Ubuntu. Talvez você não compreenda o que essa palavra significa ou até mesmo nunca a tenha ouvido. Mas o rapper mineiro Flávio Renegado pretende colocá-la em prática no lançamento do álbum Outono selvagem em BH. ''Eu sou, porque nós somos'', diz ele, explicando o que é ubuntu e se referindo também à força da coletividade na cultura negra.
Amanhã, Renegado promove a festa #Somostodosblack. Vai receber um amigo: o cantor e compositor Simoninha. Também convidou a banda Zevinipim, a rapper Tamara Franklin, os dançarinos de passinho da ONG Lá da Favelinha e os bailarinos do Brother Soul.
Além de Outono selvagem, Flávio lançou os discos solo Do Oiapoque a Nova York (2008) e Minha tribo é o mundo (2011), além do DVD Suave (2013).
Nas 14 faixas de Outono selvagem, Renegado aborda virtudes e pecados. ''Meus dois primeiros álbuns eram voltados para questões mais materiais, a organização social. Nesse trabalho, olho mais para dentro'', explica. O rapper vive o momento de repensar tudo. Para ele, o que interessa não é roupa, tênis, carro ou emprego, mas o movimento de olhar para si próprio e se compreender como sujeito. ''A gente é a mistura de muitos sentimentos, uma avalanche. Somos o caos'', comenta.
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Para ele, esse processo exige que as pessoas se abram para o que foge da normalidade. Mesmo com esse trabalho mais existencial, Renegado mantém sua identidade artística. Nascido no Alto Vera Cruz, comunidade carente da Região Leste de BH, ele permanece atento a questões referentes à cultura negra e à produção da periferia.
O compositor, de 34 anos, diz estar vivendo o momento mais produtivo de sua carreira. Em maio, inaugurou o espaço cultural A Rebeldia, no Alto Vera Cruz. Em julho, promoveu o primeiro Festival de Inverno Vilas e Favelas e depois organizou o Sarau do Vera, dedicado à leitura de poesia. Já está no calendário de dezembro o Kizomba do Vera, festa de Natal com distribuição de brinquedos, rua de lazer, apresentações culturais, palestras e oficinas nos setores de arte, saúde e meio ambiente.
JOVENS
Atento à política e à crise brasileira, Renegado diz que as recentes ocupações das escolas lhe trouxeram a oportunidade de se aproximar dos jovens, o que também contribui para seu processo de autoconhecimento. ''A juventude está dando aula para a gente. Não adianta ficar falando nas redes, temos que ir para a prática. Dialogar'', defende.
O rapper está convicto de que ali estão surgindo vozes e protagonistas. ''São mulheres, LGBTs'', observa, lembrando que apoia e contribui com esses movimentos sociais. ''Eu me considero jovem. Mas não existe uma juventude, existem juventudes''. Essas forças, pontua, refletem-se no cenário musical com o despontar de artistas como Rico Dalasam e Liniker. ''É tudo negão. Eles dizem sou veado mesmo... E aí? Vamos apoiar e caminhar juntos. Na nossa periferia tem mina, mano e mana'', conclui.
#SOMOSTODOSBLACK
Com Flávio Renegado e convidados. Amanhã, às 15h. Rua Sapucaí, Floresta. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados no site www.sympla.com.br. Pede-se doação de 2kg de alimento não perecível.