Gustavo Galo escreve “te amo” com “tesão”. Tesão sexual ou uma letra “t” grande, como “Te amo”? Ambos? Compositor e cantor paulista de 31 anos, em seu segundo passo na carreira solo, criada em paralelo ao trabalho com a incendiária Trupe Chá de Boldo, brinca com as palavras, como um íntimo delas. Numa proximidade quase tântrica com as letras, suas formas, sons e usos, Galo canta amores carnais, suados e noturnos.
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Desgostoso, leu um poema de Vladimir Maiakovski, artista russo morto em 1930, chamado A extraordinária aventura vivida por Vladimir Maiakovski no verão na Datcha. No texto, o poeta reclama com o Sol inclemente. Maldiz a vida até que o próprio Sol responde e explica-lhe que a sua própria jornada, de brilhar dia após dia, também era cansativa. Juntos e amigos, entendem a função de cada um – o poeta com suas palavras colocadas lado a lado, o Sol com raios e quentura. “Passei a pensar sobre essa atividade que é ser compositor”, explica Galo. “Viajar assim, de ônibus, de maneira independente, deu-me força para fazer um trabalho novo.”
Mais uma vez trabalhando com Gustavo Ruiz, produtor que havia comandado o disco de estreia e também parceiro dos álbuns da Trupe, Galo faz um disco no qual fala de amor sem medo e pudores. Apaixonado novamente, ele apresenta canções solares, indicadas para serem ouvidas à noite. A transa com as palavras é quente e aberta a interpretações. Amor, de Galo, é indireto, como um flerte. Quando o escancara e opta por usar as palavras dos outros. “Ai meu amor, como eu te amo / Tem um arco-íris unindo meu coração ao seu coração”, ele canta em Salto no escuro, de Mautner e Jacobina. “Quanto mais colocamos o amor em uma relação libertária, mais combatemos uma moral que ainda reveste o sentimento”, ele diz. Quanto mais “tesão”, melhor.
(Pedro Antunes/Estadão Conteúdo)
SOL
Artista: Gustavo Galo
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