Maturidade. Essa talvez seja a palavra que melhor resume a atual sonoridade da banda Fresno. O disco A sinfonia de tudo o que há mescla sentimentos antagônicos: raiva e tranquilidade, tristeza e alegria e, até mesmo para os mais displicentes, esperança e niilismo. As 11 composições do novo álbum externam o quanto o grupo liderado por Lucas Silveira (vocal e guitarra) evoluiu em 15 anos de estrada. ''Acho que este trabalho mostra um lado mais versátil do Fresno. O álbum pode, sim, ser encaixado na categoria ópera-rock. Essa era a ideia, na verdade'', ressalta Silveira.
Parte dos arranjos ''ousados'' de A sinfonia de tudo o que há surgiu das mãos da orquestra do maestro Lucas Lima. Sim, aquele integrante da Família Lima, que é casado com a cantora Sandy. Lima consegue potencializar o ''dramalhão'' das composições de Silveira de forma intensa, sem deixar que elas se tornem repetitivas ou excessivamente emocionais.
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Com guitarras menos distorcidas e riffs leves, as canções emanam serenidade e equilíbrio. Abrace sua sombra e Sexto andar, por exemplo, promovem uma catarse espiritual interna. ''Não precisa ter guitarra estridente para ser rock. Elas estão ali, no mesmo lugar. Só podem não estar em primeiro plano, como costumava acontecer'', conta o guitarrista Vavo Mantovani.
Em Hoje sou trovão, segunda faixa do disco, uma participação mais do que especial. Caetano Veloso, ídolo máximo de todos os integrantes da banda, empresta sua voz para a emblemática letra de Lucas Silveira. ''Nunca acreditei que ele iria aceitar. Quando mostramos a música para o Caetano, para ser bem sincero, ela (a canção) nem estava pronta ainda. Ficamos conversando sobre várias coisas e só depois ele ouviu, gostou e topou gravar'', lembra Silveira.
Nenhuma outra banda da história recente do rock nacional mudou tanto sua sonoridade quanto o Fresno. O grupo de emocore, à mercê de críticas contundentes (muitas vezes até injustas), liderado por Lucas Silveira (voz e guitarra), superou a saída do então baixista Rodrigo Tavares, em março de 2012, e passou a produzir trabalhos mais consistentes.
Se Infinito (2012) já dava pistas do rumo que o quarteto tomaria, A sinfonia de tudo o que há, que acaba de ser lançado, expõe ainda mais tal mudança. Os riffs de guitarra, agora não tão evidentes, ainda estão por lá, claro. O que Lucas e sua trupe fazem, entretanto, é se aventurar pelo desconhecido. Algo difícil para muitas bandas que explodiram fazendo sempre a mesma coisa.
O novo disco, portanto, explora novos instrumentos, dá voz aos violinos e mostra que a criatividade musical significa, de fato, sair da casinha e percorrer caminhos complexos e nem sempre tão agradáveis. Só assim, quem sabe, o rock nacional pode ser reinventado.