Ele nasceu Antonio Pecci Filho, em São Paulo, em 6 de julho de 1946. Foi batizado com o mesmo nome do pai. Mas a família, ou melhor, sua mãe, dona Diva Bondeolli Pecci, logo tratou de lhe dar um apelido: o bebê se transformou em “toquinho de gente”. Completando 70 anos de vida e pouco mais de meio século de carreira, o cantor, compositor e um dos maiores violonistas do país tem ganhado uma série de homenagens.
Uma delas é a caixa Toquinho - Que maravilha! (1966-1974), idealizada e produzida por Marcelo Fróes, do selo Discobertas. A caixa reúne quatro discos do músico, incluindo raridades como o lendário Botequim (1973), que ele dividiu com a cantora Marlene e Gianfrancesco Guarnieri; e os álbuns A bossa do Toquinho (1966), Toquinho (1970) e Toquinho Boca da noite (1974).
Toquinho conta que aprovou a iniciativa, porque resgatou seus primeiros discos, além de dois (Botequim e Boca da noite) que marcam um trabalho solo durante o auge de sua parceria com Vinicius de Moraes. “É sempre bom atualizar a importância das obras que pontificaram uma carreira de mais de 50 anos. Quando a gente ouve novamente esses trabalhos, renascem recordações de momentos que foram muito importantes pelas emoções que causaram a alguém que começava a se projetar como artista profissional. Principalmente quando ouço o primeiro disco apenas com solos de violão. Tantas ansiedades vividas com ele, tantas portas que se abriram a partir dele”, lembra.
INFÂNCIA MUSICAL
O músico, que começou a ter aulas de violão aos 14 anos, recorda que na sua infância e pré-adolescência convivia com todos os gêneros musicais, já que seu pai ouvia praticamente de tudo, de Luiz Gonzaga a Chopin. “Por conta disso, gravei o CD Passatempo, há alguns anos, cantando composições de vários autores dessa época que tiveram influência em minha formação musical. Mas foi a Bossa Nova que me despertou decisivamente para a música. Comecei a lidar com o violão, ouvia os primeiros discos de Carlos Lyra e tentava tirar os acordes que ele fazia. Aí surgiu o João Gilberto e sua batida insuperável. Não resisti, embalado por uma época inigualável da MPB”, afirma.
Por falar nesse gênero tão brasileiro, Toquinho defende que todos são herdeiros da Bossa Nova, até mesmo os sertanejos mais sofisticados, e vê o estilo consagrado por Tom e Vinicius mais vivo do que nunca. “A Bossa Nova se renova a cada despontar de uma nova tendência, porque sua estrutura melódica deixou rastros musicais que se alongam e perduram no tempo como definitivos”, avalia.
Aliás, não há como dissociar Toquinho do Poetinha. A dupla costumava brincar que vivia um casamento, porém sem sexo. O autor de Aquarela e Que maravilha descreve Vinicius de Moraes como alguém extremamente agregador – todos que compartilhavam de sua presença dividiam com ele a sabedoria e o humor inteligente de um poeta que, além de ensinar gerações, também aprendia com os jovens. “Sinto falta do Vinicius amigo, dos papos descontraídos e de suas histórias marcantes em conteúdo e picardia. Do Vinicius companheiro, sempre disposto a tudo, jamais esmorecendo em qualquer atividade ou iniciativa”, frisa.
CARÊNCIA
O artista, que participou ativamente da época de ouro da MPB e fez parcerias com figuras fundamentais, diz que, apesar de seu dinamismo, a nossa música vive um período de carência de talentos capazes de se confirmar no cenário nacional. “Com algumas exceções, é o que acontece com o futebol. Dessa nova safra de cantoras, gostei muito da Camilla Faustino, com quem já dividi um show em Bogotá e irei fazer dois shows agora em dezembro, em São Paulo”, diz.
O cantor e compositor também faz uma análise da música infantil no país. Para ele, não é fácil criar canções para esse público, já que a criança prima pela espontaneidade e revela naturalmente suas emoções. “Se gostam, não esquecem. Se não gostam, descartam. Eu me divirto fazendo músicas infantis, mesmo porque é preciso ter muito humor para fazer essas músicas. Quem não tem humor é melhor nem tentar. Há que ter humildade, despojar-se de coisas que se aprendeu, escalas, harmonias, teorias musicais. E fazer o que o som pede, o que a canção pede para ficar audível, agradável. E essa linguagem é muito difícil, porque não se pode subestimar a criança e não se pode fazer qualquer blá-blá-blá”, avalia.
Olhando pra trás, Toquinho faz um balanço positivo de sua trajetória pessoal e profissional e destaca que o importante é conseguir manter a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. “Cada ano robustece o seguinte, e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma. E a música será sempre uma chama a aquecer minha dedicação ao violão. Estudo todos os dias à procura de novos acordes e harmonias. Amo o que faço, o palco é a extensão de minha casa. Nele sou simples e íntimo da plateia. Costumo dizer que há apenas uma diferença entre aquele jovem do começo, do Teatro Paramount, e o Toquinho de hoje: a experiência dos 50 anos de carreira. O que conspira para viver ainda o destemor de muitas vezes repetir os caprichos e a obstinação da juventude”, resume.
Três perguntas para...
MARCELO FRÓES,
idealizador e produtor da caixa Toquinho – Que maravilha!
Como surgiu a ideia da caixa?
Esses projetos sempre surgem da minha vontade de colecionador. Faço produtos que compraria se outros tivessem feito. Claro que os 50 anos de carreira de Toquinho em 2016 foram determinantes para o momento. Os discos contam os 10 primeiros anos de carreira solo, que é anterior e sempre existiu em paralelo à dupla com Vinicius.
Qual a principal contribuição do Toquinho para a música popular brasileira?
Em primeiro lugar, ele é um grande músico. Além de ser um grande cantor e compositor de um repertório singular.
Como o Toquinho se encaixa no atual cenário da nossa música popular?
Toquinho é um dos pilares da boa música que se fez aqui a partir dos anos 1960.
Toquinho – Que maravilha! (1966-1974)
Caixa com os discos A bossa do Toquinho, Toquinho, Botequim e Boca da noite
Selo Discobertas
Preço médio: R$ 80
Toquinho comemora 70 anos com relançamento dos primeiros discos da carreira
Cantor, compositor e violonista, em entrevista ao EM, analisa o cenário da MPB, fala das saudades de Vinicius e afirma que o palco é uma extensão de sua casa
15/11/2016 10:18