A primeira experiência sexual de todo rapaz “de família” da Irará dos anos 1950 era uma certa Maria. Já chegada aos 40, não tinha pose de moça. Tampouco era prostituta. “Uma senhora da roça com vocação para a caridade”, resume hoje Tom Zé, ao se lembrar de “dona” Maria Bago Mole, que povoou a imaginação dos garotos que viviam na cidade baiana na época. “Tinha um amigo chamado Fernando que, quando estava jogando bola, era rodeado por ela. Era uma estratégia dela para pegar menino na tentação.”
São memórias como esta que levaram Tom Zé, agora chegado aos 80 (completados em 11 de outubro), a compor as 13 faixas de Canções eróticas de ninar – Urgência didática, seu recém-lançado novo álbum. Ele apresenta hoje em Belo Horizonte, no Sesc Palladium, o show referente ao disco. Estará acompanhado por Daniel Maia (guitarra – também o produtor dos álbuns mais recentes de Tom Zé), Jarbas Mariz (viola, bandolim e percussão), Cristina Carneiro (teclado); Felipe Alves (baixo) e Rogério Bastos (bateria).
Por que sexo justamente agora? “É que outros projetos foram tomando a frente. Dois anos atrás, fiz um show numa boate e cantei músicas do gênero (com teor sexual). Várias pessoas se interessaram e alguns fatos foram botando lenha na fogueira”, afirma. O sexo, para Tom Zé, é formado por lembranças de um menino do interior que não tinha contato nenhum com o assunto.
“Os pais não falavam sobre isso. Na escola também não, nem no ginásio. O povo da copa, da cozinha, do quintal é que continuamente fazia sugestões. As casas burguesas (como a de sua família) tinham muitos empregados”, conta. A essa seara pertence a canção Descaração familiar. “No bê-á-bá tinha fubá/Passava por judicioso ou malicioso/O pessoal do serviço fazia/Nossa escolinha/Aula todo dia/Aula no quintal/Aula na cozinha.”
Há também o sexo enquanto crônica. USP X GV (com participação de Vange Milliet) acompanha a disputa entre as estudantes da Universidade de São Paulo com as da Faculdade Getúlio Vargas. Já a inspiração de Orgasmo terceirizado foi tirada de uma reportagem publicada na revista Joyce Pascowitch sobre uma massagem tântrica. “Uma vitória da imprensa, musa que pensa/Numa edição histórica, a revista categórica/Expõe pela primeira vez/O que o homem prometeu e nunca deu.”
A sonoridade passa pelo samba (Sexo, que mistura sexo e filosofia); forró (a já citada Descaração familiar) e até rock (Sobe ni mim). No palco, o disco se transforma. “Principalmente porque não tenho pathos de cantar. Essa coisa de cantar contemplativo eu nunca tive. Procuro camadas de informações com o corpo em movimento. E modifico muitas letras. Às vezes, no dia do show alguma coisa me desperta e mudo na hora”, afirma Tom Zé.
Ainda que boa parte das canções tenham nascido da memória de outras épocas, a maioria delas foi composta de dois anos para cá. Observador de seu e de outros tempos, Tom Zé recorda-se do espanto sobre o gozo feminino. “Sempre me interessei pela mulher, sou um aliado. Minha primeira namorada era uma menina que gozava. E eu não sabia que isso era ‘anormal’. Homem tem medo de andar com mulher que goza, pois ela assombra. Quando comecei a ter novas namoradas, e elas não chegavam a isso, eu que fui ficando cada vez mais assombrado.”
Dedo fala de vários tipos de meninas e da descoberta do sexo, “ôoo, se foi um dia de tédio, ôoo, receito um dedo médio”. Nas pesquisas para compor o disco, ele admite algumas dificuldades. “Tinha que tratar desse assunto sem ser grosseiro com a mulher. O hábito do machismo está tão presente que às vezes a gente não percebe. Tem meninas que se queixam que não tem nenhum nome bonito para o órgão sexual delas.” E olha que ele pesquisou. Descobriu um trabalho que citava 4 mil nomes para o órgão sexual feminino. “Uma coisa inacreditável. A maior parte deles é grossa pra caramba. Encontrei uns cinco ou seis menos grosseiros, mas nenhum realmente gracioso.”
