A menos de um mês do carnaval, pouco se escuta além do batuque dos tamborins e dos blocos que ensaiam para a folia em BH. No entanto, para felicidade de parte do público, ainda há espaço para outros ritmos na cidade. Hoje e amanhã, o festival Shake Mancha traz à Autêntica e à Obra revelações de destaque na cena do rock independente.
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“Estamos muito felizes com a repercussão do nosso último álbum, que vem acontecendo de forma espontânea, no boca a boca”, diz a vocalista Salma Jô, referindo-se a Princesa, lançado em 2016. A presença feminina à frente da banda não se restringe à voz suave da cantora. Conceituais, as letras mostram que a carne em questão pode até ser doce nas melodias, mas é visceral nos versos.
ABORTO Feminismo e questões de gênero estão presentes no álbum. Denúncias contra o machismo e a violência sofrida por mulheres são o tema de Falo, por exemplo, enquanto Artemísia trata de aborto. “Não vai nascer porque eu não quero, porque eu não quero e basta eu não querer”, diz a letra. Em entrevista recente concedida à revista Tpm, Salma declarou já ter abortado.
“Hoje, o feminismo está tão popular que sinto as pessoas já olharem com desconfiança quando a gente trata disso na arte. Parece que virou um case de sucesso, né? Artistas são cobrados por abordar e também por não abordar o assunto, não falar é como estar alheio a uma coisa importante. Existe a cobrança de investigar o machismo na vida pessoal, no trabalho, em tudo. Isso acabou se refletindo nas nossas letras”, explica Salma.
Em meio ao turbilhão político e ideológico que o Brasil atravessa, com discursos de ódio e polarização nas ruas e redes sociais, o trabalho do Carne Doce não se furta de questionar o que ocorre ao seu redor. “Desde o começo, temos interesse em ser mais políticos, mais provocantes – não no sentido partidário, mas das relações de poder, de discutir como somos vulneráveis e passivos em alguns momentos”, explica a cantora, que forma a banda ao lado do marido, Macloys Aquino, e de João Victor Santana, Ricardo Machado e Anderson Maia.
Hoje à noite, Salma Jô não será a única mulher no palco d’Autêntica. A mineira Sara Braga, com seu projeto solo Sara Não Tem Nome, também está escalada. Mesclando indie, folk, MPB, post rock e letras intimistas, ela se destaca na cena underground de BH. O grupo Young Lights, outra referência da cena local do rock independente, também estará presente.
No sábado, o festival atravessa alguns quarteirões e se instala no palco da Obra, também no bairro Funcionários. Será a vez de mais dois nomes recém-surgidos na capital mineira: o Kill Moves, que lançou seu primeiro EP no passado, traz a influência do grunge enquanto o Sci-fi, projeto solo do músico Bruno Faleiro, ex-baixista do Câmera, passeia pelo rock alternativo dos anos 80 e 90, com vocais e acordes distorcidos dentro de canções melódicas.
CONCORRÊNCIA A reunião de bandas é uma iniciativa conjunta da produtora mineira Shake Shake com a paulista Casa Mancha. Desde 2015 com a proposta de promover eventos privilegiando a cena independente local, a Shake Shake enfrenta, neste momento, a concorrência pesada do pré-carnaval, que domina a agenda cultural de BH.
“Fazer festival de rock alternativo é sempre um desafio, independentemente do momento. O Shake Mancha caiu perto do carnaval por ser uma data favorável devido ao fato de Carne Doce estar em turnê por Minas. É assustador competir com os blocos de carnaval, eventos gratuitos, mas a gente tenta focar na programação de qualidade. Acho importante oferecer ao público uma opção que seja tão expressiva e interessante quanto os blocos”, explica Fernanda Azevedo, uma das responsáveis pela Shake Shake.
Serviço
Festival Shake Mancha
Sexta-feira, 10 de fevereiro, 22h, A Autêntica (Rua Alagoas, 1172, Funcionários)
Shows: Carne Doce, Young Lights, Sara Não Tem Nome
Ingressos: R$ 30 e R$ 40 (com CD do Carne Doce) - à venda aqui
Sábado, 11 de fevereiro, 22h, A Obra (Rua Rio Grande do Norte, 1168, Funcionários)
Shows: Kill Moves, Sci-fi
Ingressos: R$30