizadores. As doze músicas que compõem o trabalho exploraram instrumentos inéditos.
Reza a lenda que, quando entregaram o disco pronto à gravadora, seus representantes se mostraram um pouco céticos em relação ao trabalho, sob o argumento de que Ok Computer seria pouco comercial. O trabalho, no entanto, contrariou as expectativas, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e tornando-se um dos álbuns mais bem-sucedidos do Radiohead nos Estados Unidos.
A capa do disco, produzida por Stanley Greenwood e Thom Yorke, é uma colagem de imagens e textos criados a partir de um diário visual das sessões de gravação. À época, o vocalista disso que uma representação visual das músicas o tornava confiante. Sobre a imagem o músico declarou: ''É como vender alguma coisa para alguém que não quer comprar''.
Entre as faixas, Paranoid android, música que retirou o Radiohead da sombra do sucesso de Creep e se tornou um sucesso de vendas, foi criada a partir de Happiness is a warm gun, dos Beatles. Segundo o guitarrista Ed O'Brien, a ideia era fundir Queen com Pixies e anunciá-la como um resgate do Pink Floyd. Exit Music (For a Film) dá o tom cavernoso que o local de gravação pedia. Despida de artifícios, a canção é uma balada acústica crescente. A canção foi usada no filme Romeu e Julieta (1996), de Baz Luhrmann.
O disco ainda reserva alguns dos grandes sucessos do Radiohead, como Karma Police e No Surprises. Esta última ganhou um vídeo emblemático no qual Yorke submerge em um tanque d'água e fica sem respirar durante um intervalo de tempo razoável.
Airbag, Subterranean Homesick Alien, Let Down, Electioneering, Climbing Up the Walls, Lucky e The Tourist também não ficam atrás, mas Fitter Happier certamente é uma das canções mais emblemáticas de Ok Computer. Irônica, a música foi feita depois de um bloqueio criativo do grupo. Frases como ''Fitter, happier, more productive/Comfortable/Not drinking too much/Regular exercise at gym'' falam sobre a vida pós-moderna de forma crítica e, para além de um interlúdio, tornou-se um clássico.
Desde seu lançamento, o disco continua sendo aclamado pelo público, considerado um dos melhores álbuns dos anos 1990. O impacto foi tamanho que intensificou a transição estética da música popular inglesa, que evoluiu do britpop para uma sonoridade melancólica. Além disso, é possível ver a influência do disco em todos os disco seguintes do Radiohead, de Kid A (2000) a A Moon Shaped Pool (2016).
Em 2015, Ok Computer foi selecionado para ser guardado na Biblioteca do Congresso norte-americana. O disco, então, passou a figurar ao lado de bandas como Velvet Underground, Sonic Youth e Frank Sinatra.