Não houve certeza alguma quando o Skank recebeu, de Chico Amaral, a letra de Garota nacional. O sentimento geral foi de dúvida. “‘Quero te provar’ não é muito explícito? O Skank nunca foi tão direto assim”, foi o que pensou Samuel Rosa, 20 anos atrás. E levou a letra para o estúdio para ver o que poderia sair dali.
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Garota nacional, canção cheia de malícia sobre uma garota (fictícia) com seu “vestidinho preto indefectível” que frequentava o Bar Nacional, principal casa de shows de BH daquele período, foi o único hit internacional do Skank. Estourou em Portugal, Chile, Argentina, Itália e, principalmente, na Espanha, que preferiu a versão em português, a despeito da gravação em espanhol.
“Não se tem notícia de uma música cantada em português que tenha chegado ao primeiro lugar nas rádios espanholas. Lá, ela também entrou no topo da venda de singles, ultrapassando o U2”, acrescenta Samuel. Sua repercussão foi semelhante à que Ai, se eu te pego, de Michel Teló, teve 15 anos mais tarde. Só que naquela época não havia internet.
A reboque principalmente de Garota nacional, O samba poconé, terceiro álbum do Skank, foi um arrasa-quarteirão. Lançado em julho de 1996, atingiu, seis meses depois, a marca de 2 milhões de cópias vendidas. Hoje, nem o número exato Samuel sabe ao certo. A única certeza é de que poucos atingiram tal marca na cena pop rock.
Garota nacional nunca saiu do repertório do Skank. Tampouco os dois outros hits de O samba poconé: É uma partida de futebol (que inaugurou a parceria de Samuel com Nando Reis) e Tão seu (outra da lavra de Chico Amaral). Esta noite, no show da banda do BH Hall, outras canções do mesmo álbum estarão no set list.
TEMPORADA Para comemorar as duas décadas de Poconé, o Skank iniciou uma temporada de shows com o repertório do disco. O primeiro foi na semana passada, no Rio de Janeiro. O segundo é o de hoje, na capital mineira. Na verdade, o repertório é o da turnê anterior, Velocia (2014). O que a banda fez foi incluir um set de seu disco mais famoso. Por ora, estão sendo executadas oito das 11 faixas (estão de fora Sul da América, Los pretos e Um dia qualquer).
Conforme as apresentações forem se seguindo, o repertório será completo. Serão ao menos 15 shows de Poconé. Os dois últimos em 5 e 6 de maio, no carioca Circo Voador. A intenção é gravar os shows para futuro lançamento em CD e DVD.
Antes disso, Poconé volta às lojas nas próximas semanas como álbum triplo. Haroldo Ferretti brinca e diz precisar de terapia, pois é um acumulador. Graças à mania de guardar tudo do baterista, o lançamento contará com algumas pérolas.
O disco 1 vai trazer o álbum original. O 2, com 14 faixas, outras gravações das canções (demos e ensaios). O 3, com 15, é de remixes. Nessa profusão de canções, há o registro inédito de Minas com Bahia, que Daniela Mercury gravou naquele mesmo ano, dividindo os vocais com Samuel.
“Em 1996, a gente já tinha estúdio. Fazíamos as demos e a pré-produção lá. Na verdade, gravávamos um disco praticamente três vezes”, comenta Ferretti, que mantém, “relativamente organizadas”, todas as gravações do Skank. Mano Chao participou de três faixas – Zé Trindade, Los pretos e Sem terra. Várias gravações extras com o músico francês não entraram no disco 2 porque “não houve tempo para que ele as liberasse”, diz.
O relançamento deu um bom trabalho. A Sony Music perdeu os arquivos do material gráfico original. O encarte foi feito com telas grandes presenteadas a amigos da banda. Tudo teve que ser fotografo de novo. A imagem da capa, do artista catalão José Robles, por exemplo, está no restaurante de Levir Culpi, técnico do Fluminense, em Curitiba.
“Poconé foi o disco que mais vendeu na história do Skank, mas, se a gente olhar, o Calango (1994) teve muito mais hits”, analisa Samuel, referindo-se ao álbum que apresentou a banda mineira ao Brasil.
SUL DA BAHIA O grupo estreou em disco em 1992, com o independente Skank. Um ano mais tarde, ele foi relançado pela Sony. “Esse álbum ficou muito regionalizado. Era conhecido em Minas Gerais, no Espírito Santo e no Sul da Bahia. Até Calango, o Skank era uma banda semianônima. Tem gente que o considera nosso primeiro disco”, comenta Samuel.
Quando Calango chegou ao mercado, a banda emplacou seu primeiro hit radiofônico, Te ver. Daí foi quase o disco todo: Pacato cidadão, Jackie Tequila, Amolação. “Tocamos no Brasil inteiro e os shows começaram a lotar.” O álbum chegou a vender 1,2 milhão de cópias.
Com as regalias que uma banda de milhão poderia ter, a gravadora, conta Samuel, deu carta branca para Poconé. “Gravamos em São Paulo (o produtor foi Dudu Marote), mixamos em Nova York e o som do disco ficou absurdo. A gente explicou para o técnico que nas rádios, quando entrava música gringa, o som era sempre mais alto do que o de uma música brasileira. O som ficou turbinado”, acrescenta o vocalista.
Para Samuel, Garota nacional foi como uma “bomba de Napalm” – somente Vou deixar, de 2003, chegou próxima dela em popularidade. Ele garante: nunca se cansou de tocá-la. “Não enche, não. E quando a gente não quer, não toca. Aquele tesãozinho do show é impagável. Cada apresentação que fazemos é numa cidade diferente, com outra plateia. Ela é o nosso Satisfaction”, conclui.
EM FAMÍLIA
O show de hoje será aberto pela banda Daparte. O quinteto, formado no ano passado, tem como integrante Juliano Alvarenga, o primogênito de Samuel, que, como ele, canta e toca guitarra. A banda, que está gravando seu primeiro álbum, traz ainda João Ferreira (voz e guitarra), Túlio Lima (baixo e vocal), Bernardo Cipriano (teclado e vocal) e Daniel Fonseca (bateria). Grupo de rock autoral, o Daparte tem como influências duas grandes referências do Skank: Clube da Esquina e o britpop do Oasis.
SKANK
Hoje, às 22h30. BH Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro, (31) 3209-8989 e 4003-5588. Ingressos/4º lote: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).