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Lô Borges faz show de 'estreia' de seu primeiro disco solo, lançado há 45 anos

O LP virou cult, mas só nesta sexta-feira, 13, em São Paulo, o compositor apresenta as 15 canções no palco

Ana Clara Brant

Em 1972, Lô Borges tinha 20 anos e havia acabado de gravar com Milton Nascimento um disco que se tornou emblemático: Clube da Esquina

. O sucesso do álbum duplo foi tanto que, logo depois, a gravadora EMI Odeon o convidou para lançar seu primeiro trabalho solo. ''Simplesmente, recebi o contrato para gravar um disco, mas sem nenhuma canção pronta. Tive pouquíssimo tempo. Compunha de manhã, meu irmão (Márcio Borges) fazia as letras à tarde, a gente gravava e fazia os arranjos de noite. Foi um sufoco'', recorda.

O álbum Lô Borges acabou batizado como ''disco do tênis'' por causa de sua capa: um par de tênis registrado por Cafi, o fotógrafo da icônica capa do Clube da Esquina, que traz dois meninos de Nova Friburgo (RJ), Cacau e Tonho, representando Lô e Bituca. Na época, ele não queria ser obrigado a gravar um álbum após o outro. Seu desejo era sair de cena, pôr o pé na estrada. ''O tênis simbolizava essa coisa libertária. Fiz o álbum e quis dar um tempo para me estruturar como compositor. Não estava a fim de levar a carreira adiante naquele momento
. Fui atrás das coisas que o pessoal da minha geração estava fazendo: viajar e desbravar o país'', relembra.

Logo depois da gravação, Lô virou hippie e partiu rumo à vila de Arembepe, na Bahia. O segundo disco, A Via Láctea, só veio sete anos depois. ''Mudei completamente a minha vida. O pessoal da gravadora deve ter me achado o cara mais louco de todos. Gravo um disco, em vez de pôr a minha cara ponho um tênis na capa e depois desapareço do show business'', pontua o mineiro.

Curiosamente, o compositor não fez show de lançamento. Jamais executou as 15 faixas ao vivo. Quarenta e cinco anos depois, o ''disco do tênis'' ganha vida: hoje à noite, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, estreia a minitemporada dedicada a ele. O repertório será apresentado na íntegra, com os arranjos originais. Atento ao ''ineditismo'' do projeto, o Sesc procurou Lô. Propôs abrir com ele a temporada deste ano

. Os ingressos para hoje, amanhã e domingo estão esgotados. Acabaram-se em pouco menos de uma semana.

''Na época do lançamento não teve show porque fui embora para a Bahia. O engraçado é que comemorei os 10, 20, 30 e 40 anos do Clube da Esquina, mas não as efemérides desse disco. Agora ele completa 45 primaveras e vai ser a primeira vez, com direito a show com todas as músicas – tudo reconstituído igualzinho à gravação. Isso é fabuloso'', festeja.

CABECEIRA

A ideia partiu do compositor mineiro Pablo Castro, especialista na reconstituição de álbuns, principalmente dos Beatles. ''O 'disco do tênis' está na cabeceira de qualquer músico, principalmente de quem curte Clube da Esquina. Sugeri ao Lô, junto com minha banda, tirar cada nota e arranjo como foi feito. Ele topou na hora'', conta.

Durante três meses, Pablo (guitarra, violões, piano e voz) ensaiou com Guilherme De Marco (violão, guitarra e vocal), Dan Oliveira (violão, guitarra, percussão e vocal), Alê Fonseca (teclados), Paulim Sartori (baixo, bandolim, percussão e vocal) e D’Artganan Oliveira (bateria, percussão e vocal). ''Tiramos cada detalhe do disco. O Lô só foi ensaiar conosco bem depois'', acrescenta ele.

Lô ficou em estado de choque quando entrou no local dos ensaios, o Peregrino Music Estúdio, no Bairro São Pedro, em BH. ''Fiquei tão impressionado com o que eles fizeram, como estava igual, que me senti com 20 anos de novo. Foi uma viagem no tempo. Foi uma emoção ver o pessoal executando exatamente os meus solos de guitarra ou repetindo a maneira como o Beto Guedes, o Toninho Horta e Nelson Ângelo tocaram no meu disco. Está rigorosamente igual. Eles são arqueólogos da canção'', destaca Lô, que participou dos ensaios usando tênis, é claro.

A repercussão do novo projeto nas redes sociais foi tamanha que o mineiro tem recebido convites para levar o show a várias partes do Brasil. Lô Borges, que completou 65 anos na terça-feira, 10, não poderia estar mais feliz. ''Ainda não tem nada de concreto, mas certamente vai rolar uma turnê que vai passar por BH, além do Rio, Porto Alegre e Belém. Já temos muitos pedidos. Não imaginava que esse álbum fosse tão querido pelo público. Na minha cabeça, o 'disco do tênis' era tão lado B, um LP meio perdido no tempo... O Pablo sempre falou que era um trabalho mais importante do que eu imaginava, tanto é que entrou na lista dos 1.001 discos para ouvir antes de morrer'', conclui. Em breve, o álbum cult será lançado novamente em vinil – igualzinho ao LP de 1972.

A capa
''Quem se lembra de muitos detalhes dos anos 70 é porque não os viveu'', brinca Lô Borges, ao responder à pergunta sobre os pormenores da produção de seu primeiro disco solo. Porém, de uma coisa ele nunca se esqueceu: do tênis. O primo Sérgio, que morava em Brasília, veio passar um fim de semana na casa de um dos irmãos do músico em BH. Era o dono do famoso ''pisante''. ''Achei lindo aquele tênis e perguntei se ele topava fazer permuta. Daria algo em troca, mas ele acabou me dando de presente. Ou seja, os tênis que ficaram tão famosos já eram usados'', diverte-se o compositor.

Faixa a faixa
. Aos barões (Lô Borges)
. Calibre (Lô Borges)
. Canção postal (Lô Borges/Ronaldo Bastos)
. Como o machado (Lô Borges)
. Eu sou como você é (Lô Borges)
. Faça seu jogo (Lô Borges/Márcio Borges)
. Fio da navalha (Lô Borges)
. Homem da rua (Lô Borges)
. Não foi nada (Lô Borges)
. Não se apague esta noite (Lô Borges/Márcio Borges)
. O caçador (Lô Borges/Márcio Borges)
. Pensa você (Lô Borges)
. Pra onde vai você (Lô Borges/Márcio Borges)
. Toda essa água (Lô Borges)
. Você fica melhor assim (Lô Borges /Tavinho Moura)