Lívia e Arthur Nestrovski trazem o show 'Pós você e eu' a BH

Parceria musical entre pai e filha começou informal e foi ganhando corpo ao longo dos anos, com ambos trocando sugestões e descobrindo afinidades a distância

por Mariana Peixoto 15/03/2017 08:00

Daniel Kersys/Divulgação
Lívia e Arthur sobem ao palco do Teatro Bradesco no sábado, 18/03 (foto: Daniel Kersys/Divulgação)
Ele, compositor e violonista. Ela, cantora. Seria natural, na condição de pai e filha, que Arthur e Lívia Nestrovski se encontrassem no palco. A relação começou de maneira eventual, quando ele fez algumas participações em shows dela. Até que um convite formal, do Sesc de Curitiba, deu início à parceria.

Desde 2014 juntos no palco, Arthur e Lívia acabaram também gravando um álbum, Pós você e eu (2016). O trabalho chega a Belo Horizonte neste fim de semana: no próximo sábado, 18, ela ministra uma masterclass de improvisação vocal no Centro de Arte Savassi (Casa); no domingo, 19, os dois se apresentam no Teatro Bradesco.

“(A escolha das canções) Veio muito do nosso repertório afetivo. Acabamos descobrindo canções que não sabíamos que o outro gostava”, comenta Lívia. O disco reúne 10 faixas, o show tem outras mais. Deste repertório afetivo foram incluídas Folha morta (Ary Barroso), Por causa de você (Tom Jobim e Dolores Duran) e Londrina (Arrigo Barnabé).

Nestrovski, desde 2010 também diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), assina as versões de outras músicas, como Vejo você (I only have eyes for you, de Harry Warren e Al Dubin) e Serenata (da original Ständchen, de Franz Schubert e Ludwig Rellstab, que foi gravada por Chico César e entrou na trilha sonora da novela Velho Chico). Há ainda algumas canções de autoria do próprio Nestrovski, como Canção de não dormir (com Eucanaã Ferraz), Um milhão, e a faixa-título (ambas com Luiz Tatit).

“Meu pai está sempre estudando. Acorda cedo e vai estudar antes de ir para o Osesp. Como moro no Rio e ele em São Paulo, estamos sempre conversando sobre o que estamos ouvindo. Aí, quando vamos ensaiar, ele leva alguma coisa nova”, acrescenta Lívia.

As canções carregam sempre boas histórias. Londrina, de Arrigo Barnabé, é uma paixão mútua dos Nestrovski. Lívia conta: “Meu pai conheceu o Arrigo em 1979, quando tocava com o Kleiton e Kledir em Porto Alegre. Participaram de um festival da canção, e o Arrigo acabou ganhando com Sabor de veneno. Meu pai, muito surpreso com a sonoridade, acabou se aproximando dele”.

Lívia só foi conhecer Arrigo muitos anos mais tarde. “Era superfã dele quando fiquei sabendo que ele estava fazendo residência artística na Universidade de Campinas (Unicamp).” Como também estudava na Unicampo, acabou trabalhando num grande musical com Arrigo. Terminado o projeto, ele a convidou para cantar a seu lado. São parceiros desde 2008, tendo inclusive gravado o álbum De nada mais a algo além (com Arrigo e Luiz Tatit). E Lívia só ficou sabendo, muitos anos mais tarde, da antiga relação do pai com Arrigo.

A diferença geracional – Lívia tem 29 anos; Arthur, 57 – não muda em nada a relação que ambos têm com a canção. “Morei muitos anos com a minha mãe (Silvana Scarinci), também musicista, muito ligada à música barroca. Criei um gosto particular, que tem relação com o que ouvi a vida toda”, acrescenta ela, que ainda tem um duo (voz e guitarra, voltado para a música experimental) com o marido, Fred Ferreira.

IMPROVISAÇÃO
Neste sábado, Lívia Nestrovski promove, das 10h às 14h, no Centro de Arte Savassi – Casa (Av. do Contorno, 6.399, Savassi), uma masterclass de improvisação vocal. “A ideia é explorar ferramentas e técnicas de improvisação. Vamos trabalhar na linguagem e mostrar as diferenças da improvisação no jazz e na música brasileira, além de como a improvisação pode ser utilizada para trabalhar a criatividade e soltar a voz”, comenta a cantora. Lívia tem mestrado na Uni-Rio em improvisação vocal na canção popular brasileira do final dos anos 1950 e início dos 1960. “Dolores Duran é o ponto central, pois ela influenciou Leny Andrade. Outros improvisadores pioneiros foram Johnny Alf e Elza Soares”, acrescenta.

Informações: masterclass.livia@gmail.com. Valor: R$ 125.

Quatro perguntas para... ARTHUR NESTROVSKI

O que é uma boa canção? Aliás, há como definir gosto musical?
Uma boa canção todo mundo reconhece, mas não é tão fácil de definir em poucas palavras. Se compor fosse ciência, todo mundo aprendia a fórmula e dava sempre certo. Só que não. Schubert é Schubert, Caymmi é Caymmi – e a gente, aqui, faz o melhor que pode...

Quando o senhor leva Schubert para a novela das 21h ou Maria Bethânia grava Zezé di Camargo (É o amor) os muros caem?

Minha impressão é que os muros em geral há muito vêm caindo, em boa medida pela facilitação do acesso tecnológico à música. Não significa que todo mundo tenha começado a ouvir música da maior qualidade, claro, mas aí entramos na seara da educação, o buraco é muito mais embaixo. O fato é que hoje se pode ouvir mais música do que jamais se escutou, de muitos tipos e dos períodos mais distintos, tudo ao alcance de um ou dois cliques. Algum efeito isso terá sobre as formas da canção.

O Brasil não tem a tradição da música de concerto dos países europeus, é fato. Hoje, a música de concerto ainda enfrenta dificuldades para chegar ao grande público no país ou isso tem mudado nos últimos anos?
O público da música clássica se ampliou muito nas últimas duas ou três décadas, especialmente por conta do surgimento de inúmeros projetos de inclusão cultural. Só quem segue achando que música clássica é coisa de elite. Aliás, são as elites que não frequentam salas de concerto.

Quais os desafios da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) para 2017?
A Osesp está começando uma nova temporada, que vai até dezembro, com três ou quatro concertos por semana, muitos grandes solistas e regentes de primeira linha, compositores visitantes etc. Isso só foi possível graças a um uso expressivo de recursos da própria Fundação Osesp e aos patrocínios, uma vez que os repasses do governo do estado – de longe nosso principal suporte – diminuíram bastante, num cenário de recessão. O maior desafio de todos, neste momento, é suportar a pressão dos tempos e garantir a continuidade do projeto a médio e longo prazo.

LÍVIA E ARTHUR NESTROVSKI
Show Pós você e eu. Domingo, às 19h, no Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia).      

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