ENERGIAS A conversa vai se encaminhando até chegar à obrigatória pergunta. E como é o sexo aos 80? Espertamente, Tom Zé responde sem responder. “Eu não posso ser padrão, porque minha vida é completamente diferente. Sou macrobiótico quase a vida toda. Até hoje tomo cuidado com os alimentos. Não bebo, não fumo, não como fora e como arroz integral antes de almoçar, um costume da macrobiótica. Então, cada um joga fora suas energias como quer”, ele escapa pela tangente.
Saindo da seara sexual, ele comenta sobre os pontos positivos e negativos de se chegar longe. “Minha resistência de ir para a Europa (fazer shows) acabou. Há cinco anos não vou. Faço show sábado em Belo Horizonte, depois de ter feito um na sexta em Salvador. Pois no domingo vou estar no bagaço.”
Mas o prazer é tanto em subir ao palco que ele resolveu voltar atrás e pretende retomar as temporadas no exterior. Em junho, segue para uma série de apresentações nos Estados Unidos. Em seguida, deve emendar uma turnê na Europa. “É longe, mesmo voando na tal classe (a executiva).”
E mesmo com os problemas, há, sim, muita alegria na idade longeva. “Como tenho um trabalho em que não sou obrigado a me aposentar, é uma felicidade não parar. O maior castigo que uma criatura pode ter é sair do trabalho compulsoriamente. É suicídio.” Desta maneira, ele deixa claro que o ofício vai acompanhá-lo até o fim. “Não tenho férias e tenho angústia de férias. Só no Natal e Ano Novo não viajo, porque não tenho trabalho. Para mim é uma alegria trabalhar.”
Tinha que tratar desse assunto sem ser grosseiro com a mulher. O hábito do machismo está tão presente que às vezes a gente não percebe. Tem meninas que se queixam que não tem nenhum nome bonito para o órgão sexual delas” - TOM ZÉ, músico
TOM ZÉ
Show Canções eróticas de ninar. Hoje, às 21h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: Plateia 1: R$ 50 e R$ 25 (meia); Plateia 2: R$ 40 e R$ 20 (meia); Plateia 3: R$ 30 e R$ 15 (meia).
São memórias como esta que levaram Tom Zé, agora chegado aos 80 (completados em 11 de outubro), a compor as 13 faixas de Canções eróticas de ninar – Urgência didática, seu recém-lançado novo álbum. Ele apresenta hoje em Belo Horizonte, no Sesc Palladium, o show referente ao disco. Estará acompanhado por Daniel Maia (guitarra – também o produtor dos álbuns mais recentes de Tom Zé), Jarbas Mariz (viola, bandolim e percussão), Cristina Carneiro (teclado); Felipe Alves (baixo) e Rogério Bastos (bateria).
Por que sexo justamente agora? “É que outros projetos foram tomando a frente. Dois anos atrás, fiz um show numa boate e cantei músicas do gênero (com teor sexual). Várias pessoas se interessaram e alguns fatos foram botando lenha na fogueira”, afirma. O sexo, para Tom Zé, é formado por lembranças de um menino do interior que não tinha contato nenhum com o assunto.
“Os pais não falavam sobre isso. Na escola também não, nem no ginásio. O povo da copa, da cozinha, do quintal é que continuamente fazia sugestões. As casas burguesas (como a de sua família) tinham muitos empregados”, conta. A essa seara pertence a canção Descaração familiar. “No bê-á-bá tinha fubá/Passava por judicioso ou malicioso/O pessoal do serviço fazia/Nossa escolinha/Aula todo dia/Aula no quintal/Aula na cozinha.”
Há também o sexo enquanto crônica. USP X GV (com participação de Vange Milliet) acompanha a disputa entre as estudantes da Universidade de São Paulo com as da Faculdade Getúlio Vargas. Já a inspiração de Orgasmo terceirizado foi tirada de uma reportagem publicada na revista Joyce Pascowitch sobre uma massagem tântrica. “Uma vitória da imprensa, musa que pensa/Numa edição histórica, a revista categórica/Expõe pela primeira vez/O que o homem prometeu e nunca deu.”
