O show anunciado aos 1.300 pagantes – que por sinal esgotaram os ingressos dois meses antes da apresentação em menos de uma semana – seria, por si, robusto produto de entretenimento. Trouxe, além da cantora paraense famosa pelo bate-cabelo, outras duas convidadas de peso, que bem sabem como se faz para colocar multidões no bolso: Ivete Sangalo e Solange Almeida, da banda Aviões do Forró.
Mas foi o público em toda sua complexidade quem reinou absoluto no evento.
Os mistérios por trás da atração? Humano demais para o entendimento, o fenômeno foi definido pela própria Joelma, assim que pegou no microfone, à meia-noite: Força estranha. A de Caetano Veloso, no caso, canção com que ela abriu o show.
Do mesmo sentimento compartilha Rafaela Ribeiro, mulher trans de 34 anos que é dona de casa e ganhou um “vale night” do marido ciumento para curtir a “ídola”. “Na maioria das vezes, é mídia, não é isso? As vezes o pessoal não entende a maneira como ela pode ter falado aquelas coisas. Mas devido a eu ser trans há muitos anos, eu tiro de letra qualquer tipo de preconceito. E até hoje, pra ser bem sincera, eu não tenho certeza se aquilo foi verdade mesmo”, defende.
Dor de cotovelo
No embalo de Ivete Sangalo, pessoalmente convidada pela nortista, o clima foi de delírio. A canção Amor novo, que as amigas não ensaiaram previamente, teve que ser repetida três vezes até que o tom fosse acertado. A impressão foi de que o público teria aplaudido outras 30 tentativas.
Solange Almeida coroou o momento “sororidade feminina”, ao entoar ao lado da colega a música Mulher não chora.
Três trocas de roupa depois, a passarela em formato de bota (marca registrada de Joelma), iluminada sem economia com luzes de led, recebia os três filhos da ex-vocalista do Calypso: Yago, Nathália e Iasmin. Era hora do momento gospel. Com lágrimas nos olhos e mãos erguidas para o céu, a família cantou o faixa O amor de Deus.
Com uma das mãos para cima, outra no peito, a plateia orou junto.
Quarto e último bloco da gravação, momento do amém final, ao som de antigos sucessos do Calypso.
Cinco da manhã: bis e fim de culto.
*A repórter viajou a São Paulo a convite da Universal Music
.