Aos 94 anos, a grande dama do teatro brasileiro dimensiona que as muitas décadas de carreira (75 anos nos palcos) resultam de disciplina e compromisso diários. “Vai naturalmente, feito uma escada, degrau por degrau. Com muito cuidado para não escorregar”, disse ao Estado de Minas por telefone. Com apuro técnico e talento reconhecidos internacionalmente, Bibi não descuida da voz. Os anos de estrada, que incluem a interpretação de nomes da música mundial como Frank Sinatra e turnês pelo Brasil, Europa e Estados Unidos, Bibi é totalmente comprometida com o seu canto, a que dedica horas de estudo. “Algumas músicas são difíceis, de orquestração muito difícil. Tem que ter muita pesquisa”, diz. Amanhã, ela volta ao Palácio das Artes para apresentar 4XBibi, espetáculo em que interpreta Amália Rodrigues, Carlos Gardel, Frank Sinatra e Edith Piaf.
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No último espetáculo, apresentado em Minas em agosto de 2015, ela interpretou Sinatra, que não conheceu pessoalmente, embora o cantor americano tenha feito show histórico no Brasil em janeiro de 1980. Na época em que montou o show com as músicas de Sinatra, revelou que ficaria nervosa caso o encontrasse. Em abril de 2013, a brasileira recebeu, no palco do Lincoln Center, de Nova York, a também cantora-atriz americana Liza Minnelli, com quem dividiu a interpretação do megassucesso New York, New York.
Da portuguesa Amália Rodrigues, Bibi traz recordações de quando as duas cantaram em teatros vizinhos em cassinos em Cascais, distrito de Lisboa e um dos balneários mais famosos do país. Bibi lembra que não eram amigas de “tomar chá e café”, mas que eram grandes admiradoras do trabalho uma da outra.
Ao longo de sua carreira, Bibi dedicou pelo menos três décadas à interpretação de Edith Piaf. Em 1983, montou o espetáculo Piaf - A vida de uma estrela da canção, com o qual viajou por todo o Brasil. Em 2013, homenageou os 50 anos sem Piaf com o show Bibi canta e conta Piaf. Já Gardel faz parte das lembranças afetivas de Bibi, que morou com a família em Buenos Aires na infância.
A dama cuida do “instrumento mais importante” como um tesouro. No dia em que vai se apresentar, não fala ao telefone. “Telefone é muito ruim, desloca a voz. Falar é sempre muito ruim para quem canta.” Também não toma bebida com gás, evita “comer demais” e cortou o “gelado”. “Meu pai dizia que tomar gelado vela a voz, como se estivesse com uma poeira.” Se cantar é o seu maior compromisso, o palco é solo sagrado. “Meu senso de responsabilidade é cada dia maior.
Bibi revela que das cantoras da nova geração a sua preferida é Ana Carolina. “Tem uma voz muito bonita e canta muito bem”, elogia. De Belo Horizonte, tem ótimas recordações. “Venho aqui a cada dois anos no Palácio das Artes ou no Francisco Nunes, aquele teatro lindo dentro da floresta. Tudo é muito bonito: o teatro, o parque, a cidade, as pessoas de Belo Horizonte.”
Filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina Aída Izquierdo, Bibi estreou como atriz em 1941, aos 19 anos. Na década de 1960, montou My fair lady ao lado de Paulo Autran. Bibi completa 95 anos em 1º de junho e diz que não faz planos. “Difícil fazer planos.
Ao falar sobre o Brasil, Bibi diz que o país vive momento “afetado”. “Temos que tomar cuidado com o Brasil, que é como um bebê. Ainda não é um adolescente. Como um bebê, deve ser tratado com cuidado e atenção, porque a qualquer momento pode rolar da cama.” Ela não tem pressa para que o país mude de fase: “Tem que ficar mais um pouco. Deixa gozar a infância”, sentencia.
4XBIBI
Show de Bibi Ferreira e orquestra.
Amanhã, dia 9, às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400).
Ingressos: Plateia 1: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); plateia 2: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); balcão: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).
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