Daniela Mercury quis despir as músicas que ela mesma vestiu nos últimos 20 anos. É como a artista baiana define a essência do novo álbum, O axé, a voz e o violão (Biscoito Fino, R$ 29,90), no qual revisita, sob nova perspectiva, músicas populares do axé. Em casa, ao compartilhar a ideia do projeto, percebeu alívio no semblante da mãe: finalmente Daniela sossegaria sobre o palco, cantando sentada, tocando violão. Era o fim daquele eterno carnaval. O show, contudo, revela o contrário: em vez de fuga ao axé baiano, existe ali uma intervenção em defesa do ritmo, uma reanimação dele. Ela esvazia os arranjos de canções como Canto da cidade e Dara, associadas no disco a clássicos da música popular como Super-homem, a canção, e Como nossos pais, a fim de ofertar ao público o que há por trás das guitarras elétricas, o tutano das composições.
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Com a popularidade do estilo sufocada pela ascensão do gênero sertanejo, O axé, a voz e o violão lança luz sobre o que pode ser um novo desdobramento do ritmo: “O (formato) voz e violão é um teste para essas canções e para o gênero. Se funcionar, um universo se abre. Isso pode inspirar as novas gerações a esvaziarem seus arranjos, coisa que eu tento sempre fazer nos meus álbuns, o que é bem difícil”, prevê Daniela.
O resultado é antes uma releitura do que um resgate do axé original, mistura de elementos do frevo e ritmos afro-latinos, difundido entre os anos 1980 e 1990 pelo país. Foge à tendência de reproduzir sucessos daquelas décadas com tom nostálgico – premissa de turnês comemorativas protagonizadas nos últimos anos por bandas como Asa de Águia e É o Tchan! –, mas os revigora, lhes dá novas chances. Sobre a competição por espaço no mercado fonográfico, a artista relativiza: “Acho que haverá sempre espaço para a música bem feita e bonita. Algumas portas se fecham, mas os sentidos das pessoas sempre estão abertos. O desafio é encontrar maneiras de chegar aos seus ouvidos”, considera.