Cinco anos depois de sua mais recente edição, o 53HC Fest está de volta. Desta sexta, 4, a domingo, 6, no Music Hall, o festival busca provar que o rock, a despeito de crises, ainda está (muito) vivo e chutando.
A escalação é prova disso. Os headliners das três noites são formações históricas, cada uma em sua seara: Plebe Rude, Camisa de Vênus e Sepultura. Compondo a programação, há bandas já com muita bagagem, caso dos gaúchos da Cachorro Grande.
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E há ainda uma boa amostragem de novos grupos. Entre esses, há bandas de fora, como as paulistanas BBGG e Worst, e vários grupos de Minas, com destaque para Young Lights, El Toro Fuerte e Monocine.
Nascido em 1999, o 53HC Fest volta somente agora, mas nos últimos cinco anos sua realizadora, a 53HC, esteve muito ativa, com noites menores (como a Flaming Night) e eventos como a Mostra Cultural Contemporânea.
O festival marca também a despedida da loja 53HC, na Galeria do Rock, que vai funcionar somente até o fim do ano. Bart Ramos, cabeça da empreitada, fecha as portas da loja sem ressentimentos. ''Uma loja de discos hoje tem que ter outro conceito, misturar com outras coisas'', afirma. Ou seja, a 53HC acaba na forma de loja, mas continua firme, com o pé na porta.
Hoje
PLEBE RUDE
''O rock está numa fase difícil''
Foi em fevereiro de 1986 que a Plebe Rude veio a público com seu álbum de estreia, O concreto já rachou. Disco produzido por Herbert Vianna, foi também o mais bem-sucedido do grupo de Brasília. Com sete faixas, o disco emplacou ao menos dois hinos da geração 80: Até quando esperar e Proteção, justamente as duas primeiras faixas do disco.
Hoje, 30 anos mais tarde, a Plebe daquela época se resume ao guitarrista e vocalista Philipe Seabra e ao baixista André X. Completando o time está Clemente, dos Inocentes, desde 2004 guitarrista e vocalista do grupo e o baterista Marcelo Capucci.
São 30 anos de Concreto e 35 de Plebe. ''É um disco que conheço bem'', comenta Clemente, o único integrante do grupo a residir em São Paulo. ''Conheci os caras em 1983. O primeiro show que eles fizeram em São Paulo foi na Napalm, casa em que eu trabalhava'', acrescenta.
O punk rock é a base da sonoridade da Plebe e dos Inocentes, ainda que as bandas tenham nascido em cenários distintos. ''A fonte é a mesma, são bandas-irmãs'', diz Clemente. No show, a banda vai tocar o disco de estreia na íntegra, mas também guarda espaço para material mais recente, do álbum Nação daltônica (2014).
Clemente atua hoje em três searas: a Plebe, os Inocentes e sua carreira solo. Mas é a banda de Brasília a sua prioridade. ''Ainda mais por que o rock está numa fase difícil, hoje não fazemos dez shows por mês.''
O passado de Clemente veio à tona no recém-lançado Meninos em fúria, livro que relata o nascimento do punk paulistano. Para a empreitada, ele se uniu ao escritor Marcelo Rubens Paiva. ''A gente se encontrava sempre no metrô. Um belo dia, ele me perguntou se eu não contaria a minha história. E disse que estava fazendo, mas não tinha conseguido sair do primeiro capítulo.'' Com a entrada de Rubens Paiva, o projeto acabou se concretizando.
Sábado
CAMISA DE VÊNUS
''Não nasci para ser maestro
do baile da saudade''
Conversar com Marcelo Nova é esperar o inesperado. Aos 65 anos, o roqueiro continua relevante, porque não cede a pensamentos pré-estabelecidos. Como banda, o Camisa de Vênus atuou de 1980 a 1997 (com uma interrupção neste período). Neste século, voltou ocasionalmente para algumas reuniões.
Até que veio 2015, e Nova recebeu um telefonema de Júnior Valadão (irmão de Nasi, e também empresário do Ira!) lembrando-o de que a banda estava completando 35 anos. E que ele produziria uma turnê comemorativa. Nova, por sua vez, ligou para o baixista Robério Santana, da formação original do Camisa, falando da empreitada. Resultado: há pouco mais de um ano o grupo – completado por Célio Glouster, bateria; Leandro Dalle e Drake Nova, este filho de Marcelo, nas guitarras – roda o Brasil. Mas o tom passadista foi ficando para trás. ''Definitivamente, não nasci para ser maestro do baile da saudade'', comenta Nova.
''Não estou renegando o que fiz, mas não queria ficar deitado numa cama quentinha e confortável e dormindo em berço esplêndido.''
No início deste ano, a banda se reuniu em estúdio e gravou Dançando na lua, primeiro álbum de inéditas em 20 anos. Entre as faixas, Nova destaca Raça mansa. Canta o refrão durante a entrevista para mostrar sua carta de intenções. ''Nós dançamos a dança/Nós cancelamos a luta/A nossa raça é mansa/A nossa massa é bruta/Nós vivemos de esperança/Nós pagamos as putas''.
''É uma letra forte porque é adulta, não é coisa de Atlético ou Cruzeiro, bonzinho ou malvado. Quem criou o Brasil fomos nós. Tudo o que está acontecendo hoje é reflexo do nosso comportamento. É muito fácil se colocar numa posição 'eu merecia algo tão melhor do que esta escória (que está na política).' Isto é papo de adolescente, de menino que vai para passeata jogar pedra em soldado'', afirma Nova.
