Durante quase 30 anos, quem acompanhava os programas da TV Globo, principalmente as novelas, acostumou-se a ver o nome de Mariozinho Rocha nos créditos finais. Isso porque ele foi o diretor musical da emissora entre 1989 e 2016. Hits que todo o Brasil cantou eram selecionados por esse carioca.
Tudo começou em 1985, quando Daniel Filho, diretor da emissora, convidou o produtor e compositor para um “freela”. Mariozinho seria responsável pela trilha sonora de um dos maiores sucessos do canal: Roque Santeiro, novela exibida de junho de 1985 a fevereiro de 1986.
“Quando li a sinopse e fomos escolher o tema da viúva Porcina, pensei em uma senhora mais séria, de coque, que usava preto. Mas a personagem era exatamente o oposto: toda espalhafatosa, mandona e que levava tudo a punhos de ferro”, recorda Mariozinho. A canção escolhida foi Dona, de Sá e Guarabyra. Porém, ele queria que o Roupa Nova a gravasse.
“Foi uma luta convencê-los. Eles não queriam de jeito nenhum, nem sei por quê. Mas acabei convencendo-os e foi um estouro. Hoje, nem dá para imaginar um show do Roupa Nova sem essa música”, destaca o produtor.
A entrada definitiva na Globo só se deu em 1989. Depois de praticamente três décadas trabalhando na emissora e de se tornar um dos diretores musicais mais importantes do país, Mariozinho acaba de assumir um desafio: a direção artística da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), filiada ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad)
“Fui sondado por dois grandes amigos que fazem parte da diretoria da Abramus, Danilo Caymmi e Dudu Falcão. Gostei muito da proposta, da visão artística e, sobretudo, do presidente Roberto Mello. Não sou expert em direitos autorais, mas a gente aprende. É um tema que ganhou muita força nos últimos anos. Ainda estamos no início, mas quero criar parcerias, novos projetos”, informa ele.
Mariozinho, de 69 anos, começou sua carreira na década de 1960. Ele começou a tocar piano ainda criança. “Não tinha nenhum parente que tocasse ou cantasse. Nada. Mas sempre gostei (de música). Minha mãe conta que minha avó, que nem conheci, tocou piano com o Ernesto Nazareth”, revela.
‘MINEIRADA’
Durante muitos anos, Mariozinho foi produtor das gravadoras Polygram e Odeon, hoje extintas, e atuou como diretor artístico da Musidisc e da EMI-Odeon
Mariozinho Rocha acredita que o Brasil vive um momento de empobrecimento cultural em todos os setores. “Não precisa entender de música para perceber isso. Qualquer leigo vê. O Brasil, como um todo, empobreceu musicalmente. Hoje, o povo só quer saber de Anitta, Wesley Safadão e Ludmilla. Não quero tirar o mérito deles, mas o problema é que ficou monocórdio, uma coisa só. Porém, temos que ter esperança de que isso vai mudar. Senão a gente vai dar um tiro na cabeça”, desabafa.
INTERNET
Na era da internet, emplacar uma canção em novela não dá o mesmo retorno de antigamente, mas o produtor pondera: a rede não deixa de ser uma grande vitrine. “Pra você ter uma ideia, a trilha de Rei do gado, novela de 1996, vendeu cerca de 2 milhões de cópias. Hoje, uma novela das 21h que estoura chega a vender 9 mil, 10 mil cópias. Praticamente, ninguém mais compra CD. Todo mundo baixa, é tudo virtual. Essa é uma das questões que vamos trabalhar aqui na Abramus”, conclui.