Quem foi ao cinema nas últimas semanas para assistir a 'La la land – Cantando estações' muito provavelmente saiu da sala com vontade de arriscar alguns passinhos. Com 14 indicações ao Oscar – um recorde, ao lado de A malvada (1950) e Titanic (1997) – o longa dirigido por Damien Chazelle faz uma viagem pela história dos musicais, com referências a clássicos como Vamos dançar? (1937), Dançando na chuva (1952) e Amor, sublime amor (1960) e homenageia astros dos anos de ouro de Hollywood, como Fred Astaire, Ginger Rogers e Gene Kelly.
Embora seja um estilo bastante característico dos Estados Unidos dos anos 1920, as danças de swing jazz – muito presentes em La la land – têm ganhado adeptos no Brasil. Em Belo Horizonte, há pouco mais de 100 dançarinos e nove escolas que se dedicam a ensinar as variações do gênero, como charleston, balboa, shag e lindy hop, a mais difundida.
“O lindy hop é uma dança tranquila de aprender. Por mais que tenha aspecto técnico rigoroso, ela abre espaço para improvisos e brincadeiras”, afirma Fabrício Martins, formado em Relações Internacionais, mas que passou a se dedicar a ensinar lindy hop desde 2013. Naquele ano, Fabrício e outros três amigos fundaram o BeHoppers, grupo que tem hoje cerca de 30 integrantes fixos. Muitos dançarinos, aliás, foram alunos do norte-americano Chester Withmore, um dos coreógrafos de La la land.
saiba mais
Emma Watson perdeu papel em 'La La Land' por ser exigente
Damien Chazelle, diretor de 'La la land', entre o choque e a honra com o Oscar
Com 14 indicações ao Oscar, La la land iguala recorde e se confirma como fenômeno de Hollywood
'La La Land' é o campeão de indicações ao Oscar e concorre a 14 categorias
É injusto acusar 'La la land' de ser um filme alienado
Em quatro anos, eles asseguram que aumentaram o interesse do público e visibilidade. “Antes você perguntava de lindy hop, as pessoas não sabiam. Hoje, muita gente já ouviu falar, a dança já é reconhecida em Belo Horizonte”, comemora Leonardo Sampaio, estudante de música e dançarino. Boa parte dos alunos chega ao BeHoppers pelo interesse em cultura vintage e pelo jazz. “Há três anos, vi um filme, mas não sabia que se dançava no Brasil, muito menos em Belo Horizonte. Sempre gostei da estética, das roupas. Mas isso é uma identificação, não é um pré-requisito para começar a dançar”, conta Sofia Filizzola, uma das integrantes do grupo.
JAZZ E CARNAVAL Um dos momentos mais esperados do ano para o BeHoppers é o carnaval. Há três anos, eles se apresentam ao lado do Bloco Magnólia, do maestro Leonardo Brasilino, que leva o jazz tradicional do mardi gras – a terça-feira gorda de New Orleans – às ruas dos bairros Santo André e Caiçara, na região Noroeste da capital. “Estamos habituados a dançar em pisos irregulares, pois dançamos em praças, mas o calor é mais desafiador, um calor de meio-dia. Mas nada se compara à energia de dançar em uma apresentação com músicos ao vivo”, comenta Jéssica Mendes, uma das primeiras integrantes do BeHoppers.
O repertório do Magnólia também traz desafios extras aos dançarinos. Além de standards da era das big bands de Count Baise e Benny Goodman, o grupo adaptou vários clássicos da música brasileira com pegadas de swing. “O jazz abre espaço para improvisações, seja na forma de tocar e dançar. A gente não é conservador, no carnaval vale tudo”, brinca Fabrício. “Sendo jazz pode tocar o que quiser.”
Charleston
A dança, caracterizada pelos movimentos rápidos das mãos cruzando e descruzando sobre os joelhos das mulheres de vestido curto, surgiu nos cabarés de Charleston (Carolina do Sul) nos anos pós-Primeira Guerra Mundial.
Balboa
Como os salões e pistas da região da Califórnia ficavam lotados nos anos 1920, o balboa surgiu com casais dançando mais colados, às vezes em ritmos mais lentos. A dança também é marcada pelos movimentos de pernas, com variações de ritmo e volta.
Lindy Hop
Surgiu no Harlem, em Nova York, na esteira das big bands de swing jazz, nos anos 1920 e 1930. É uma fusão de várias danças, como charleston e o sapateado. Os passos rápidos foram precursores do ritmo frenético dos primórdios do rock’n roll.
Shag
Também pertence ao grupo das swing dances, mas tem características típicas, como o trabalho de pés, com chutes no ar. Geralmente é dançado com músicas mais rápidas. Tem variações de acordo com a origem, como o collegiate, st. louis e carolina.