O retorno rendeu ao Camisa ainda a gravação de um DVD ao vivo, registrado no último fim de semana em Porto Alegre. No palco, a banda emenda seu vigor e sua verve crítica (que, felizmente, passa ao largo do politicamente correto dominante) em músicas destes e de outros tempos.
Todos os seis discos de estúdio estarão representados no show. E, claro, canções que fazem parte da história do rock nacional, como Silvia, Simca Chanbord, Só o fim, Bota pra fudê, entre várias outras. ''Apesar de estar com 65, não estou descendo a rampa. Continuo subindo a escada, mas até onde ela vai não tenho a menor ideia'', afirma.
Domingo
SEPULTURA
''As pessoas estão perdendo
a habilidade de pensar por si''
São 32 anos de banda, muitos percalços, mas, a despeito da passagem do tempo, o Sepultura continua relevante. Lança em 13 de janeiro um novo álbum, Machine messiah, com dez faixas. Uma delas, I am the enemy, estará no repertório deste domingo.
''Estamos fazendo um apanhado de tudo. Aproveitamos o show da turnê de 30 anos, mas também estamos celebrando o Roots (que completou duas décadas em fevereiro), então o setlist vai ser meio diferente”, comenta o guitarrista Andreas Kisser.
Machine messiah foi gravado em maio na Suécia. ''Desde 1994 não gravávamos na Europa. Musicalmente o disco está diferente'', acrescenta. Não é um álbum conceitual, mas tem um tema recorrente: a robotização da sociedade contemporânea. ''Hoje em dia, é tudo robô. Desde o smartphone que não sai das mãos de ninguém, até a dúvida que se tem e vai ser tirada pelo Google. As pessoas estão perdendo a habilidade de pensar por si próprias, pois tudo está muito mastigado.''
Para colorir esse tema, o Sepultura buscou outras referências. Algumas músicas, por exemplo, são acompanhadas por violinos de um grupo da Tunísia. E enquanto o disco não sai, o Sepultura continua na estrada. No fim deste mês, dá início à primeira de quatro apresentações que geraram muito disse-me-disse nas redes sociais. Com Lobão, a banda vai fazer em Belém, Goiânia, Recife e Vitória o show A chamada. No palco, serão duas bandas tocando juntas o tempo todo (algo semelhante ao que Paralamas e Titãs fizeram no passado).
As posições políticas direitistas do velho lobo causaram algumas revolta entre os fãs do Sepultura. Kisser dá de ombros. ''É mais um dia comum na vida do Sepultura. Já tocamos com Zé Ramalho, Ana Cañas, neste ano subimos até no trio elétrico do carnaval de Salvador com o Carlinhos Brown. E as pessoas não se importaram com as convicções políticas desses artistas. Só que o Lobão tem uma posição aberta e clara e hoje as pessoas levam qualquer coisa para o lado político.''
A iniciativa de fazer o show em conjunto veio de Lobão, que fez o convite para a banda. ''Ele é um músico superinteligente com um conhecimento musical, técnico e teórico, fantástico. E a intenção de A chamada é justamente tentar fortalecer o cenário roqueiro brasileiro, que perdeu muito espaço nos últimos anos.”
Outro terreno arenoso para a banda é a turnê Return to roots, que os irmãos Max e Iggor Cavalera produzem para celebrar a efeméride (Roots foi o também o último álbum de Max no Sepultura). ''Não tenho opinião sobre isto. Acho que a gente está no presente, não trabalhando no passado. Respeito muito o Roots, é um dos maiores álbuns da nossa carreira. Mas fazer o disco inteiro agora seria um tiro no pé. Agora, cada um trabalha com as armas que tem'', finaliza o guitarrista.
53HC MUSIC FEST
Sexta, 4, e sábado, 5, a partir das 21h, e domingo, 6, a partir das 18h, no Music Hall (Avenida do Contorno, 3.239, Santa Efigênia). Ingressos: Por dia – R$ 30 (meia, 2º lote); R$ 50 (inteira, 1º lote); R$ 70 (open bar, preço único). Passaporte para os três dias – R$ 70 (preço único). À venda na Pietè Tatoo, Rua Paraíba, 1.441; Calaveras Bar, Rua dos Pampas 262; 53HC, Rua Rio de Janeiro, 630 (sem taxa de conveniência, em dinheiro) e centraldoseventos.com.br e ticketbrasil.com.br. Informações: 53hc.com.br
Canja do Overdose
Serão apenas quatro músicas, mas, mesmo assim, não dá pra perder. Domingo vai haver um pocket show com o Overdose. Isso aí. A banda que em 1985 dividiu um LP com o Sepultura (Bestial devastation de um lado; Século XX do outro) participa do festival para comemorar 33 anos de formação. São pelo menos 15 que o Overdose não toca em BH. E os integrantes informam: os fãs que quiserem podem levar seus exemplares de Século XX que eles vão assinar.
PROGRAMAÇÃO
Sexta, 4
El Toro Fuerte (MG)
Monocine (MG)
Hell Oh (RJ)
Cachorro Grande (RS)
Plebe Rude (DF)
Sábado, 5
Lava Divers (MG)
Young Lights (MG)
Yuck (Inglaterra)
BBGG (SP)
Camisa de Vênus (BA)
Domingo, 6
Hell’s Punch (MG)
Amenize (PA)
Test (SP)
Tormento (MG)
Worst (SP)
Sepultura (MG)