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Para 2 atos, viabilizado por edital da Funarte, o rapper convidou o tarimbado produtor, compositor e instrumentista Gui Amabis. Nome de ponta da MPB contemporânea, o paulista assinou discos que fizeram a fama da cantora Céu. Gui o ajudou a lapidar melodias e formatar canções. A “cozinha” é respeitável: o baixista Regis Damasceno e o guitarrista Dustan Gallas (da banda Cidadão Instigado) e o tecladista e programador Rica Amabis, integrante do selo Instituto, responsável por discos de Sabotage.
O canto e o flow de Matéria Prima se misturam a guitarras, violinos, violões, teclados, clarinetes e programações comandadas pelos irmãos Amabis. A sonoridade, diz ele, é intuitiva, “vem daquela coisa mineira” – de Milton Nascimento a Supertramp, passando por Childish Gambino e sua soul music. Ouça:
PACIÊNCIA O disco, intencionalmente, vai na contramão da ansiedade compulsiva do mundo contemporâneo. “Ele veio para exercitar a paciência, exige atenção. É para quem gosta de ouvir”, explica. Não se trata de trilha sonora para correr, malhar ou extravasar na pista. “Vim para desacelerar. Essa velocidade de hoje em dia tira o foco de todo mundo”, acredita.
Em suas letras, o mineiro fala de coisas prosaicas – que estão virando raridade – como o encontro “presencial” de amigos (Visita onírica), das delicadezas do amor (Sorriso nu) e de sua paixão pela “brincadeira da escrita” (Mutação fonética). Mas também mira na vertiginosa sucessão de mazelas que se sucedem neste Brasil mergulhado em profunda crise política e social.
O ódio que contamina o cidadão está em Feito barro. O culto à meritocracia inspira A dor do outro. E Porque remete à matança de negros pela polícia brasileira: “Os manos virou mania/ Epiderme/ Epidemia/ Mas preto ainda é pretexto/ Para a arte da artilharia”. Para ele, é urgente reagir aos absurdos que se sucedem no Brasil. Caso contrário, “selfie-se quem puder”, como diz a letra de Quente, que encerra 2 atos.
PINCELADAS Depois de dividir o palco com o ator Alexandre de Sena em O que não vaza é pele, no Festival Cenas Curtas do Galpão, e com a atriz e dramaturga Grace Passô em O berro, em Inhotim, Matéria Prima aprofunda o diálogo com as artes cênicas. Grace, Aline Vila Real (produtora do grupo Espanca!) e o coreógrafo Rui Moreira são parceiros dele no show performático de 2 atos, que já foi apresentado no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro. Matéria explica que marcações, iluminação e movimento corporal sublinham canções e batidas com o propósito de transportar o espectador para outros universos, assim como fazem as peças de teatro.
2 ATOS
Com Matéria Prima e banda. Galpão Cine Horto, Rua Pitangui, 3.613, Horto. Hoje, às 20h.
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Informações: www.galpaocinehorto.com.br.
O disco será disponibilizado na plataforma ONErpm.