A sonoridade passa pelo samba (Sexo, que mistura sexo e filosofia); forró (a já citada Descaração familiar) e até rock (Sobe ni mim). No palco, o disco se transforma. “Principalmente porque não tenho pathos de cantar. Essa coisa de cantar contemplativo eu nunca tive. Procuro camadas de informações com o corpo em movimento. E modifico muitas letras. Às vezes, no dia do show alguma coisa me desperta e mudo na hora”, afirma Tom Zé.
Ainda que boa parte das canções tenham nascido da memória de outras épocas, a maioria delas foi composta de dois anos para cá. Observador de seu e de outros tempos, Tom Zé recorda-se do espanto sobre o gozo feminino. “Sempre me interessei pela mulher, sou um aliado. Minha primeira namorada era uma menina que gozava. E eu não sabia que isso era ‘anormal’. Homem tem medo de andar com mulher que goza, pois ela assombra. Quando comecei a ter novas namoradas, e elas não chegavam a isso, eu que fui ficando cada vez mais assombrado.”
Dedo fala de vários tipos de meninas e da descoberta do sexo, “ôoo, se foi um dia de tédio, ôoo, receito um dedo médio”. Nas pesquisas para compor o disco, ele admite algumas dificuldades. “Tinha que tratar desse assunto sem ser grosseiro com a mulher. O hábito do machismo está tão presente que às vezes a gente não percebe. Tem meninas que se queixam que não tem nenhum nome bonito para o órgão sexual delas.” E olha que ele pesquisou. Descobriu um trabalho que citava 4 mil nomes para o órgão sexual feminino. “Uma coisa inacreditável. A maior parte deles é grossa pra caramba. Encontrei uns cinco ou seis menos grosseiros, mas nenhum realmente gracioso.”
ENERGIAS A conversa vai se encaminhando até chegar à obrigatória pergunta. E como é o sexo aos 80? Espertamente, Tom Zé responde sem responder. “Eu não posso ser padrão, porque minha vida é completamente diferente. Sou macrobiótico quase a vida toda. Até hoje tomo cuidado com os alimentos. Não bebo, não fumo, não como fora e como arroz integral antes de almoçar, um costume da macrobiótica. Então, cada um joga fora suas energias como quer”, ele escapa pela tangente.
Saindo da seara sexual, ele comenta sobre os pontos positivos e negativos de se chegar longe. “Minha resistência de ir para a Europa (fazer shows) acabou. Há cinco anos não vou. Faço show sábado em Belo Horizonte, depois de ter feito um na sexta em Salvador. Pois no domingo vou estar no bagaço.”
Mas o prazer é tanto em subir ao palco que ele resolveu voltar atrás e pretende retomar as temporadas no exterior. Em junho, segue para uma série de apresentações nos Estados Unidos. Em seguida, deve emendar uma turnê na Europa. “É longe, mesmo voando na tal classe (a executiva).”
E mesmo com os problemas, há, sim, muita alegria na idade longeva. “Como tenho um trabalho em que não sou obrigado a me aposentar, é uma felicidade não parar. O maior castigo que uma criatura pode ter é sair do trabalho compulsoriamente. É suicídio.” Desta maneira, ele deixa claro que o ofício vai acompanhá-lo até o fim. “Não tenho férias e tenho angústia de férias. Só no Natal e Ano Novo não viajo, porque não tenho trabalho. Para mim é uma alegria trabalhar.”
Tinha que tratar desse assunto sem ser grosseiro com a mulher. O hábito do machismo está tão presente que às vezes a gente não percebe. Tem meninas que se queixam que não tem nenhum nome bonito para o órgão sexual delas” - TOM ZÉ, músico
TOM ZÉ
Show Canções eróticas de ninar. Hoje, às 21h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: Plateia 1: R$ 50 e R$ 25 (meia); Plateia 2: R$ 40 e R$ 20 (meia); Plateia 3: R$ 30 e R$ 15 (meia).