As músicas são um potente diálogo, tanto na forma como nas letras, com o universo da cultura africana. “É mais uma vivência do que uma pesquisa. Eu, Kiko e Juçara somos praticantes do candomblé. É algo que está no nosso dia a dia. Os orixás são inspiração muito forte”, afirma França. Um exemplo é a faixa Oba Koso, uma cantiga do candomblé, e Osanyin, que, na forma, faz referência ao odu, uma espécie de parábola na tradição iorubá. “É como uma reza. Esse universo é tanto nosso assunto como a estética que adotamos.”
O que se tem no álbum não é, porém, uma referência literal a aspectos da linguagem das religiões africanas. Tampouco uma “releitura”, na opinião de França, que considera essa palavra completamente esvaziada de sentido. “São influências.” Em MM3, a banda apresenta a interlocução com a África do Norte, em especial com Marrocos, Etiópia, Níger e Mali.
“Tocamos em Rabat, capital do Marrocos. Captamos o sentimento do deserto”, diz sobre a turnê que fizeram em julho de 2015 por países da África e Europa. Nessa viagem, os músicos também encontraram conexões entre os países africanos e o Brasil. “Tem um mistério ali. Fomos a feiras em ruazinhas estreitas com a venda de produtos que não sabíamos direito o que era. A cultura árabe e muçulmana é muito forte. As imagens são muito fortes.” Juçara destaca as cores, as pessoas e os cantos religiosos que ecoavam pelas ruas.
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CORPO O músico lembra que a banda não hesitou quando recebeu o convite de Paulo Pederneiras para compor a trilha do próximo espetáculo do Grupo Corpo. Como é um trabalho em processo, França diz que ainda não é possível dar muitos detalhes, mas adianta que a inspiração será Exu. “Exu Bará é o orixá que rege o corpo, o movimento, a dança”, afirma. Como as coreografias do Grupo Corpo têm, em média, 40 minutos, o músico conta que eles trabalham com algo em torno de oito a 10 composições, que já foram gravadas em estúdio. No momento, a banda está no processo de finalização do trabalho.
Em momento em que cresce a intolerância no Brasil, principalmente a religiosa, o trabalho do Metá Metá abre as portas para o universo das religiões africanas. “A sonoridade da banda traz toda a inquietação e o desconforto com o dia a dia. Cada artista tem sua vocação. Mas não conseguiríamos fazer algo que não gerasse incômodo. Não sei se o jeito que a gente faz é o certo. Mas, para nós, é inconcebível outra coisa.”
O trio está num momento intenso, com diferentes frentes de criação. Juçara Marçal conta que Kiko Dinucci deve lançar o disco solo Cortes curtos no início de 2017. Thiago França pretende lançar uma loja virtual – Arranco o Toco – em parceria com Pedro Pinhel. “Vai vender todos os nossos produtos – discos, camisetas, sacolas – e terá também outros produtos.” Juçara está gravando o disco Os sambas do absurdo, em parceria com Rodrigo Campos, Gui Amabis e Nuno Ramos.
PRÊMIO APCA
O Metá Metá recebeu nesta semana o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor álbum de 2016. O disco premiado, MM3, é a base do repertório dos shows. MM3 foi gravado ao vivo, em três dias, com sonoridade dinâmica e marcada pela improvisação. A banda diz que usou esse método buscando ser fiel à sensação de êxtase, catarse e transe que caracteriza seus shows. O Prêmio APCA também reconheceu como melhor ator de 2016, na categoria teatro, o mineiro Leonardo Fernandes, por sua atuação no monólogo Cachorro enterrado vivo.
Metá Metá
Show de lançamento do disco MM3. Sexta (2) e sábado (3) , às 22h, na Autêntica (Rua Alagoas, 1.172 – Savassi). Ingressos a partir de R$ 30.