Lançado naquele ano, o primeiro álbum, chamado apenas de xx, soava como a abertura para a intimidade daqueles dois cuja amizade nascera na adolescência. O mistério e a melancolia das músicas em torno da dupla, que logo viraria trio com a chegada de Jamie Smith, para assumir as programações e efeitos do grupo, foram perfeitos para a imprensa britânica cair de amores. Sempre desesperados em encontrar novas tendências na sua música, mesmo que para isso dê alguns tiros n’água pelo caminho, veículos especializados, como a revista hoje quase extinta New Musical Express, investiu no trio.
O bochicho já estava armado. Em 2010, muito mais de 10 pessoas no Brasil já conheciam aqueles três jovens tímidos de Londres. Faltava um detalhe: eles precisavam querer também. Assumiriam ou não o pop?
Talvez tenha sido a contragosto. Talvez tenha demorado mais do que deveria. Talvez eles tenham tido algumas brigas até decidirem qual caminho tomar. Não importa
Em mais uma versão do festival norte-americano Lollapalooza em São Paulo, o The xx estará disputando a atenção como atração principal da primeira noite de evento, no sábado, 25 de março, com o gigante do heavy metal Metallica - o salgado valor do ingresso de R$ 460 (há meia-entrada) para um dia de festival vale pela experiência de testemunhar os fãs das duas bandas coexistindo no mesmo espaço, no Autódromo de Interlagos. A segunda noite será capitaneada pelo pop junkie de The Weeknd e o rock que um dia já foi sujo do The Strokes.
Para chegar ao topo de um pôster de festival no Brasil, o The xx percorreu um longo caminho. Há quatro anos, por exemplo, a banda havia visitado São Paulo e sido escalada com destaque para o Popload Festival, no HSBC Brasil. A capacidade da casa era de 4,5 mil pessoas, um número 17 vezes menor do que o total de público comportado pelo Autódromo de Interlagos, 80 mil.
Depois de xx, o The xx preferiu se esconder ainda mais. Nasceu Coexist, em 2012, um disco com mais silêncio, mais gelado. Quanto mais a crítica e o público amavam o The xx, a banda parecia se esconder. Em três anos, de 2010 a 2013, foram realizados 303 shows. Isso chegou ao fim em meados de 2014. Cada um dos integrantes foi para um canto. O grupo precisava respirar longe do palco
I See You mostra aquilo que o The xx poderia ser se deixasse alguns mililitros de melancolia para fora do seu caldeirão e acrescentasse temperos mais picantes. "Eu não acho que a gente só goste de canções tristes, mas isso é algo que nos interessa, mesmo", diz Smith ao Estado. Tido como o responsável pelo sorriso que quebra o gelo em I See You, ele credita ao seu trabalho solo a chance de ousar nas composições da banda. "Pudermos sair da caixa um pouco, pensar em algo diferente." O músico fala da França, onde o grupo se apresentaria naquela noite, no início da turnê que só vai acalmar em setembro. "Estamos voltando a nos acostumar com essa vida na estrada." Naquela noite, Smith havia derrubado o aparelho celular no vaso sanitário e falava pelo smartphone do empresário. O mundo pop, afinal, não é só glamour. "Pois é, acontece (risos)."